sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

SONHOS, AMOR , FESTA E DEVOÇÃO...



Vida!Ah!Minha vida!Olha o quê é que eu fiz? CBHolanda.
Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores, que não sei o nome...ACalcanhoto.

Como você acha que eu estou?
Não sei se a encontrei por acaso, ou se era um encontro de velhos amigos, mas logo depois do abraço e poucas palavras, está foi sua primeira pergunta.
É claro que como não a via há décadas , e o tempo passa , marcando nossos rostos, pensamentos, vidas. Ela não era a mesma menina da escola. Também com a evolução e o progresso , hoje uma mulher de quarenta pode aparentar até metade de sua idade. Ela estava bonita, conservada. Os anos e o tempo foram generosos para com ela.
Por  segundos ,quanto tudo isto me veio a mente, e a olhei profundamente ,para lhe dizer algo positivo, que lhe agradasse e não me fizesse mentir só para este propósito. A verdade foi que só conseguia vê-la como a menina que a conheci durante os anos que passamos juntos no meu passado, na minha infância e na minha escola primária.
E foi isto que lhe disse:
Rosana, você parece a mesma Rosana.
Quando olhei para os lados estavam lá quase todos:- O Alcides Neto, Eduardo, Tárcio , Tulio, Cláudia, Claúdia Regina, Ameriquinho, Arlindo, a Tita... depois os colegas do colegial:- Milton, Jon, Daniela, Dave, Dario, Ana Rita.... Depois os da faculdade: - Tânia, Elsa, Niazi, Marco Nadal, Zé , Beto, Ana Claúdia, Marcelo ...
Não sabia o que estava acontecendo, se era uma festa de confraternização, ou talvez , meu velório para reunir diferentes pessoas. Mas quanto mais eu olhava, mas pessoas apareciam: Meus pais, meus tios, primos, tios amigos, pais de meus amigos.Depois meus amigos do teatro e meus amigos de vida.Meus professores e todos que eu conhecia , vivos e mortos, muito vivos na lembrança.
De repente  lembrei-me  de coisas que não fazia há muito tempo e que estava fazendo, como cirurgias, pinturas, plantões, teatro... Vieram as cobranças de horários. Estava atrasado. Tinha um teste .Fui ficando agoniado, ansioso, com tudo aquilo. Com o que eu via, com o que acontecia e eu não sabia o quê era.
Fui saindo à francesa, por um caminho que me levava a um lago que refletia uma montanha. Quando mirei meu reflexo, vi que parte de minha vida era também constituída dos amigos, do que eu tinha vivido, dos que passaram por mim. Foi quando vi nitidamente no meio de minha imagem, no espelho de água: uma chama. Havia uma neblina tênue que quase dividia a montanha ao meio e reproduzia em quatro o que era dois, quando se olhava através da água.
Tudo se multiplicava no espelho da natureza e minha chama através dele parecia infinita.Atrás de mim , ao longe, a festa continuava com música e o som das conversas e do cotidiano da vida.
Agora, onde estava , parecia que já o tinha estado há milênios.Tudo familiar. Silencioso. Restava-me romper o silêncio. Numa profunda respiração , eu mergulhei no lago e descobri que sonhava...

Fotos:Fabricio Matheus

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

CORPO E MOVIMENTO



Um corpo que é um traço
As pálpebras claras
Dança no infinito espaço
Movimentos
Que se espalham no céu azul
Como estrelas e constelações...

Fotos:Fabricio Matheus


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

ENTÃO É NATAL...



Então é natal, férias , viagens, alegria , presentes, novos pensamentos para o novo ano, esqueçamos o que passou e tudo vai melhorar.
Adoro São Paulo, mas procuro fazer cada vez mais coisas que me estressem menos. Para evitar o trânsito , atrasos, as vezes me dou o luxo de ir caminhando, de metro ou taxi. Procuro escolher lugares que não tenham fila , como cinemas sem filas no estacionamento, ou mesmo cinemas sem filas e outras coisas mais. È claro que sei que não posso controlar tudo , mas este pouco que faço já melhora muito meu nível de vida e me evita muitos estresses.
Assim sendo, procurei marcar minha viagem para sábado, para que não houvesse problemas. Eles houveram, mas definitivamente não me tiraram do controle.
Assim como eu não consigo controlar tudo em minha vida. O homem é mero instrumento e submisso a natureza.Não imaginariam que faria tamanho frio no hemisfério norte, com nevascas, como acontece no momento no continente europeu.
Paises que não se nevava há décadas, como a Irlanda ficou a mercê da crise econômica e das intempérides da natureza.Aeroportos fecham constantemente nas capitais européias pela neve e condições climáticas, atrasando os vôos e causando imprevistos não esperados nas tão sonhadas férias.
A neve apesar de bela na paisagem, provocou nestas duas últimas semanas , um aumento ascendente assustador nos níveis de fraturas nos países do velho mundo, lotando os ambulatórios e hospitais de ortopedia.
Cheguei no aeroporto de Guarulhos às 16:45 horas , meu vôo estava previsto para 21:30. Sabia previamente de alguns vôos cancelados, principalmente no meu primeiro destino que seria Amsterdam.Fazia alguns anos que meus check-in não duravam mais que 30 minutos. Ao chegar ao aeroporto, além da lotação normal de final de ano, vi que a fila da KLM estava maior que o normal.
Resumindo a história nos dois dias anteriores a KLM não vôo Amsterdan, sendo transferidos os passageiros para outros vôos da KLM ou outras companhias. No sábado, no grande screen de plasma do aeroporto anunciava que o Heathrow, aeroporto de Londres estava fechado. Os vôos da British Airlines foram cancelados. A manchete do jornal informava que até sexta-feira três mil pessoas dormiram no aeroporto de Amsterdam. A fila para o meu check-in demorou cerca de cinco horas, tempo bastante para se fazer amizade com o pessoal da fila. Alguns com seus novos i-pads informavam as condições das conexões no Schiphol, aeroporto de Amsterdam. Uns holandeses espertinhos tentaram furar a fila e quase foram linchados. Alguns mais desesperados, que já tinham os vôos cancelados previamente e novamente remarcados, choravam e eram acalmados pelos funcionários da companhia, que antes de qualquer informação ofereciam , trezentos euros , estadia em hotel e transportes , caso você remarcasse seu vôo para o dia seguinte. Com a fusão Air France –KLM , haviam somente quatro funcionários fazendo os check-in e despachando bagagens. Como o vôo Air –France São Paulo –Paris estava adiantado, em determinado momento, eles tiveram que priorizar o atendimento Air-france para finalizar o vôo, o que atrasou ainda mais a fila KLM que permanecia longa e a passos inertes e nos passageiros e humanos, trocando nossas histórias e informações, falando nos celulares e informando parentes e amigos do nosso drama.
Durante o tempo que fiquei na fila do check-in o aeroporto estava cada vez mais cheio, lotado. Meu vôo atrasou três horas, o que não foi um grande problema.
Pela demora a companhia me ofereceu um jantar no Viena, mas fui para a Sala Vip da Amex que estava pior que qualquer saguão de rodoviária, tudo lotado.Estava quase impossível de se andar pelo aeroporto , assim decidi passar pelo controle de passaportes para evitar aborrecimentos.
O minúsculo Duty-free do aeroporto da maior metrópole da América do Sul mal comportava um terço dos transeuntes. Não havia lugares suficientes em frente aos portões de embarque.As histórias novamente trocadas na longa fila de embarque : - não forma todos que ganharam jantar, muito reclamavam de fome, relatavam inúmeros passageiros que não conseguiram embarcar e mais e mais histórias.
O vôo foi tranqüilo, o comandante com a “politesse” de se desculpar pelo atraso a cada anúncio. Um pouco de turbulência sobre as ilhas Canárias e da Madeira e pouquíssimo atraso depois da aterrissagem no aeroporto pois os portões de desembarguem estavam todos ocupados. Pela janela oval da aeronave pude notar a infra-estrutura do Schiphol, comboios de tratores , pude contar cerca de 25 , trabalhavam para retirar a neve. Outros tantos espalhavam sal pelas pistas.
No desembarque a notável diferença de tamanho, por mais lotado que estivesse o aeroporto, o espaço físico é muito maior que o aeroporto de Guarulhos. Alguns vôos para o Reino Unido e Escócia cancelados. Depois anunciaram o fechamento dos aeroportos de Paris e Bruxelas. Pelos corredores inúmeras camas, como um acampamento. Filas habituais, espaços livres.
Minha conexão saiu sem atraso. No aeroporto Kastrup de Copenhagen , a eficiência e precisão escandinava. Comboios retirando a neve das pistas, outros espalhando sal. Antes de descer das aeronaves , já se ouvia o retirar das bagagens.Sem atrasos para retirar as mesmas , pouca reclamações de perda ou extravio.
Espaço físico amplo. Os aeroportos por mais que estivessem lotados, não o pareciam. Tanto na Holanda quanto na Dinamarca, pude notar um pouco de stress nos funcionários que é normal neste período, e se acentuou pelo mal tempo, mal previsto e que a muitos surpreendeu, mas que a infra-estrutura local se ocupava de resolver quando o problema não ultrapassava o limite . Especialmente na Dinamarca, que em tempos normais, o aeroporto é quase um deserto de tanta precisão e espaço e como diria Hamlet: O resto é silêncio...
Apesar das quatro horas de atraso, cheguei ao meu destino são e salvo, sem grandes problemas que alterassem o meu humor. Alguns diriam que tive sorte. Se a tive , o que espero agora , além de desfrutar minhas férias e festas na neve que cobre a paisagem de branco num belo espetáculo aos olhos; E que nosso país se valha de mais sorte , pois certamente vai precisar de muita , para correr atrás de espaço e infra-estrutura para atender a demanda futura dos aeroportos, como exemplo Guarulhos, que não comporta mais carros no seu estacionamento, e outros problemas como: - locais para desembarque , atrasos e extravios de bagagem, recepção na alfândega e passaportes... As olimpíadas estão por vir. A Copa do Mundo já está confirmada e o estádio inaugural ainda se encontra na maquete. Por sorte, nossa neve durante o natal ainda é de algodão, este problema não teremos, podemos ter sim :-muito calor e falta de água entre outras coisas... mas se a natureza nos ajudar, faremos um belo espetáculo.
Torço com fé e esperança, que me são intrínsecas, talvez por ser brasileiro, para que a Dilma faça um excelente governo. Sem querer ser submisso, ou desprezar nossa economia estável e outras conquistas durante o governo Lula. Por vezes ,nossos contrastes, no âmbito político e social, em relação ao continente europeu ainda me assusta. Em nenhum dos aeroportos dos países que passei, apareceu nos anúncios, ou aparecerá algum político dizendo: -Relaxe e goze. Isto é respeito e educação para com o povo que os elegeram , isto é cidadania:- o mínimo que se espera de um Estado de Direito, desde a Grécia antiga.
Não estou na Lapônia , terra do papai Noel, mas quase...Olhando pela janela,além do anjo dourado pendurado; surpreendo-me, e não posso negar a beleza dos flocos de neve caindo lentos na branca paisagem. Corro para sacada como uma criança, sem pensar mais em nada, instintivamente, apesar da temperatura abaixo de zero, tento reter alguns destes delicados cristais de água sólida na palma da mão. E tudo parece um cartão de Natal, tudo para mim já é Natal...

Fotos:Fabricio Matheus

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

RABINDRANATH TAGORE III



Um louco errava, à toa , procurando a pedra filosofal. Ia excitado, coberto de poeira, os cabelos desfeitos, o corpo reduzido a uma sombra , os lábios tão cerrados quanto a porta fechada do seu coração, e os olhos ardentes como a luz do pirilampo que procura a sua companheira.
À sua frente rugia o oceano imenso.
As ondas tagarelas contavam os tesouros escondidos no seu seio e zombavam do ignorante que não sabia compreendê-las.
E ele ia—o louco – sem esperança nem sossego, continuando a pesquisa que se tornara a sua razão de ser.
Semelhante ao Oceano que se atira sempre contra o céu para atingir o inatingível:
Semelhante as estrelas que giram aspirando a um alvo que não alcançam nunca;
Assim, na praia deserta, o louco de grenhas ruivas de pó , ia à toa procurando a pedra filosofal.
Um dia , um garoto da aldeia chegou-se a ele e disse: “Como achaste essa cadeia de ouro que te cinge a cintura?”
O louco estremeceu: a cadeia, que era antigamente de ferro, tinha-se transformado em ouro! Não era sonho; mas como se teria dado essa transformação?
Brutalmente, bateu na testa: onde , mas onde teria sido que ele, sem saber, havia realizado o seu sonho?
Ele adquirira o hábito de provar as pedras que colhia , batendo-as contra a sua cadeia, e de rejeitá-las logo, maquinalmente, sem notar se qualquer mudança se teria operado. Foi assim que o pobre louco encontrou e perdeu a pedra filosofal.
O sol desaparecia. No ocidente, o céu era todo de ouro.
Aniquilado, quebrado de corpo e de espírito , semelhante a uma árvore desarraigada, o louco partiu de novo à procura do tesouro perdido.

Fotos:Fabricio Matheus