sábado, 30 de novembro de 2013

CUIDANDO DO CORAÇÃO


"A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de caráter, e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem”

“Desde jovem, percebi que os outros lutavam por bens exteriores, o 
que não me interessava, pois eu tinha dentro de mim um tesouro 
muito mais valioso do que todas as posses materiais. O mais importante era aumentar esse tesouro, bastando desenvolver a mente e ser totalmente livre. (...)"

Ontem fui cuidar do meu coração. Passei de médico a paciente. Cheguei meia-hora antes do horário agendado, conforme enfatizara na marcação. A recepcionista foi muito simpática, principalmente quando o convênio que aumentou há um mês não quis liberar o exame que fiz há um ano.
Só depois de dizer que apesar de não ser hipertenso, tinha extra-sistoles e taquicardias quando estressado e um discreto refluxo mitral,  mesmo já tendo confirmado que na minha família todos morrem do coração, que  minha mãe é chagásica com um coração enorme e meu pai hipertenso desde que nasci, escutando o dialogo da recepcionista com o convênio:-
-       Por quê o Dr. Fabricio pediu este exame para o paciente Fabricio.
-       O paciente Fabricio é o Dr. Fabricio.
-       Não o meu médico não sou eu, estou pedindo os exames para adiantar.
-       Tudo bem doutor! Sim é o Dr. Fabricio que pediu o exame para o Dr. Fabricio.
-       Nossa mais ele é médico! A família morre do coração, sim senhor . A mãe têm problema . O pai é hipertenso desde que ele nasceu.
-       Ele quando estressado  disse que têm extra... extra  sís....tooo.....leeeee.
-       Ah!Não sei , pergunta para ele?
-       É taquicardia, isso é , o coração acelera....
-       Calma Doutor!
-       Claro que ele está ficando nervoso!
-       Viu!Liberaram... mas é o fim... até para médico. E eles não eram assim, não sei o que está acontecendo com estes convênios!
-       O Sr. Pode aguardar.
Um rapaz chamado Everton, cujas colegas as sós, chamavam carinhosamente de Biii, veio me conduzir aos exames.
A técnica do eletro, não respondeu ao meu Boa Tarde, como uma policial ordenou: - Tira a camisa e deita. Falando sem parar com a mocinha que estava no computador, reclamava sobre o salario e o não pagamento das horas extras enquanto colava os eletrodos, depois afirmativamente decretou:
-       Acabou, veste a camisa e vamos para o Eco.
Na sala do Eco, o médico- colega, também não respondeu ao meu cumprimento de Boa Tarde. De costas estava e de costas ficou. A mesma técnica com os cabelos cobreados ordenou novamente: _ Tira a camisa e deita, vira de lado para o doutor e braços para cima.
O meu colega, não olhou nos meus olhos, começou o exame fixo na tela, e como um robô, carimbava VE, VD, AE, AD, VM, VT.
Fiquei tão constrangido , que fui inflando o meu coração e a tela apagou.
Ele tossiu, pediu desculpas e disse que era pelo ar-condicionado.
Ligou novamente o aparelho, mas as imagens de meu coração se perderá no meio de tantos outros corações.
Vamos ter que repetir o exame. Tudo bem, não tenho pressa...
 E novamente , mudo carimbava VE, VD, AE, AD, VM , VT. .. Eu via meu sangue , minhas válvulas, mas ele não dizia nada. .. e na eternidade do seu silêncio, bradou afônico:- acabou.
Eu fiquei tão constrangido , e com pena do meu colega que desisti de perguntar como estava meu coração. Mesmo que morresse ao cruzar a porta, ele certamente estava melhor que o dele.
Ainda agradeci, mas nada. Só a técnica de cabelos cobreados recente, novamente ordenou como uma policial: Pode vestir e ir para o RX.
Mesmo quando estressado, com minhas taquicardias e extra-sistoles , quando estou médico, jamais deixo de ser profissional. Sempre recebo com um cumprimento, falo sobre o que esta acontecendo e dou um parecer. Jamais tive meu coração examinado com tanto silêncio, mesmo quando o mesmo se fazia necessário numa ausculta com estetoscópio, ainda assim, eu escutava junto com o ritmo e respiração, um alento do colega-médico.
Mas fiquei tão desconcertado com a fria recepção que me deu vontade de pedir para abraçar meu colega. Encostar sua cabeça no meu ombro e perguntar:- Está tudo bem com você? Olha nos meus olhos. Esquece os médicos cubanos. Existe amor em SP. Meu, vai também para o Butão!  
Têm tantos lugares o mundo... Faz teatro com o Zé Celso...mas o meu colega-médico no seu silêncio confirmou o que eu já vinha observando. Temos muito a aprender com os animais. Nunca ninguém sentiu tanto a minha falta como o meu cachorro Otto. Ele que já é magro, ficou mais magro, melancólico. E só depois de uma semana comigo voltou a ser o mesmo Otto. E é por isso , que mesmo não sabendo nada de como está meu coração, eu torço para que ele esteja bem, por quê no ano que vêm, eu vou atrás da natureza e dos animais. Vou para Galapagos, Antartica, Groelândia, cruzar o círculo Polar,  quero me misturar aos pinguins, focas, baleias , leões marinhos, tartarugas gigantes, lagartos e outros repteis... por quê certamente irei aprender muito sobre como ser mais humano, mesmo que eles não falem comigo, certamente olharão no fundo dos meus olhos de verdade.
Como sempre diz uma velha tia, se deixar o Fabricio , ele vai para a Lua. Ela têm razão , isso se eu não morrer antes do coração...

Arte:Fabricio Matheus


sábado, 9 de novembro de 2013

BUTÃO FOTOGRAFIA E A FELICIDADE




“ I also pray that while I am but king of a small Himalayan nation, I may in my time be able to do much to promote the greater well being and happiness of all people in  this world – of all sentient beigns... - His Majesty, Jigme Khesar Namgyel Wangchuck

“Rather than talking about happiness, we want to work on reducing the obstacles to happiness…” Prime Minister Tshering Tobgay

  “Se o governo não pode proporcionar felicidade para seu povo, não há propósito para que tal governo exista”. Baseado nos ideais budistas, no ínicio dos anos 70, o rei deste pequeno  país , o Butão, começou sua administração baseada no conceito de GNH( Gross national Happiness), crescimento baseado na felicidade, cujos pilares principais era que o desenvolvimento da sociedade  necessariamente ocorre quando tanto o crescimento material, quanto o espiritual acontecem juntos, um enfatizando e suportando o outro. Assim, a felicidade da nação , estaria  sustentada pela religião , no caso o budismo. E na promoção de um desenvovimento sustentável baseado na preservação e promoção dos valores culturais , na conservação da natureza e meio –ambiente e no fortalecimento de um bom governo. Em resumo, um avanço à modernidade com esforço na preservação da tradição.
E assim, o Butão ficou conhecido mundialmente como o país da felicidade. Este pequeno país do Himalaia, abriu-se recentemente ao turismo e pessoas o visitam pela natureza e a procura da felicidade. Minha visita à este país ,talvez tenha sido por esta busca, e pelo Budismo.
 No Brasil, ainda, viajar para o Butão é para poucos. É extremamente caro e poucas agências oferecem pacotes. Os pacotes oferecidos, são de um turismo de alto luxo. Em pesquisa pela internet, consegui com uma agência local, uma viagem mais em conta e segundo a mesma , oferecendo-me o mesmo tour que havia visto no Brasil.
Cheguei ao Butão, vindo de um Nepal que se transformou numa nova Índia. E o país é  realmente lindo, limpo , com  poucas desigualdades socias, é uma só religião, o Budismo. Seria quase um  Tibet com o verde.
Ainda na lembrança, os sons e cores dos países da Indochina, minha chegada ao país, depois de uma boa vinda pelo meu guia butanês, que disse e esperava que eu tivesse aqui férias memóráveis…comecei um estranhamento já no check-in do hotel;  Peaceful Resort, distante da cidade e   que de Resort não tinha nada. O quarto era excelente, então resolvi esperar pelo o quê viria a seguir. A primeira visita ao Castelo, deixou-me a desejar, quando notei que outros guias davam mais explicação que o meu, que sequer respondia minhas questões. O jantar no hotel foi decepcionante, e quando perguntei o que havia no tal Resort ,  responderam-me sem entender ,que era só aquilo. Fui ficando preocupado e inquieto.
Nos países como a Tailândia, o Laos, Vietnã e Cambodja , tudo ocorreu precisamente. Os guias, eram excelentes, mesmo quando não sabiam, tinham na face a história do seu país, as rugas das guerras e do sangue das batalhas ocorridas em suas terras. Eram generosos e faziam de tudo para agradar. Os hotéis quatro estrelas em que fiquei eram excelentes, e os restaurantes de primeira. Todos na Indochina, aprenderam espanhol morando em Cuba. Huang, o guia do Vietnã, era de uma precisão quase ditatorial, para que cumprissemos o programa. Mais de uma doçura, que quando falava suas mãos enrrugadas bailavam no ar. Apelidamos de Juanito, estava neste país com um casal de chilenos.
No Cambodja, meu guia Loung, era de uma geração que tinha perdido toda a família na Guerra de meados de 70, a geração sem família, estudara agronomia em Cuba, conversavamos sem parar sobre tudo. E quando disse que queria uma bandeira budista do cambodja, trouxe-me uma de presente na manhã seguinte.
E no país da felicidade , começaram os meus problemas. Voltei aos e-mails que havia trocado com a agência local.Escrevi que estava extremamente descontente , anexei os antigos  e  as fotos dos hoteis em que havia hospedado nos outros países e que esperava tratamento igual e conforme o combinado.
Felizmente, na manhã seguinte, o dono da agência, trocou todos os meus hoteis e buscou-me  para que jantassemos juntos.
Expliquei -lhe que não estava no seu país para festa, mas estava sentindo-me preso. Contei-lhe  sobre o guia; que havia pedido para tirar uma foto de uma ponte semelhante a ponte Vecchio de Firenze, e ele disse que haveriam outras … No almoço, sentou-me numa mesa num restaurante vazio e fiquei pelo menos 15 minutos só, sem saber o que aconteceria. Chegaram um casal de alemães e o seu guia além de conversar, explicou que seria um buffet ,que ainda não estava pronto. Depois comentou  prato por prato.
Dorji, disse que faria o possível e lamentava o ocorrido e que qualquer problema lhe telefonasse, contou –me sobre seus estudos em Darjeeling /Índia, sobre seu país e deu-me dicas. Depois do banquete oferecido , ofertou-me um presente de boa-sorte  com a vista noturna do castelo iluminado em Thimpu que parece uma jóia de ouro e rubis.
Decidi que o tal guia não estragaria a minha felicidade, quando a caminho de Punakha, passou um caminhão colorido com uma faixa: Alone but happy, apesar de já estar sentindo-me só e triste.
A vista do quarto do hotel de Punakha,  a hospitalidade e o carinho das pessoas foi tocante. O guia continuou formal. Sentindo o peso nos meus ombros da máquina fotografica, comecei a fotografá-lo  e aos poucos ele foi ficando mais tolerável,  mais amigo e no final parou na ponte que queria fotografar . Continuou a não responder minhas perguntas , mais tornou-se mais gentil…  Assim, a minha liberdade foi voltando aos poucos e com ela minha alegria.
A Dorji, escrevia-lhe agradecendo pelo cuidado e proteção que estava tendo comigo .  Contava-lhe de pronto se algo não me agradasse e novamente ele veio jantar comigo na última noite e agradeceu-me a escolha de sua agência. Este ato foi tocante e muda todo o resto, transforma as relações, mostra o carater e foi digno de respeito.
 Eu estudava todo o roteiro à noite, e os passeios foram ficando mais rápidos e tive mais tempo livre para olhar as pessoas, sentí-las. Entrar nas casas, fotografá-las. Pedia-lhes que me ensinassem a fazer comidas típicas e elas mal começavam a dizer a receita; paravam , buscavam os ingredientes e preparávamos …,as vezes  comiamos juntos… A todos que encontrava, perguntava:- Você é feliz? O que lhe faz sentir feliz? As respostas eram quase as mesmas, temos uma só religião, não há muita desigualdade social, temos um governo que zela por nós,  temos amigos…Não temos preocupações…
Mesmo com todo calor humano em que mergulhei, e profundamente tocado, comecei a sentir-me triste por elas, e feliz por mim; pela minha ocidentalidade extremamente racional, descarteano: Penso, Logo existo. Tenho problemas, resolvo. Faço minhas escolhas… sou responsável por elas.  E a felicidade tornou-se uma ilusão. O não temos preocupações era igual a não temos escolhas… Será que a felicidade era não pensar, servir? E se assim fosse  , prefiro a minha infelicidade, minhas inquietudes , minhas razão e momentos  breves de felicidade,
Assim na última manhã, no país da felicidade,  onde a felicidade me veio ao avesso, estava  ventando, mas o sol brilhava e o céu  estava tão azul que ainda se via uma meia-lua branca ao longe.
 Sentei-me fora  para o café-da-manhã e olhando o azul sobre as montanhas, vendo as bandeiras coloridas de orações tremularem …  Toda a viagem foi passando como um filme, como um album de fotografia:-  Saint Michel,  o rio Mekong, os campos suspensos dos arrozais, Ha Long Bay, os Pescadores de pérolas, Saigon, Siam Reap, Angkar, o Nepal, a paisagem do Butão, as montanhas , os mosteiros,  a subida ao sagrado Mosteiro Ninho do Tigre, os monges, os rituais budistas, com tambores, cornetas, as danças típicas, os mudras....os tetos de zinco com coberto de pimentas vermelhas. Os guias com as histórias de seus países marcadas nas rugas e estampadas na alma. As diferentes pessoas que conheci,  conversei.. entre tantas, a última  que era campeã americana de corrida de avestruz…  a dança ao redor do fogo de mãos dadas as mãos estrangeiras e desconhecidas, diferentes e iguais…Os cheiros, sons , cores…  mas a  questão  da tal felicidade não  calava:- Era ou não feliz? 
Respirei  profundamente e antes que o ar tomasse meus pulmões , comecei a ouvir  um sopro de oboé, o fagotte… Sublimes como o vento. Aos poucos ,as cordas … os sopros das flautas  foram-sem misturando com  os violinos e os cellos e no fundo uma nota de uma harpa, longe, longe… como o resto da lua. No meio da Ásia, no país da felicidade do nada começou  a tocar Mozart, depois Bach e Chopin…
Algo foi tomando conta de mim, talvez o “macio azul”  do horizonte recortado pelas montanhas e  deixei de  pensar na na felicidade. Sabia que iria acordar em Paris, terminar minhas longas férias em minha terra natal, com minha familia,. Raízes …
 Fechei-os olhos e fui enxergando as notas, numa outra dimensão , onde a música era silêncio e o pensamento era só sentimento…  A felicidade  foi se desnudando, é o mistério é simples :-  Está tudo dentro de nós… Para mim, basta fechar os olhos, que a música vêm e começo a    inventar histórias,  a sonhar,viajar em busca de mais e mais histórias que se misturem com a minha. .. Mesmo que por momentos breves, aos poucos eles se tornam mais constantes  e  assim  sem ansiar por respostas a  felicidade como uma gota tornou-se um oceano com o mesmo azul do céu…

Foto: Fabricio Matheus

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

AF166 PARIS-BANGKOK



“A imperfeição é nosso paraíso.
E nesse travo amargo, o prazer,
Já imperfeito arde tanto em nós,
Está palavra falha, obstinada.”WStevens


Eu sou feio. Gostaria de ser bonito, mais alto, nem digo loiro e com olhos azuis, poderia ser um moreno belo. Tenho orelhas grandes, nariz redondo e grande e olhos grandes... Fui uma criança obesa, fiquei magro  e estou constantemente fazendo regime. Comecei a praticar esportes tardiamente, e hoje já faz parte da minha rotina. Por outro lado, se tivesse nascido belo, não seria quem sou hoje. Talvez não tivesse a inteligência, ou  melhor, a enorme curiosidade de saber e conhecer tudo e todos.
Minha vida talvez poderia ter sido mais fácil, se além de belo , eu fosse um cara normal, casasse , tivesse filhos... mas tive que lidar com minha sexualidade e me aceitar. Talvez se não tivesse passado por isso , também não seria quem eu sou hoje.
Hoje posso dizer que gosto de ser quem eu sou, e ainda , sinto-me belo. Tive pais que me amaram e nos amamos. E isso fez uma enorme diferença em ser quem eu sou. Hoje posso dizer que sou feliz, tendo passado por momentos de infelicidades.
Mas tudo isso comecei a pensar enquanto no assento 7 A, do vôo AF 166 Paris –Bangkok ,   lia o Livro de Andrew Solomon:- Longe da Árvore, pais , filhos e a busca da identidade.
Já tinha passado dois dias em Paris, e foi exatamente em Paris quando fiz o estágio em Medicina Fetal, que me senti parte de meus pais, das árvores que compõem a  minha família. Se há uma coisa que não sinto é saudade deles.  Isto não quer dizer que não os amo, pelo contrário, eles estão cada vez mais em mim.
Mas todas as minhas angústias , minhas neuras eram nada,  pertos das histórias que lia, sobre pessoas e pais que tiveram que lidar com surdez, nanismo/anões, Síndrome de Down, autismo, esquizofrenia, estupros, crimes, transgêneros e etc... um grupo à margem e longe  da árvore.
Não que minhas angústias, e o sofrimento que senti fossem desmerecidos e não autênticos , foi a minha história e a minha dor, algo  que me moldou e tornou-me quem eu sou.  Ao mesmo tempo, saía de Paris, onde tinha exatamente feito um estágio em Medicina Fetal e genética, e estes casos `a margem, eram o meu trabalho, o meu aprendizado.
Perdido na turbulência de meus pensamentos e leitura, ouço anunciar que estavam precisando de um médico. Se houvesse algum , que se identificasse de pronto.
Sem hesitar,  apresentei-me , a poucos passos de onde estava sentado e a paciente já estava lá. Contou-me sua história de antecedente de flebite, trombose e embolia pulmonar há 10 anos e que sentirá uma dor aguda na perna esquerda.
Enquanto a examinava, um senhor francês se apresentou como médico e escutou atentamente o caso de Anne. Eu comentei o caso  com meu colega médico, o que eu achava e qual a conduta. E continuamos a conversar com Anne., por coincidência, ela era francesa e morava em Paraty. Começou a falar em português e ora em francês. As comissárias e eu mesmo, por respeito ao colega francês por ser mais velho, disse que se ele quisesse , ele assumiria o caso. Aqui faço um parênteses, talvez por um milésimo de segundo ,eu tenha sentido inferior ao meu colega. Mas o senhor francês , disse em tom afirmativo, que Anne estava melhor sob meus cuidados , e que ele não lembrava da dose de nada, ao que Anne já sabendo que eu morava em São Paulo, também disse que a deixasse em meus cuidados.
Terminando de examinar Anne,  e após medicá-la, fiz algumas recomendações. A dor parecia-me mais muscular, que venosa, apesar de seu  antecedente. Dei as devidas orientações. Ela tinha família em Bangkok e seu cunhado era cirurgião vascular. Falou que iria fazer o ultra-som com Doppler dos membros inferiores na mesma manhã para ficar mais tranquila.
Resolvido  o caso , o colega francês me parabenizou, começamos a conversar e ele fora médico no mesmo hospital em que eu fizera o estágio em Medicina Fetal.
Uma das comandantes solicitou minha identidade médica, e que eu fizesse um breve relatório. Anne e outros funcionários da aeronave vieram me agradecer e o comandante geral disse que a companhia me oferecia quantidade de milhas suficiente para um novo vôo São Paulo-Paris ida e volta.
Fiquei muito feliz, mais do que a passagem, pelo reconhecimento e  respeito que senti por todos. E mais ainda , pela admiração que me mostrou o  colega médico francês.
Reencontrei Anne na fila da imigração , novamente agradeceu-me , tinha dormido desde então e não sentia mais dor. Contei-lhe que também  era fotografo  e conversamos do Paraty em foco.
Minha guia , recebeu-me com um Bom Dia em português, outra coincidência. Perguntei onde ela aprenderá a língua e  ela respondeu que morou no Brasil, em Goiás, precisamente em Rio Verde e que visitou várias vezes Itumbiara. Como o mundo é pequeno e tudo se conecta.
Após um breve descanso  no hotel, depois de 12 horas de vôo, e fuso horário, já reestabelecido saí para conhecer Bangkok, teria o dia livre, fiz um plano para visitar o  que não estava incluído no tour guiado  e mais algumas dicas de Dara.
Antes de terminar o primeiro quarteirão, vendo um templo hinduísta e barracas com coroas de flores coloridas penduradas, escuto:-  Bonjour, Monsieur le Docteur!

Foto e Arte: Fabricio Matheus