sábado, 7 de maio de 2011

O QUE O BRASIL QUER SER QUANDO CRESCER? Por Gustavo Ioschpe



Você sabe qual o plano estratégico do Brasil? Quais são as nossas metas, aonde queremos chegar? Que tipo de país queremos ser no futuro? Eu confesso não saber. Os slogans e prioridades dos últimos governos não apontam para um programa positivo, sobre nossos anseios e planos, mas sim para uma agenda negativa: sabemos aquilo que não queremos ser. Não queremos ser um país excludente, mas sim “um país de todos”. Queremos a perserverança – “sou brasileiro e não desisto nunca” -- , apesar de não estar claro qual o objetivo da persistência . Dilma agora fala na “erradicação da miséria” como seu grande objetivo. Ainda que nobre , tampouco aponta um rumo, apenas indica o que não queremos ser. Há inúmeras maneiras de ser um país de todos e em que não há miséria.
Uma das áreas que mais sofrem com essa indecisão é a educação. Nos países em que os ocorreram saltos educacionais, os mesmos, foram acompanhados de saltos no desenvolvimento, a modelagem do sistema educacional estava profundamente atrelada ao projeto estratégico da nação.
A visão de futuro destas nações, cuja área educacional é o elemento primeiro e fundamental a nortear as ações dos governantes e lideranças da sociedade civil. Assim como a infraestrutura, a tributação , as relações exteriores e muitas das demais áreas que são responsabilidade de governantes, a educação não funciona autonomamente: ela subordina a um projeto de país.
O objetivo educacional está atrelado ao objetivo econômico-estratégico . A educação priorizada é determinada pelo caminho escolhido pelo país para atingir seu objetivo de crescimento.
No Brasil, que tem um dos piores sistemas educacionais do mundo, as coisas são ao contrário. Não temos um projeto de país e a educação é desconectada do país.Não é percebida como uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento, mas como um fim em si mesmo, como um direito do cidadão e ponto.
Quando os educadores se referem à sociedade, o objetivo mais freqüente não é perscrutar-lhe os anseios, mas reclamar. Não fossem os malditos pais dos alunos entre outros pensamentos.
O pensamento educacional brasileiro é tão original e autóctone. Somos o pior tipo de colonizados: formalmente livres , mas intelectualmente amarrados às antigas metrópoles , incapazes de caminhar sozinhos. Nossa teoria educacional é importada de outros países, porque o que dá gabarito é estar inserido na discussão de temas candentes na Europa ou nos EUA , mesmo que seja a respeito de problemas deles , que não têm nada a ver com os nossos.
A sociedade civil precisa recuperar nossa educação e subordiná-la aos interesses nacionais. Precisamos criar uma geração de pensadores que pense no que funcionará para alfabetizar as crianças nas periferias . E precisamos de um projeto de país – criado aqui, tendo em mente nossa cultura, recurso e instituições – que oriente e canalize todo esse esforço. Enquanto esse projeto não chega, nossa escola deve se mobilizar para construir o primeiro passo, comum a qualquer projeto de futuro: toda criança plenamente alfabetizada ao fim da 2° série.

OBS: A educação é o bem maior de um país , sou leitor incondicional de Gustavo Ioschpe, um dos atuais pensadores da educação no país. O artigo acima é resumo do publicado na Veja edição 2216 de 11 maio de 2011.
2°Foto:Fabricio Matheus

CURSO DE FOTOGRAFIA


“Fotografia é o retrato de um côncavo,de uma falta,de uma ausência”Clarisse Lispector

Por influência deste Blog, comecei com minha cyber- shot da Sony a procurar imagens para ilustrar os posts.
Para minha surpresa, alguns amigos, começaram a perguntar onde tinha feito curso de fotografia. O que me obrigou a apurar minha capacidade fotográfica de amador.
Como gosto de aprender e estou constantemente inventando algo para acrescentar e incrementar minha rotina, resolvi procurar um curso de fotografia.
Fiz um básico rápido na Full Frame de uma semana e ainda não tinha uma câmera SRL, peguei emprestado de um amigo para as aulas práticas e todas as definições naquela semana pareciam algo de outro mundo, sem conexões reais.
Finalmente decidi pela CanonEOS 5D Mark II, que é uma câmera profissional , quase um computador e que inicialmente só conseguia tirar algumas fotografia com o automático. È um computador de possibilidades e até demais para este tão distante das altas tecnologias. Mas enfim , resolvi enfrentar a fera e matriculei-me num curso de Fotografia Profissional na Escola Pan Americana de Artes.
Todo o ínicio de um processo cognitivo é como aprender a caminhar. Sua mente apreende um outro tipo de pensamento, um outro olhar, outra percepção.
No começo, mesmo lendo o manual e ainda até hoje, parece tudo um pouco ainda distante de mim, mas já começo a vislumbrar uma luz no fim do túnel.
Muitas vezes sinto uma falta da minha pequena cyber- shot. E agora tenho que lidar com diferentes objetivas, diferentes distâncias focais. Conceitos de sensibilidade, velocidade de abertura ou obturador, diafragma. Como equacionar estes conceitos , números, matemática e física para obter a luz ideal, o desenho da luz.
Somado à técnica , como adicionar os conceitos de composição fotográfica: movimento, equilíbrio, ritmo, diversidade, diálogo, diagonal, perspectiva, razão áurea , controle da luz e momento decisivo.
Minha cabeça ferve , meu cérebro máquina e tenta aos poucos pensar fotograficamente.
Outro dia fui a Santos, levei minha máquina e as objetivas. E quase uma mala sem falar do tripé. Meu amigo estava com sua nova compacta da Canon e fotografando no automático. Com minha super carabina fotográfica ao pescoço e as objetivas às costas , parecia o Mário Testino . Minha cabeça tentava equacionar os todos os conceitos apreendidos até o momento.No final, não preciso nem contar: meu amigo fez umas fotos excelentes em cores, luzes e composições, sendo que eu não tirei sequer uma foto legal. Foi frustrante, o que me salvou desta desilusão inicial brutal, foi que na semana seguinte no curso tive fotometria e “White Balance”/Balanço de Brancos. Claro! foi o que faltou para que minhas fotos ficassem genuínas.
Outra desilusão foi com o peso das fotos, não consegui postar quase nenhuma ainda no Blog, tive de abrir um flickr para que elas aconteçam no mundo virtual e a aprender a diminuir a resolução e o peso das mesmas.
Passo os dias pensando nas luzes e sombras.Nos pesos das mesmas. Sim , além de luz média, clara e escura.Temos luz dura, suave, difusa, penumbras tênues, “flare” e outras denominações que me fazem perder o sono, ou sonhar iluminado com as diferentes e inúmeras possibilidades destas novas luzes, granulados, pontilhados e etc...
Às vezes acordo de madrugada para tentar captar a primeira luz da aurora. Outras, fico a espera do pôr –do-sol para roubar do horizonte as luzes do final do dia e do princípio do anoitecer. À noite, na sacada do meu apartamento, armo o tripé e vou diminuindo o obturador da máquina e captando mais e mais luz... Procuro enxergar as sombras e os desenhos das sombras no chão, paredes... no espaço. Olho as pessoas e procuro algo diferente para que possa registrar e eternizar o instante daquele olhar e daquele momento para sempre na minha superfície sensível e na minha memória.
Trabalhar a luz é esperar o momento certo, estar atento para não o perdê-lo, estar pronto.
Tenho ainda somente a postura e o savoir –faire do fotógrafo profissional. Em meus passeios pelos parques, com minha câmera profissional, algumas pessoas já me param e me perguntam como se eu fosse profissional . E eu lhes respondo como já o sendo.
Na minha infância, meu pai teve uma fase de fotógrafo, adquiriu uma máquina profissional Olympus , objetivas,filtros , tripé. Minha irmã, minha mãe e eu éramos seus modelos. Às vezes, nas viagens , parava à beira da estrada para fotografar uma igreja ou um horizonte. Neste período; eu mesmo , fiz-me fotógrafo, transformei meu quarto num estúdio, as luzes eram os abat-jours e fotografei minha irmã e a Joana, que trabalhava em casa, além de alguns primos... Resgatei os livros de meu pai, que mesmo sendo para câmeras mecânicas, a teoria é a mesma para as digitais.
Estou apenas começando, e já consigo equacionar alguns conceitos que há alguns meses pareciam nunca existir no universo. Estou fazendo paralelamente o curso de História da Arte. E aos poucos ,fico cada dia mais íntimo da minha câmera e das minha objetivas. Mais atento as luzes e sombras, as diagonais e perspectivas e de uma forma geral ao mundo a minha volta. Surpreendo-me com a sombra da porta da entrada do meu prédio desenhada pela luz dura do meio-dia, com o transluzimento do sol através da flor de um antúrio, ou de uma lágrima na face de um desconhecido que passa por mim...
Fico desiludido quando revelo os exercícios, e os tons escuros saem mais claros e vice-versa. Mas espero que aos poucos o novo conhecimento e aprendizado se solidifique e torne-se automático como qualquer outro saber apreendido.
Estou distante das imagens da minha antiga cyber, surpreendo-me raramente com uma foto legal.Enquanto isso , leio revistas e livros sobre o assunto, como o ótimo “Cartas a um jovem fotógrafo” do Bob Wolfenson, ou “O olhar do século” de Pierre Assouline sobre Henry Cartier- Bresson e de fotógrafos que admiro como Doisneau, Avedon e de George Platt Lynes, fotográfo americano que soube como ninguém trabalhar a luz.
Visito exposições como a de Otto Stupakoff e Thomas Farkas no Instituto Moreira Salles, Andreas Feininger no Lasar Segall,Rottchenko na Pinacoteca,  Geração 00 no Sesc Belenzinho e ponho me a fotografar tudo e a olhar o mundo com a moldura ocular do visor.

Fotos :George Platt Lynes

JOSÉ RENATO (1926-2011)



Na madrugada do dia 2 de maio de 2011, aos 85 anos, logo após se apresentar no Teatro Imprensa no espetáculo Doze Homens e uma Sentença, direção de Eduardo Tolentino e ao embarcar para o Rio à trabalho, vítima de um infarto, faleceu o diretor, dramaturgo e ator José Renato, cuja vida e dedicação ao ofício e as artes cênicas, sua grande paixão, o acompanhou até seu último suspiro.
Não conheci pessoalmente José Renato, mas cruzei com ele várias vezes e até nos falamos em algumas oportunidades como na comemoração dos 10 anos do Galpão Folias. Ou nas platéias, onde o encontrava constantemente e assistimos juntos recentemente “Os Credores” de Strindberg , dirigido pelo Tolentino.
A importância de José Renato na história do Teatro Brasileiro é indiscutível. Foi o fundador e idealizador do Teatro de Arena de São Paulo, diretor responsável pela montagem de Eles Não Usam Black-Tie, considerado marco do teatro dos anos cinquenta, em uma das correntes do nacionalismo no teatro brasileiro.
Por sua mão passaram grandes atores e montagens históricas como Rasga Coração de Vianninha com Raul Cortez . A primeira direção de José Renato que assisti foi “O Aroma do Tempo” de Ernevaz Fregni em 2006 no teatro dos Arcos , musical sobre Artur de Azevedo. Depois assisti a remontagem de Chapetuba Futebol Clube também de Oduvaldo Vianna Filho, em 2009, no local do Arena, hoje Teatro Experimental Eugênio Kusnet.
Assisti a sua volta ao palco como ator depois de décadas no final de 2010 no CCBB no elenco da peça Doze Homens e Uma Sentença de Reginald Rose e dirigido pelo Tolentino. O sucesso da peça, atualmente em cartaz no Teatro Imprensa,e na qual José Renato trabalhou até o último dia de sua longa vida.
No último dia , José Renato errou uma de suas falas, o texto original era: “...mas o velho talvez precisasse de um pouco mais de atenção...” , porém ele disse: “... mas o velho talvez precisasse de um pouco mais de tempo”.
Por coincidências, tenho um grande amigo e colega no elenco de Doze homens e uma sentença, o Adriano Bett, que sempre me contava as histórias do José Renato, como sua capacidade de memorização das falas dos personagens , entre outras... o quê era uma forma de convívio indireto com este grande homem, marco do teatro brasileiro, que fez de sua paixão pelo palco , ato de sua vida e exemplo para muitos ... Desses artistas cuja paixão pelo palco é mais importante que a própria vida.

SÍNDROME DE DOWN


"O conhecimento é o único verdadeiro gênio da humanidade"

« Não é a medicina que se deve temer, mas a loucura dos homens. Nosso poder de modificar a natureza utilizando as suas leis, aumenta cada dia por meio da experiência daqueles que nos precederam. Mas utilizar este poder com sensatez, eis o que cada geração deve também aprender . Certamente, hoje somos mais poderosos do que outrora, porém menos sensatos : a tecnologia é cumulativa, a sabedoria não é. »

« É preciso dizer as coisas com clareza, mede-se a qualidade duma civilização pelo respeito que ela tem pelos seus membros mais frágeis. Não há outros critérios de julgamento. »Jérôme Lejeune


Vou ser titio. Minhã irmã está grávida e chegará em novembro o novo rebento. Meus pais não se contêm de tanta felicidade. É a divina comédia humana da reprodução e da continuação da vida, como uma força abstrata da continuação e da impotência de nós mortais.
Antes de nascer , já são feitas projeções e desejos no novo ser que virá. Qual o nome? Qual o sexo? O que vai ser? São momentos quase banais , mas de uma felicidade imensurável.
O fato é que sou médico, fiz minha formação em ginecologia e obstetrícia e especializei-me em medicina fetal. Assim, minha irmã que já têm 40 anos, têm um risco aumentado para alterações genéticas e entre elas a Síndrome de Down.
A prevenção começa no pré-natal. Os riscos são maiores com a idade materna, fatores familiares e ambientais. A ultra-sonografia no primeiro trimestre da gestação com a mensuração da Translucência nucal, osso nasal e outros marcadores inclusive sanguíneos podem sugerir uma diminuição do risco, quando normais. Mais o único diagnóstico de certeza é o cariótipo, ou seja , o estudo genético que se faz com coleta do líquido amniótico ou biopsia do vilo corial(pedaço da placenta), que por sua vez, têm seus riscos, entre eles , o aborto.
Minha irmã fará o cariótipo. Se o resultado for negativo, será um alívio e ela poderá curtir a gestação na sua plenitude, apesar de outros riscos ainda inerentes. É sua primeira gestação.
Na sua idade, a possibilidade de nova gravidez com menos risco torna-se cada vez mais difícil, não impossível. Assim, saber-se o primeiro filho será saudável é um alívio para o que virá.
Por outro lado , há outras questões. Se o exame vier alterado , o quê fazer?No Brasil , o aborto só é permitido no caso de estupro e de risco de vida materna. O diagnóstico de Síndrome de Down não é indicativo para se realizar um aborto. Outra discussão no âmago da medicina fetal , ou seja , do ponto de vista moral e ético, é se com os diagnósticos prévios não estaríamos gerando uma raça perfeita, entre outras questões religiosas.
O diagnóstico prévio, permite fazer-se um preparo psicológico para o que virá. O que é também discutível, visto que , passar nove meses , sabendo-se de um diagnóstico prévio, seja ele qual for não é fácil.
Enfim, como tudo na vida é incerteza, vivemos o momento e curtimos com felicidade plena a chegada de mais um serzinho na família.
A síndrome de Down, ou trissomia do cromossomo 21 é um distúrbio genético causado pela presença de um cromossomo 21 extra.Descrita pela primeira vez em 1862 pelo médico britânico John Langdon Down(1828-1896).
Sua causa genética foi descoberta em 1958 por Jérôme Lejeune(1926-1994), médico pediatra, geneticista e professor francês,que mostrou uma cópia extra do cromossomo 21 e descreveu outra síndrome genética em 1963, a Síndrome de Lejeune, ou Cri-du Chat ou do miado do gato, entre inúmeros e pioneiros trabalhos de medicina fetal e de anomalias cromossômicas no câncer.
O médico francês morreu em decorrência de um câncer. Reverenciado inclusive pelo papa João Paulo II, encontra-se em andamento em seu país um processo de beatificação. A Fundação Jérôme Lejeune, inaugurada após sua morte, dá continuidade à sua ação em favor dos deficientes mentais.
A síndrome de Down , pela semelhança com a expressão facial com indivíduos oriundos da mongólia, ficou pejorativamente e até ofensivamente conhecida como mongol ou mongolismo, cujo termo foi referido pela primeira vez em 1961, pelo editor do The Lancet, sendo o termo hoje já banido e em desuso no meio científico.
A síndrome de Down é caracterizada por uma combinação de diferenças maiores e menores na estrutura corporal, geralmente associada a algumas dificuldades cognitivas e desenvolvimento físico, assim como de aparência facial. É a ocorrência genética mais comum, estimada em 1 a cada 800 ou 1000 nascimentos.
A síndrome de Down é um evento genético natural e universal, estando presente em todas as raças e classes sociais.
Devido aos avanços da medicina, que hoje trata os problemas médicos associados à síndrome com relativa facilidade, a expectativa de vida das pessoas com síndrome de Down vem aumentando incrivelmente nos últimos anos.Pessoas com síndrome de Down têm apresentado avanços impressionantes e rompido muitas barreiras. Em todo o mundo, há pessoas com síndrome de Down estudando, trabalhando, vivendo sozinhas, se casando e chegando à universidade.
As diferenças devem ser vistas como ponto de partida e não de chegada na educação, para desenvolver estratégias e processos cognitivos adequados.
Em 2006, foi instituído o dia 21 de março como o dia internacional da Síndrome de Down, em homenagem a trissomia do 21, assim dia 21 do mês 03.

ADOÇÃO- Aspectos Relevantes


Para Alba e Maria Luiza

“A melhor maneira de tornar as crianças boas, é torná-las felizes.”Oscar Wilde

Recentemente fomos surpreendidos pela feliz noticia de que minha prima , quase irmã, adotou uma criança. Ela é linda e têm o mesmo nome da minha irmã e de sua avó e bisavó.
A criança têm um ano e meio , e é impressionante como em uma semana, com o amor e a nova família ela se desenvolveu. Quando a conheci pela primeira vez , emitia poucos sons e ainda se encontrava recuada e tímida.
Em uma semana, em companhia dos novos primos; já tinha um extenso vocabulário sonoro e os olhos de uma outra felicidade que não se define , se enxerga e se cala.
Minha prima apreende a cada dia que ser mãe não é fácil, principalmente sozinha e numa grande cidade. Mas também desfruta do segredo e da delicia de ser mãe e ver sua cria crescer e sorrir.
A família inteira apoia seu ato nobre e corajoso ,e também se encanta com o mais novo membro e torce com amor para que a criança encontre o seu caminho futuro.
Descrevo abaixo os aspectos relevantes da Nova Lei de Adoção:
A adoção no Brasil foi reformulada pela nova Lei de Adoção (Lei n.º 12.010/2.009), sancionada em 03 de agosto de 2.009, publicada no Diário Oficial da União em 04 de agosto de 2.009.
- Foi criado o Cadastro Nacional de Adoção, o qual reúne os dados das pessoas que querem adotar e das crianças e adolescentes aptos para a adoção, de modo a impedir a “adoção direta” (em que o interessado já comparece no Juizado da Infância e Juventude com a pessoa que quer adotar); também estabelece uma preparação psicológica, de modo a esclarecer sobre o significado de uma adoção e promover a adoção de pessoas que não são normalmente preferidas (mais velhas, com problemas de saúde, indígenas, negras, pardas, e amarelas)
- Traz o conceito de família extensa (ou ampliada), pelo qual se deve esgotar as tentativas de a criança ou adolescente ser adotado por parentes próximos com os quais o mesmo convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. Assim, por exemplo, tios, primos, e cunhados têm prioridade na adoção (não podem adotar os ascendentes e os irmão do adotando).
- A família substituta é aquela que acolhe uma criança ou adolescente desprovido de família natural (de laços de sangue), de modo que faça parte da mesma.
- Estabelece a idade mínima de 18 (dezoito) anos para adotar, independente do estado civil (casado, solteiro, viúvo, etc). Contudo, em se tratando de adoção conjunta (por casal) é necessário que ambos sejam casados ou mantenham união estável.
- A adoção dependerá de concordância, em audiência, do adotado se este possuir mais de 12 (doze) anos.
- Irmãos não mais poderão ser separados, devem ser adotados pela mesma família.
- A adoção conjunta por união homoafetiva (entre pessoas do mesmo sexo) era vedada pela lei. Não obstante, o Poder Judiciário já se decidiu em contrário, em caso de união homoafetiva estável.
- A gestante que queira entregar seu filho (nascituro) à adoção terá assistência psicológica e jurídica do Estado, devendo ser encaminhada à Justiça da Infância e Juventude.
- A lei estabelece também como medida protetiva a figura do acolhimento familiar, a qual a criança ou o adolescente é encaminhado para os cuidados de uma família acolhedora, que cuidará daquele de forma provisória.
- A lei ainda determina que crianças e adolescentes que vivam em abrigos (espécies de acolhimento institucional) terão sua situação reavaliada de 06 (seis) em 06 (seis) meses, tendo como prazo de permanência máxima no abrigo de 02 (dois) anos, salvo exceções.
- Em se tratando de adoção internacional (aquela na qual a pessoa ou casal adotante é residente ou domiciliado fora do Brasil), esta somente ocorrerá se não houver, em primeiro lugar, alguém da chamada família extensa habilitado para adotar, ou, em segundo, foram esgotadas as possibilidades de colocação em família substituta brasileira (se adequado no caso sob análise a adoção por esta). Por fim, os brasileiros que vivem no exterior ainda têm preferência aos estrangeiros.
Adotar mais que um ato de coragem é um ato de amor.

Foto:Fabricio Matheus

UNIÃO ESTÁVEL GAY


"A primeira igualdade, é a justiça."Victor Hugo


No dia 06 de maio de 2011 , o Brasil amanheceu mais humano. Avançou nas conquistas dos direitos humanos e nas liberdades individuais. Em um julgamento histórico, STF decide unânimamente , que casais homossexuais também formam uma família , com iguais direitos e deveres.
Os grupos gays mais uma vez vitoriosos. Vitoriosos no combate à AIDS, no combate a homofobia e a violência. Pela democracia vão pouco a pouco mudando o pensamento arcaico num novo mundo progressista de igualdade perante a lei.Não é pouco no Brasil.
A campanha presidencial que culminou na eleição da presidenta Dilma Roussef, teve seu final pautado num discurso obscurantista e medieval, sobre o aborto e os direitos dos homossexuais, com aliança política entre os extremos direitistas de segmentos religiosos.
Violência nas áreas nobres da cidade de São Paulo ( que hoje têm a maior parada Gay do mundo , e que rende a cidade quase o mesmo que a Formula I em ganhos reais com o turismo) ;e onde homossexuais ainda são espancados por gangues , foram manchetes nos últimos meses.
Ao reconhecer como legal a união estável entre pessoas do mesmo sexo, o STF estendeu a esses casais os direitos dos heterossexuais –partilha de bens e herança, pensão, declaração conjunta de IR e etc... Entre outras igualdades de direito e deveres, está o de constituir uma família, mais uma vez contra a discriminação e a favor de uma sociedade mais justa e tolerante, capaz de lidar de maneira civilizada com suas diferenças e a multiplicidade da vida , como deve ser num estado laico e democrático.
O Supremo Tribunal Federal(STF), ocupou o espaço e se fez contundente na nação ao aprovar a união estável entre casais de mesmo sexo. O mesmo projeto no Congresso Legislativo iberna há anos e dificilmente seria aprovado pela falta de apoio do governo e dividido por visões religiosas diversas. Os mesmos que sem perder nada, foram derrotados pela ameaça que sentem da sexualidade alheia(ou antes a sua própria), os conservadores em geral e os homofóbicos.
Mesmo com críticas da CNBB , cujo principal defesa se baseia na de que “a Família não se constituí ou nasce por voto ou da opinião de um grupo majoritário. É algo de direito natural, está inscrito na própria condição humana.”, segundo afirmou d.Orani João Tempesta, arcebispo do Rio, que se esquece de que o sexo e o amor também o são condições próprias e inerentes ao humano.
Os juristas, como Ives Gandra, ex –professor titular de Direito Constitucional do Mackenzie e Lenio Streck , procurador da justiça do Rio Grande do Sul , criticam principalmente o “ativismo judicial do Supremo ”, para eles esta discussão cabe ao legislativo, ao Congresso.
Em resumo, as principais decisões estabelecidas pelo STF, e os direitos adquiridos pelos casais de mesmo sexo são :
- Receber pensão alimentícia e ter acesso à herança no caso de morte do companheiro.
-Poder incluir o companheiro no plano de saúde e colocá-lo no Imposto de Renda.
-Ter todos os direitos familiares, como adotar filhos e registrá-los em seus nomes.
Após a decisão do STF, o direito dos gays se torna intocável e considerado inconstitucional , qualquer lei que por ventura seja aprovada para impedir os mesmos.
O Brasil contemporâneo, mais humano e justo avança com a omissão do Congresso , pelas mãos do STF.
Somos seres mortais e temos um período relativamente curto no planeta , mesmo com os avanços da medicina. O que são 100 anos na história da humanidade.Os avanços humanos persistem e moldam o pensamento da sociedade.
Se dois homens ou duas mulheres se amam e constroem uma vida e um patrimônio juntos, por que não ter direitos?

Fontes:O estado de São Paulo e Folha de São Paulo dos dias 06 e 07 de maio e principalmente os artigos de Fernando de Barros e Silva e Eliane Cantanhêde.