segunda-feira, 18 de julho de 2011

CEMITÉRIO DA CONSOLAÇÃO



“Para quê preocuparmo-nos com a morte? A vida tem tantos problemas que temos de resolver primeiro.”Confúncio

Anos atrás quando estava em Paris, minha amiga disse que não deveria deixar de visitar o “ Cimetiere du Pére-Lachaise” . Era minha primeira vez na cidade Luz , onde faria um estágio em Medicina. Estava hospedado na Cité Universitaire na Maison du Brésil desenhada por Le Corbusier. E pensava, com tanta coisa para ver e conhecer por quê visitar uma cemitério. No meu guia eram no mínimo quatro páginas dedicada ao lugar, e enfim acabei cedendo e por outras pessoas que me disseram o mesmo fui ao Pére-Lachaise e foi uma visita inesquecível aos túmulos de Oscar Wilde, Jim Morrison, Alan Kardec, Edith Piaf, Sarah Bernard, Proust, Balzac, Moliere, La Fontaine, Yves Montand,Isadora Duncan, Chopin entre tantos....
Passo todos os dias pelo cemitério da Consolação e já havia lido a respeito da visita guiada e dos monumentos do local, que é reverenciado como “museu a céu aberto”, devido à inúmeras obras de escultores como Brecheret, Galileu Emendabili, Nicola Rollo, Bruno Giorgi, Francisco Leopoldo e Silva. Refletindo o momento do crescimento industrial e econômico da metrópole, parte da história de personalidades e famílias responsáveis pelo que São Paulo é hoje.
A visita guiada deve ser agendada pelo site da prefeitura , ou pelo telefone (11)33963832. Acontece de 2° a 6° das 9:30 às 11:30 ou das 14:00 às 16:30 hrs. Deve se especificar se irá tirar fotos, para que se faça uma permissão assinada no local.O agendamento deve ser feito no mínimo com 48 horas de antecedência e é um serviço gratuíto. Pode se visitar o cemitério sem agendamento. Há um mapa com três roteiros: - Escultores marcados em azul. Intelectuais , artistas e homens públicos em verde e Políticos em vinho, que segundo o guia é de menor interesse. Há os túmulos daqueles que são considerados santos e cultuados como tal. Entre eles o de Antonino da Rocha Marmo. Um pré adolescente que queria ser padre e foi vítima de tuberculose e acabou morrendo muito ,muito jovem. Minha avó era devota, e tinha na canto de seu quarto juntos à outros santos a foto do menino em preto e branco com rosas secas num vidro côncavo. Foi uma emocionante e saudosa lembrança!
O guia do cemitério é o funcionário Francisvaldo Gomes , mais conhecido como “Popó”, que aprendeu tudo com um dos maiores pesquisadores do patrimônio local e arte tumular; o advogado, escritor e historiador, Dr. Délio Freire dos Santos, que hoje repousa sereno no local, com justas homenagens dos funcionários do serviço funerário municipal.
A tarde estava de um sol agradável, temperatura amena. Francisvaldo, o “popó”, com anos de experiência, torna a visita muito mais interessante , contando-nos histórias que lemos e aprendemos nos livros de personalidades como Mário de Andrade, Oswald Andrade, Tarsila do Amaral, Guiomar Novaes, Maestro Chiafarelli, a Marquesa de Santos, Liberó Badaró, Itála Fausta, Pérola Byington, Antônio Alcantâra Machado, Flávio Império, Monteiro Lobato, Emilio Ribas....Das famílias Matarazzo, Prado, Simonsen. Dos políticos como Campos Sales, Washington Luís, Ademar de Barros, Armando Sales de Oliveira e tantas outras histórias interessantes  que vão se misturando aos masoléus e túmulos locais,como o medalhão em bronze da fábrica de Chapéus João Adolfo que mostra um mapa da cidade de São Paulo e do vale do Ahangabaú quando se cultivava o chá com os corregos do vale o o saracura se cruzando na intersecção, onde hoje começa a nove de julho. A tarde foi curta. Muito curta para tantas histórias e tanta arte, com uma vontade de voltar e aprender mais....
Os últimos momentos que passei no local, estava sozinho e voltei à lugares que queria fotografar.É muito fácil se perder , guiando-se somente com o mapa local, e nada encontrar. Há pouca identificação das ruas e quadras , algumas sem saídas. Algumas vezes, como por sorte, depara-se ao acaso com um local interessante ou já procurado.
Nestes últimos momentos,além exímia limpeza local, o que mais me tocou foi uma sensação de paz, serenidade e um silêncio que só era interrompido pelo vento entre as árvores e cantos de pássaros. Foi como se a morte por um instante me mostrasse cordialmente o seu lado oculto, sem no entanto revelar o seu secreto.
 Em nenhum momento desejei morrer , pelo contrário; Confesso,  que  minha escolha pela medicina foi pela não aceitação da morte.Mas no final da tarde de inverno na cidade de São Paulo, por um momento, eu fiz as pazes com algo desconhecido e  talvez tenha sido tocado por  parte do mistério da vida.
Passei na administração para agradecer a cordialidade e gentileza e despedir-me de Francisvaldo, que agora sabendo que eu era médico, pediu-me uma consulta e um conselho, mostrando-me um nódulo no pescoço. Seu colega de trabalho , antes que eu respondesse qualquer coisa, disse : - “popó”, fique tranquilo que seu destino é certo, não precisa nem olhar longe, é aqui mesmo...

Fotos:Fabricio Matheus

Mais fotos :


OBS:As fotos seguem as normas estabelecidas pela prefeitura. Foram exercício para o curso de fotografia da EPA , não serão publicadas e não contém nenhuma identificação pessoal.