sábado, 9 de novembro de 2013

BUTÃO FOTOGRAFIA E A FELICIDADE




“ I also pray that while I am but king of a small Himalayan nation, I may in my time be able to do much to promote the greater well being and happiness of all people in  this world – of all sentient beigns... - His Majesty, Jigme Khesar Namgyel Wangchuck

“Rather than talking about happiness, we want to work on reducing the obstacles to happiness…” Prime Minister Tshering Tobgay

  “Se o governo não pode proporcionar felicidade para seu povo, não há propósito para que tal governo exista”. Baseado nos ideais budistas, no ínicio dos anos 70, o rei deste pequeno  país , o Butão, começou sua administração baseada no conceito de GNH( Gross national Happiness), crescimento baseado na felicidade, cujos pilares principais era que o desenvolvimento da sociedade  necessariamente ocorre quando tanto o crescimento material, quanto o espiritual acontecem juntos, um enfatizando e suportando o outro. Assim, a felicidade da nação , estaria  sustentada pela religião , no caso o budismo. E na promoção de um desenvovimento sustentável baseado na preservação e promoção dos valores culturais , na conservação da natureza e meio –ambiente e no fortalecimento de um bom governo. Em resumo, um avanço à modernidade com esforço na preservação da tradição.
E assim, o Butão ficou conhecido mundialmente como o país da felicidade. Este pequeno país do Himalaia, abriu-se recentemente ao turismo e pessoas o visitam pela natureza e a procura da felicidade. Minha visita à este país ,talvez tenha sido por esta busca, e pelo Budismo.
 No Brasil, ainda, viajar para o Butão é para poucos. É extremamente caro e poucas agências oferecem pacotes. Os pacotes oferecidos, são de um turismo de alto luxo. Em pesquisa pela internet, consegui com uma agência local, uma viagem mais em conta e segundo a mesma , oferecendo-me o mesmo tour que havia visto no Brasil.
Cheguei ao Butão, vindo de um Nepal que se transformou numa nova Índia. E o país é  realmente lindo, limpo , com  poucas desigualdades socias, é uma só religião, o Budismo. Seria quase um  Tibet com o verde.
Ainda na lembrança, os sons e cores dos países da Indochina, minha chegada ao país, depois de uma boa vinda pelo meu guia butanês, que disse e esperava que eu tivesse aqui férias memóráveis…comecei um estranhamento já no check-in do hotel;  Peaceful Resort, distante da cidade e   que de Resort não tinha nada. O quarto era excelente, então resolvi esperar pelo o quê viria a seguir. A primeira visita ao Castelo, deixou-me a desejar, quando notei que outros guias davam mais explicação que o meu, que sequer respondia minhas questões. O jantar no hotel foi decepcionante, e quando perguntei o que havia no tal Resort ,  responderam-me sem entender ,que era só aquilo. Fui ficando preocupado e inquieto.
Nos países como a Tailândia, o Laos, Vietnã e Cambodja , tudo ocorreu precisamente. Os guias, eram excelentes, mesmo quando não sabiam, tinham na face a história do seu país, as rugas das guerras e do sangue das batalhas ocorridas em suas terras. Eram generosos e faziam de tudo para agradar. Os hotéis quatro estrelas em que fiquei eram excelentes, e os restaurantes de primeira. Todos na Indochina, aprenderam espanhol morando em Cuba. Huang, o guia do Vietnã, era de uma precisão quase ditatorial, para que cumprissemos o programa. Mais de uma doçura, que quando falava suas mãos enrrugadas bailavam no ar. Apelidamos de Juanito, estava neste país com um casal de chilenos.
No Cambodja, meu guia Loung, era de uma geração que tinha perdido toda a família na Guerra de meados de 70, a geração sem família, estudara agronomia em Cuba, conversavamos sem parar sobre tudo. E quando disse que queria uma bandeira budista do cambodja, trouxe-me uma de presente na manhã seguinte.
E no país da felicidade , começaram os meus problemas. Voltei aos e-mails que havia trocado com a agência local.Escrevi que estava extremamente descontente , anexei os antigos  e  as fotos dos hoteis em que havia hospedado nos outros países e que esperava tratamento igual e conforme o combinado.
Felizmente, na manhã seguinte, o dono da agência, trocou todos os meus hoteis e buscou-me  para que jantassemos juntos.
Expliquei -lhe que não estava no seu país para festa, mas estava sentindo-me preso. Contei-lhe  sobre o guia; que havia pedido para tirar uma foto de uma ponte semelhante a ponte Vecchio de Firenze, e ele disse que haveriam outras … No almoço, sentou-me numa mesa num restaurante vazio e fiquei pelo menos 15 minutos só, sem saber o que aconteceria. Chegaram um casal de alemães e o seu guia além de conversar, explicou que seria um buffet ,que ainda não estava pronto. Depois comentou  prato por prato.
Dorji, disse que faria o possível e lamentava o ocorrido e que qualquer problema lhe telefonasse, contou –me sobre seus estudos em Darjeeling /Índia, sobre seu país e deu-me dicas. Depois do banquete oferecido , ofertou-me um presente de boa-sorte  com a vista noturna do castelo iluminado em Thimpu que parece uma jóia de ouro e rubis.
Decidi que o tal guia não estragaria a minha felicidade, quando a caminho de Punakha, passou um caminhão colorido com uma faixa: Alone but happy, apesar de já estar sentindo-me só e triste.
A vista do quarto do hotel de Punakha,  a hospitalidade e o carinho das pessoas foi tocante. O guia continuou formal. Sentindo o peso nos meus ombros da máquina fotografica, comecei a fotografá-lo  e aos poucos ele foi ficando mais tolerável,  mais amigo e no final parou na ponte que queria fotografar . Continuou a não responder minhas perguntas , mais tornou-se mais gentil…  Assim, a minha liberdade foi voltando aos poucos e com ela minha alegria.
A Dorji, escrevia-lhe agradecendo pelo cuidado e proteção que estava tendo comigo .  Contava-lhe de pronto se algo não me agradasse e novamente ele veio jantar comigo na última noite e agradeceu-me a escolha de sua agência. Este ato foi tocante e muda todo o resto, transforma as relações, mostra o carater e foi digno de respeito.
 Eu estudava todo o roteiro à noite, e os passeios foram ficando mais rápidos e tive mais tempo livre para olhar as pessoas, sentí-las. Entrar nas casas, fotografá-las. Pedia-lhes que me ensinassem a fazer comidas típicas e elas mal começavam a dizer a receita; paravam , buscavam os ingredientes e preparávamos …,as vezes  comiamos juntos… A todos que encontrava, perguntava:- Você é feliz? O que lhe faz sentir feliz? As respostas eram quase as mesmas, temos uma só religião, não há muita desigualdade social, temos um governo que zela por nós,  temos amigos…Não temos preocupações…
Mesmo com todo calor humano em que mergulhei, e profundamente tocado, comecei a sentir-me triste por elas, e feliz por mim; pela minha ocidentalidade extremamente racional, descarteano: Penso, Logo existo. Tenho problemas, resolvo. Faço minhas escolhas… sou responsável por elas.  E a felicidade tornou-se uma ilusão. O não temos preocupações era igual a não temos escolhas… Será que a felicidade era não pensar, servir? E se assim fosse  , prefiro a minha infelicidade, minhas inquietudes , minhas razão e momentos  breves de felicidade,
Assim na última manhã, no país da felicidade,  onde a felicidade me veio ao avesso, estava  ventando, mas o sol brilhava e o céu  estava tão azul que ainda se via uma meia-lua branca ao longe.
 Sentei-me fora  para o café-da-manhã e olhando o azul sobre as montanhas, vendo as bandeiras coloridas de orações tremularem …  Toda a viagem foi passando como um filme, como um album de fotografia:-  Saint Michel,  o rio Mekong, os campos suspensos dos arrozais, Ha Long Bay, os Pescadores de pérolas, Saigon, Siam Reap, Angkar, o Nepal, a paisagem do Butão, as montanhas , os mosteiros,  a subida ao sagrado Mosteiro Ninho do Tigre, os monges, os rituais budistas, com tambores, cornetas, as danças típicas, os mudras....os tetos de zinco com coberto de pimentas vermelhas. Os guias com as histórias de seus países marcadas nas rugas e estampadas na alma. As diferentes pessoas que conheci,  conversei.. entre tantas, a última  que era campeã americana de corrida de avestruz…  a dança ao redor do fogo de mãos dadas as mãos estrangeiras e desconhecidas, diferentes e iguais…Os cheiros, sons , cores…  mas a  questão  da tal felicidade não  calava:- Era ou não feliz? 
Respirei  profundamente e antes que o ar tomasse meus pulmões , comecei a ouvir  um sopro de oboé, o fagotte… Sublimes como o vento. Aos poucos ,as cordas … os sopros das flautas  foram-sem misturando com  os violinos e os cellos e no fundo uma nota de uma harpa, longe, longe… como o resto da lua. No meio da Ásia, no país da felicidade do nada começou  a tocar Mozart, depois Bach e Chopin…
Algo foi tomando conta de mim, talvez o “macio azul”  do horizonte recortado pelas montanhas e  deixei de  pensar na na felicidade. Sabia que iria acordar em Paris, terminar minhas longas férias em minha terra natal, com minha familia,. Raízes …
 Fechei-os olhos e fui enxergando as notas, numa outra dimensão , onde a música era silêncio e o pensamento era só sentimento…  A felicidade  foi se desnudando, é o mistério é simples :-  Está tudo dentro de nós… Para mim, basta fechar os olhos, que a música vêm e começo a    inventar histórias,  a sonhar,viajar em busca de mais e mais histórias que se misturem com a minha. .. Mesmo que por momentos breves, aos poucos eles se tornam mais constantes  e  assim  sem ansiar por respostas a  felicidade como uma gota tornou-se um oceano com o mesmo azul do céu…

Foto: Fabricio Matheus

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