quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

RABINDRANATH TAGORE III



Um louco errava, à toa , procurando a pedra filosofal. Ia excitado, coberto de poeira, os cabelos desfeitos, o corpo reduzido a uma sombra , os lábios tão cerrados quanto a porta fechada do seu coração, e os olhos ardentes como a luz do pirilampo que procura a sua companheira.
À sua frente rugia o oceano imenso.
As ondas tagarelas contavam os tesouros escondidos no seu seio e zombavam do ignorante que não sabia compreendê-las.
E ele ia—o louco – sem esperança nem sossego, continuando a pesquisa que se tornara a sua razão de ser.
Semelhante ao Oceano que se atira sempre contra o céu para atingir o inatingível:
Semelhante as estrelas que giram aspirando a um alvo que não alcançam nunca;
Assim, na praia deserta, o louco de grenhas ruivas de pó , ia à toa procurando a pedra filosofal.
Um dia , um garoto da aldeia chegou-se a ele e disse: “Como achaste essa cadeia de ouro que te cinge a cintura?”
O louco estremeceu: a cadeia, que era antigamente de ferro, tinha-se transformado em ouro! Não era sonho; mas como se teria dado essa transformação?
Brutalmente, bateu na testa: onde , mas onde teria sido que ele, sem saber, havia realizado o seu sonho?
Ele adquirira o hábito de provar as pedras que colhia , batendo-as contra a sua cadeia, e de rejeitá-las logo, maquinalmente, sem notar se qualquer mudança se teria operado. Foi assim que o pobre louco encontrou e perdeu a pedra filosofal.
O sol desaparecia. No ocidente, o céu era todo de ouro.
Aniquilado, quebrado de corpo e de espírito , semelhante a uma árvore desarraigada, o louco partiu de novo à procura do tesouro perdido.

Fotos:Fabricio Matheus

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