quarta-feira, 30 de setembro de 2009

PER KIRKEBY e as ARTES nórdicas






Artista nascido em 1938 é um dos mais internacionais e aclamado pintor dinamarquês da atualidade.
Com formação em geologia pela Universidade de Copenhagen em 1964, participou de inúmeras expedições científicas, foi membro da importante escola de arte experimental “eksskolen”, professor da Academia de Arte de Frankfurt, trabalha como pintor, escultor, escritor de poemas e ensaios literários, filmes, litogravuras e continua a exprimir sua arte e talento nesta grande gama de formas e expressões artísticas.
O interesse do artista pela geologia e natureza em geral , é a inspiração crucial para seus temas. Sua cores e desenhos são executados de forma livre e expressionista. O artista usa sua pintura como um sol que sedimenta na superfície gestos e formas em extratos, criando uma pintura telúrica com pinceladas fortes desenhando nervuras e escavações na geografia plana da tela.
O que se vê são efeitos fragmentados, colagens, níveis separados, blocos recompostos formando uma paisagem de cores como uma nova interrogação à tradicional pintura. As grande formas de Per Kirkeby revelam a sua predileção atual por jogos outonais e crepusculares como uma canção: tão romântica quanto contemporânea.
Seus trabalhos têm sido mostrados em inúmeras exibições com muitas coleções públicas em famosos museus como a Tate Gallery de Londres, o Metropolitan e o Moma de New York, O Centre Pompidou de Paris entre outros.
Per Kirkeby com seus trabalhos superpõe formas e cores e com seus escritos e talento nos ensina um pouco mais sobre a natureza com sua grandeza e seus aspectos de forma geral que sua arte representa.
Conheci sua obra na grande exibição realizada na Tate Modern de Londres e fiquei arrebatado com o relevo de suas cores.

CORA CORALINA


“ A vida tem duas faces:
Positiva e Negativa
O passado foi duro
Mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria.
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
Dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
Lutas e pedras
Como lições de vida
E delas me sirvo
Aprendi a viver”

Ressalva

Este livro foi escrito
por uma mulher
que no tarde da Vida
recria e poetiza sua própria
Vida.
Este livro
foi escrito por uma mulher
que fez a escalada da
Montanha da Vida
removendo pedras
e plantando flores.
Este livro:
Versos...não
Poesia...não.
Um modo diferente de contar velhas estórias.

Não sei...
Não sei... se a vida é curta...
Não sei...
Não sei...
se a vida é curta
ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura...
enquanto durar.

O museu da língua Portuguesa na estação da luz , faz justa homenagem a esta poetisa , revelada ao Brasil por Carlos Drummond de Andrade. Cora Coralina goiana como eu, viveu doceira à beira do seu fogão de lenha onde sonhou e escreveu seus poemas. Quando criança em uma das excursões da escola ,visitamos  Goiás Velho e sua casa. Ela estava viva e nos recebeu  , falante , fazendo nos degustar seus doces como delicados poemas ao paladar. De lembrança desta viagem, além de sua imagem, ficou um imã na geladeira com sua casa pintada em porcelana branca na casa de meus pais, onde passei minha infância.
Depois voltei umas três vezes a Goiás Velho. A última vez foi uma decepção , a cidade estava suja, descuidada, ao léu. Fiquei num hotel azul em frente a casa da ponte , amanhecia de frente para a sua morada .
Cora lembra minha querida avó Alzira, cozinheira como a poetisa, como cozinhava bem. Analfabeta, mal sabia ler e escrevia seu nome com orgulho, um A maiúsculo , com uma volta e a letra torta para a direita. Morreu cozinhando à beira do fogão.Seu poema Ode ao Milho é minha avó fazendo pamonha, curau, broá de milho, milho verde...
Não percam a doçura em versos desta personalidade que muito merece esta exposição.








AS BENEVOLENTES de Jonathan Littell


As Benevolentes , livro do escritor americano naturalizado francês Jonathan Littell, 907pgs, tradução de André Telles publicado em 2007 no Brasil, vencedor do prêmio Goncourt de literatura francesa, sendo o autor comparado a Tolstoi pelo crítica do Le Monde.
As Benevolentes é um livro profundo e arrebatador e trata dos horrores da Segunda Guerra Mundial sob a ótica do carrasco. São memórias de Maximilier Aue, jovem alemão de origens francesas que como oficial nazista , participa de momentos sombrios da recente história mundial: A execução dos judeus, as batalhas no front de Stalingrado, a organização dos campos de concentração, até a derrocada final da Alemanha. Seu relato compõe um livro impressionante, assombrado tanto por sua fria meticulosidade quanto por seu delírio insano. Através de Aue, o leitor é levado a vislumbrar o mal de uma forma jamais imaginada.
O nome As Benevolentes, refere-se as deusas gregas que seriam tão furiosas e terríveis que provocariam terror nas pessoas até mesmo pela simples pronúncia.
O livro é inspirado nas “Eumênides “ de Ésquilo. Um dos princípios morais da tragédia grega é a necessidade de que os cidadãos tenham temor pela punição. Que mortal pode ser justo se não tiver medo do castigo?
Numa sociedade em que não há espaço para freios morais, para freios religiosos, nem mesmo para a Justiça mais primitiva e natural, teriam deusas clássicas condições de julgar alguém sem temor reverencial a nada? Qual julgamento cabe ao homem contemporâneo em que se julga ilustrado e senhor de todos os destinos, onipotente, acima do bem e do mal, em tempos tão amoralistas? Teria ficado o julgamento de Max Aue para as Benevolentes?
Um livro de tirar o fôlego, em que por mais que se imagine. suas seqüências delirantes sempre nos surpreende com múltiplas histórias e fatos que se entrecruzam numa narração fotográfica quase cinematográfica . Um grande livro para quem aprecia uma boa leitura, imperdível.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

FIGURINOS DAS TROIANAS by SILVIO OPPENHEIM











Declaração de Amor


"Sempre me senti atraído pela criação de figurinos, talvez mesmo antes de trabalhar com a moda. Isso vem de minha paixão pela História, que desde minha infância acompanha meu imaginário e meus jogos.Sempre gostei de reconstruir ou pesquisar uma verdade histórica por meio de cenários, móveis e trajes.
Vestir a época é fascinante. Mas é ainda mais jubiloso e transtornante viver as coxias, o palco, os camarins, o pó de arroz , a maquiagem, a magia do teatro. Um desfile não provoca este dialogo entre os atores e o público. Eu sinto dentro de mim hoje, trabalhando nos figurinos de “Bodas de Fígaro” para o Festival de Aux-em-Provence, como ontem para “Fedra”, no Comédie Française, e como na primeira vez para “Chantecle” montada em Nantes há vinte anos, quando Jean Louis Tardieu entrou em contato comigo após ter visto na Maison Patou minhas roupas um pouco estranhas.
O Teatro se torna bem mais do que um lazer, pois esta arte não admite a mediocridade, nem a falta de paixão". Christian Lacroix


As Troianas de Eurípedes,é uma angustiante tragédia da impotência humana.Se passa no centro da tenda das escravas troianas , já no acampamento grego, na planície, não muito distante de Tróia.Cidade, outrora esplendorosa, amada pelos deuses, agora ardendo em chamas, cujo destino se confunde com o destino das suas cativas mais ilustres: Hécuba, Andromaca, Polixena e Cassandra.
As troianas agora escravas dos gregos, aguardam o embarque para os novos lares. Taltíbio , o arauto anuncia que Polixena , filha de Hécuba, será sacrificada. E que seu neto Astianax, filho de Heitor , será morto, para que não sobre nenhuma descendência dos guerreiros troianos. Helena a causadora da guerra por ter abandonado Menelau por Páris tenta se reconciliar.
Eurípedes mostra de maneira especial a força, a revolta e a inteligência de cada uma dessas mulheres tão valorosas.

Estes figurinos foram criados por Silvio Oppenheim para As Troianas no ínicio dos anos setenta, dirigida por Paulo Vilaça ,na época professor de dramaturgia do Sedes Sapientiae localizado na Caio Prado. Silvio Oppenheim fez o projeto do teatro e também o cenário.
Paulo Vilaça, grande ator do cinema nacional, e do teatro, participou da EAD, teatro Oficina, fez Navalha na Carne, Fala Baixo Senão Eu Grito. Assisti com ele Adorável Julia com a Marília Pera .Também com ela destacou-se na minissérie Quem ama não mata da TV Globo de Euclides Marinho dirigida por Daniel Filho, entre outros trabalhos. Foi professor de literatura, jornalista, publicitário, morreu em 1992 , por complicações decorrentes da AIDS.

Agradecimentos: Ao baú/arquivo do Silvinho


QUERIA SER GUIMARÃES ROSA



"Ele sabia - para isso qualquer um tinha chance - que Cordisburgo era o lugar mais formoso, devido ao ar e ao céu , e pelo arranjo que Deus caprichara em seus morros e suas vargens; por isso mesmo, lá de primeiro se chamara Vista Alegre ... O céu não tinha fim, e as serras se estiraram, sob o esbaldado azule enormes nuvens oceanosas."


“E, mais do que tudo, a Gruta do Maquine - tão inesperadamente grande, com seus sete salões encobertos, diversos, seus enfeites de tantas cores e tantos formatos de sonho, rebrilhando risos de luz – ali dentro a gente se esquecia numa admiração esquisita, mais forte que o juízo de cada um, com mais glória resplandecente do que uma festa, do que uma igreja.” Guimarães Rosa

Naquele natal , meus amigos ganharam bolas, jogos, bicicletas e outros brinquedos. Eu ganhei uma máquina de escrever Olivetti, acho que tinha seis anos, fiquei decepcionado num primeiro momento, pois a principio não poderia dividir o prazer de brincar junto.
Minha mãe era professora e diretora de um grupo escolar estadual, e sempre me fez estudar, tanto na escola , quanto em casa. Nas férias tinha sempre duas horas da tarde dedicada ao aprendizado continuo. Tinha que ler sempre, desde que aprendi a ler.Comecei com os contos de fadas, Monteiro Lobato, o Tesouro da Juventude e as tristes histórias de José Mauro de Vasconcelos, como Meu pé de Laranja-lima, Coração de Vidro e outras....às vezes viajava nas enciclopédias como a Barsa e a Larousse. Sempre ganhava um livro de presente, sempre.
Agora com a máquina de escrever, na minha solidão, pus-me a datilografar transformando minha imaginação e sonhos em histórias que pudesse dividir com minha família e amigos.
Fui crescendo e continuei , estudando , lendo e escrevendo histórias, as vezes poesias.Queria ser muitas coisas. Adolescente deixei minha cidade do interior para morar em São Paulo, estudar e ser engenheiro. Já em São Paulo quis ser marinheiro e atravessar oceanos, depois queria ser o Berger, herói do filme Hair. Quando assisti o show Uns do Caetano e o vi surgindo entre a fumaça de gelo seco com uma seda azul cantando Menino-Deus, eu quis ser ele. Eu queria e quero a liberdade.
No colegial tive que ler muito para o vestibular, entre outros livros, descobri Sagarana e Grande-Sertão Veredas, o vasto mundo de João Guimarães Rosa. E foi uma epifania, uma revelação. Comecei a ler tudo do escritor e sobre o escritor. Eu só queria ser Guimarães Rosa. Prestei Direito na São Francisco pois queria ser diplomata, como o escritor e como ele acabei médico. Aprendi línguas, não tantas e tão bem quanto João, viajei pelo Brasil e exterior e tantos lugares dentro de mim mesmo.
Jamais me esquecerei de minha viagem para Cordisburgo, terra natal de João. Visitei os arredores; a gruta de Maquiné, magnífico feito da natureza como as palavras de Rosa e o alumbramento do naturalista e dinamarquês Peter Wilhem Lund que a descobriu em 1834 e a descreveu como a mais rica imaginação poética , esplêndida morada de seres maravilhosos, diante da qual o homem teria somente a confessar sua impotência à divina natureza.
Na casa do escritor , visitei os cômodos, vi seus óculos, sentei em sua cadeira e debrucei na janela de seu quarto que dá de frente para a praça central, que estava toda enfeitada de bandeirolas multi-coloridas e no horizonte as montanhas da Vista Alegre, primeiro nome de Cordisburgo, a cidade do coração.
Sonhei acordado, cada vez mais querendo ser o Rosa, escrever como o Rosa. Já li o Grande-Sertão três vezes, a última, em voz alta para que as suas palavras ressoassem nas paredes do meu quarto e fizessem tremer com mais estrondo minha pobre alma.
Mas de volta a janela do escritor, sou despertado  do meu sonhar acordado por um garoto que entre muitas perguntas: De onde eu era? Se eu queria saber um pouco sobre a cidade e o escritor?... sem conseguir responder, maneei a cabeça afirmativamente e ele me contou com sua voz de infância, tudo o que eu já sabia e terminou dizendo: Seja bem vindo a semana Rosiana.Era aniversário do escritor e a cidade comemora a data com uma semana literária cujo nome é pura poesia:Semana Rosiana.Sorri com a coincidência de visitar Cordisburgo na semana Rosiana e contemplei Minas.
Minha vida seguiu veredas tortuosas.É perigoso viver.Hoje eu quero ser cada vez mais eu. Tento.Hoje, meu estranho presente de natal , considero o melhor de todos.O tempo ensina , na velocidade certa: lento ou rápido, depende do percurso. Mas no fundo mais profundo do meu eu, ainda há um QUERER SER ROSA.


domingo, 27 de setembro de 2009

A ARTE DA CIDADE II/ UN COUP D'OEIL


Poemas da amiga

A tarde se deitava nos meus olhos
E a fuga da hora me entregava abril,
Um sabor familiar de até-logo criava
Um ar, e, não sei porque, te percebi.

Voltei-me em flor. Mas era apenas tua lembrança.
Estavas longe doce amiga e só vi no perfil da cidade
O arcanjo forte do arranha-céu cor de rosa,
Mexendo asas azuis dentro da tarde.

Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus amigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves
a cabeça Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus. /Mario de Andrade

Na tarde ensolarada de domingo
Nos muros e viadutos da cidade
Minha câmera e eu
Juntos caminhamos
Fazendo novas descobertas.

Fotos:Fabricio Matheus

CAIQUE FERREIRA, meu para sempre Giovanni











Giovanni me encarou, e isso me fez sentir que ninguém, em toda minha vida anterior, havia olhado diretamente para mim.

Foi assim que conheci Giovanni. Acho que ficamos presos um ao outro, no momento em que nos vimos.... Eu verei Giovanni outra vez, como estava aquela noite, tão vivo, vencedor, tendo em volta da sua cabeça toda a luz daquele túnel sombrio.

Vieram nossas ostras e começamos a comer. Giovanni estava sentado sob a luz do sol, e seus cabelos negros reuniam em si o brilho do vinho e as muitas cores das ostras, quando batidas pela luz.

Giovanni fechou a porta depois de entrarmos e então, por um instante, ficamos naquela penumbra a olhar um para o outro – com aflição, com alívio e arquejantes. Eu estava tremendo e pensava que se não abrisse aquela porta para sair, naquele mesmo instante, estaria perdido. Mas sabia que não o poderia fazer, pois era tarde demais; dali a pouco seria tarde demais para fazer outra coisa senão gemer. Ele me puxou para si, pondo-se em meus braços como se entregando o corpo para eu carregar e vagamente puxou-me para baixo, para aquela cama. Enquanto tudo, em mim, gritava “Não!” ainda assim a totalidade suspirava “Sim”.

Deixei a minha aldeia num dia horrível e belo.Jamais esquecerei este dia. Foi o de minha morte... trechos do livro Giovanni’s room traduzido Giovanni de James Baldwin

Caíque Ferreira, ator, cantor, bailarino, artista plástico, carioca. Carlos Henrique Ferreira da Costa, iniciou sua carreira em 1970 no teatro  na peça A Exceção é a Regra . Na TV estreou em Brilhante 1981 de Gilberto Braga.  Fez  entre outras novelas  Corpo a Corpo, onde era um publicitário bem sucedido que tinha um poster enorme da Elis em sua sala com estrelas de neon azuís.No cinema, ficou conhecido como o retirante “Zé Branco” de As Aventuras de um Paraíba de Marcos Altberg e Flor do Desejo de Guilherme de Almeida Prado,  tudo isso  pode ser lido na net.
Quero escrever do Caíque que conheci . Assisti Giovanni com o Caíque interpretando o próprio, numa adaptação de Hugo Della Santa, direção de Iacov Hillel, cenário Serroni , figurinos Sergio Reis no pequeno Teatro do Bexiga, hoje Ágora e a música La vie en Rose de Piaf que ecoava em todos os cantos e entre outras cenas terminava o espetáculo. Saía chorando sempre. Assisti três vezes, numa delas o palco central giratório quebrou e os atores tiveram que reiniciar, e voltaram duas cenas anteriores como nos cinemas quando cortavam o filme, começava a ver o artesanato da feitura teatral. Não há como não lembrar da descrição da pequena aldeia nos Alpes italianos de Giovanni nos olhos de Caíque. Poesia encenada era o que se via naquele pequeno espaço, inesquecível.Fiquei maravilhado, mudou minha vida.
Comecei a escrever poemas e cartas para o Caíque , trocávamos correspondências . Depois o assisti no Teatro Musical Brasileiro no teatro Rival  dirigido pelo Luis Antônio Correa Martinez, irmão do Zé Celso, cruelmente assassinado em dezembro de 1987 no auge de sua carreira como diretor. Entre outras cenas Caíque fazia o Ébrio de Vicente Celestino, depois da peça, passeamos à noite, pela madrugada no centro histórico do Rio e Cinelândia e ele falando do  seu Rio.
Depois o vi em O Grande e o Pequeno de Botho Strauss com a Renata Sorrah no Sesc Anchieta. Posteriormente Pervesidade Sexual em Chicago do David Mamet dirigido pelo José Wilker com o Paulo Betti ainda casado com a Eliana Giardini e a Mayara Magri, no Cultura Artística. Neste período ,  ele morava em Amsterdã , trabalhando com um grupo de dança e estava de passagem para a temporada da peça no Brasil. Quando a encenaram em Ribeirão Preto, recebi um cartão do Caíque  que era o pôster do Giovanni que ele mesmo desenhou, dizendo que me esperava na platéia do teatro Municipal. Encontrei-me com ele ainda de pancake branco no camarim, fiquei observando atentamente ele retirar a maquiagem do personagem e depois fomos todos jantar  numa Pizzaria. Fiquei horas conversando com ele, sempre sorrindo, sempre me contando sobre suas andanças, detalhes da carreira. Já havia morado em Buenos Aires,  Espanha , na Alemanha em Dusseldorf foi premiado com o musical Lights to Light, era formado em artes plásticas pela PUC do Rio, dançarino , muito disto aconteceu antes de fazer sucesso nas novelas. Era adorável . De repente, começou a tocar Bem que se quis com a Marisa Monte e ele começa a sorrir mais e a cantar junto e disse: Eu adoro essa música. Não é linda! Não havia como não concordar.
Fiquei sabendo de sua morte pelos jornais. Morreu aos 39 anos, vitima de complicações decorrentes da Aids, em 12 de janeiro de 1994, dizem que deixou os originais de um romance Vinho da Noite , onde conta a história de um homem de meia idade que entra em crise existencial quando descobre vítima de uma doença terminal e condenado a morte. Um grande ator . Uma grande perda.
Tenho sempre sua imagem em minha mente, seus grandes olhos, onde eu  sempre via  a aldeia italiana que Giovanni deixou ao partir para Paris. E seu sorriso e olhos cantando:- Bem que se quis, depois de tudo...






sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A ARTE DA CIDADE/ UN COUP D'OEIL













"  E, ao nascer do sol, munidos de uma ardente paciência, entraremos nas esplêndidas cidades" A.Rimbaud

"Sonho o poema de arquitetura ideal
cuja própria nata de cimento encaixa
palavra por palavra,
tornei-me perito em estrair faíscas das
britas
e leite das pedras
acordo.
e o poema todo se esfarapa, fiapo por
 fiapo.
acordo. 
o prédio, pedra e cal, escoaça
como um leve papel solto à mercê do
vento
e evola-se, cinza de um corpo esvaído
de qualquer sentido.
acordo," Wally Salomão

Gosto de me perder por São Paulo, às vezes, no final de semana , saio eu e minha câmera, caminhamos juntos e descobrimos maravilhas.

Fotos Fabricio Matheus