segunda-feira, 16 de novembro de 2009

POR QUÊ VISITO MUSEUS OU A FUNÇÃO DA ARTE




Alguém me perguntou por quê visito museus? Por quê perco meu tempo e dinheiro visitando a casa de escritores, museus, indo ao teatro, lendo um livro e etc ...se posso hoje visitar, viajar e ver tudo pela internet?
A resposta foi amadurecendo em mim como uma fruta e o principio da resposta veio com um filme. Eu leio, assisto filmes, vou ao teatro por quê isto aumenta meu conhecimento sobre os outros , sobre outras coisas e sobre mim mesmo. No filme O Escafandro e a Borboleta, baseado numa história real de um editor da revista Elle que sofre um derrame e fica aprisionado dentro de si, conseguindo mover somente um olho e com este olho ele readquire o amor a vida, pelos outros e escreve um livro, sobre sua dor que ele vive e revive e transforma em Arte. Há uma cena ,em que um amigo, e inimigo de trabalho vêm visitá-lo, logo no ínicio do trauma. Este amigo ou inimigo, é também um jornalista, foi seqüestrado no oriente médio, mantido como refém num cubículo por meses e lhe diz que a salvação dele foi a memória e a imaginação. A arte têm a função de aumentar a imaginação do homem e concomitantemente a sua memória. O animal vive na satisfação e no ser, enquanto o homem , na insatisfação e numa estranha mescla do ser e do nada. O que torna mais diferente o homem dos animais é o suicídio. No suicida existe a vontade de não voltar a ter vontade de nada.
A arte é a falsa natureza e se eleva acima da própria natureza pela possibilidade de sua exatidão. A arte é matemática. A natureza se esconde é inexata, misteriosa. Salvador Dali, ao terminar de pintar uma de suas marinas, perguntou a um pescador de Cadaqués, se o quadro parecia com o mar que ele contemplava? O pescador respondeu que sim. Não só parecia , mas era mais bonita a pintura pela possibilidade de na tela poder se contar as ondas do mar. O mar pintado é mais mar que o mar físico contemplado com os olhos. Pelo que não podemos apreender da totalidade da natureza. Os girassóis e os horizontes nunca foram os mesmos depois que Van Gogh os pintou. A Memória e a Imaginação. O conhecer através de, é conhecer o objeto e conhecer-se a si mesmo. É ampliar o conhecer, a memória e a imaginação. Conhecer é se apropriar.
A minha resposta talvez seja a mesma resposta à pergunta: Por quê o teatro resistirá a internet e resistiu ao cinema e a televisão? Pela comunhão do homem no presente com seu semelhante e pela memória única desta comunhão.
Quando eu visito a casa de Freud, Rosa, Lorca, eu presentifico a memória do escritor na minha memória. A persistência da memória. O tempo da memória é a arte de estabelecer vínculos. Eu estar de frente e estar no local onde viveu alguém , cujos valores me são caros, é aumentar o vínculo deste alguém em mim, é reviver e recriar. É como lembrar meu passado e meus antepassados na psicoanálise: Eu me reconheço e me conheço melhor com a ajuda do outro. Talvez, reviver o passado nos locais que ele se passou, desperte em mim vivências e emoções maiores pelas inúmeras possibilidades de associações que dispertem na minha memória.
Eu colocar flores no túmulo de minha avó, traz uma memória dela comigo ímpar, ela faz parte de minha história, de mim , ela é minha memória.
E talvez a memória, a imaginação, certamente a Arte é a forma do homem lutar contra a mortalidade e se fazer imortal. A arte eterniza o homem e sua memória. A arte satisfaz com a ilusão de alimentar a imortalidade humana.Eu vou aos museus, as casas de escritores que admiro, leio, vou ao cinema e ao teatro para me tornar mais humano, a medida que a arte aumenta o meu conhecimento de mim e do mundo. A arte aumenta a minha memória, a minha imaginação e a minha vida.


Arte: Fabricio Matheus

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