“ I also pray
that while I am but king of a small Himalayan nation, I may in my time be able
to do much to promote the greater well being and happiness of all people
in this world – of all sentient
beigns... -
His Majesty, Jigme Khesar Namgyel Wangchuck
“Rather than talking
about happiness, we want to work on reducing the obstacles to happiness…” Prime Minister Tshering Tobgay
“Se o governo não pode proporcionar felicidade
para seu povo, não há propósito para que tal governo exista”. Baseado nos
ideais budistas, no ínicio dos anos 70, o rei deste pequeno país , o Butão, começou sua administração
baseada no conceito de GNH( Gross national Happiness), crescimento baseado na
felicidade, cujos pilares principais era que o desenvolvimento da sociedade necessariamente ocorre quando tanto o
crescimento material, quanto o espiritual acontecem juntos, um enfatizando e
suportando o outro. Assim, a felicidade da nação , estaria sustentada pela religião , no caso o budismo.
E na promoção de um desenvovimento sustentável baseado na preservação e
promoção dos valores culturais , na conservação da natureza e meio –ambiente e
no fortalecimento de um bom governo. Em resumo, um avanço à modernidade com
esforço na preservação da tradição.
E assim, o Butão
ficou conhecido mundialmente como o país da felicidade. Este pequeno país do
Himalaia, abriu-se recentemente ao turismo e pessoas o visitam pela natureza e
a procura da felicidade. Minha visita à este país ,talvez tenha sido por esta
busca, e pelo Budismo.
No Brasil, ainda, viajar para o Butão é para
poucos. É extremamente caro e poucas agências oferecem pacotes. Os pacotes
oferecidos, são de um turismo de alto luxo. Em pesquisa pela internet, consegui
com uma agência local, uma viagem mais em conta e segundo a mesma ,
oferecendo-me o mesmo tour que havia visto no Brasil.
Cheguei ao Butão,
vindo de um Nepal que se transformou numa nova Índia. E o país é realmente lindo, limpo , com poucas desigualdades socias, é uma só
religião, o Budismo. Seria quase um Tibet com o verde.
Ainda na
lembrança, os sons e cores dos países da Indochina, minha chegada ao país,
depois de uma boa vinda pelo meu guia butanês, que disse e esperava que eu
tivesse aqui férias memóráveis…comecei um estranhamento já no check-in do hotel;
Peaceful Resort, distante da cidade
e que de Resort não tinha nada. O quarto era
excelente, então resolvi esperar pelo o quê viria a seguir. A primeira visita
ao Castelo, deixou-me a desejar, quando notei que outros guias davam mais
explicação que o meu, que sequer respondia minhas questões. O jantar no hotel
foi decepcionante, e quando perguntei o que havia no tal Resort , responderam-me sem entender ,que era só aquilo.
Fui ficando preocupado e inquieto.
Nos países como a
Tailândia, o Laos, Vietnã e Cambodja , tudo ocorreu precisamente. Os guias,
eram excelentes, mesmo quando não sabiam, tinham na face a história do seu
país, as rugas das guerras e do sangue das batalhas ocorridas em suas terras.
Eram generosos e faziam de tudo para agradar. Os hotéis quatro estrelas em que
fiquei eram excelentes, e os restaurantes de primeira. Todos na Indochina,
aprenderam espanhol morando em Cuba. Huang, o guia do Vietnã, era de uma
precisão quase ditatorial, para que cumprissemos o programa. Mais de uma doçura,
que quando falava suas mãos enrrugadas bailavam no ar. Apelidamos de Juanito,
estava neste país com um casal de chilenos.
No Cambodja, meu
guia Loung, era de uma geração que tinha perdido toda a família na Guerra de
meados de 70, a geração sem família, estudara agronomia em Cuba, conversavamos
sem parar sobre tudo. E quando disse que queria uma bandeira budista do
cambodja, trouxe-me uma de presente na manhã seguinte.
E no país da
felicidade , começaram os meus problemas. Voltei aos e-mails que havia trocado
com a agência local.Escrevi que estava extremamente descontente , anexei os
antigos e as fotos dos hoteis em que havia hospedado nos
outros países e que esperava tratamento igual e conforme o combinado.
Felizmente, na
manhã seguinte, o dono da agência, trocou todos os meus hoteis e buscou-me para que jantassemos juntos.
Expliquei -lhe
que não estava no seu país para festa, mas estava sentindo-me preso. Contei-lhe
sobre o guia; que havia pedido para
tirar uma foto de uma ponte semelhante a ponte Vecchio de Firenze, e ele disse
que haveriam outras … No almoço, sentou-me numa mesa num restaurante vazio e
fiquei pelo menos 15 minutos só, sem saber o que aconteceria. Chegaram um casal
de alemães e o seu guia além de conversar, explicou que seria um buffet ,que
ainda não estava pronto. Depois comentou prato por prato.
Dorji, disse que
faria o possível e lamentava o ocorrido e que qualquer problema lhe telefonasse,
contou –me sobre seus estudos em Darjeeling /Índia, sobre seu país e deu-me
dicas. Depois do banquete oferecido , ofertou-me um presente de boa-sorte com a vista noturna do castelo iluminado em
Thimpu que parece uma jóia de ouro e rubis.
Decidi que o tal
guia não estragaria a minha felicidade, quando a caminho de Punakha, passou um
caminhão colorido com uma faixa: Alone but happy, apesar de já estar
sentindo-me só e triste.
A vista do quarto
do hotel de Punakha, a hospitalidade e o
carinho das pessoas foi tocante. O guia continuou formal. Sentindo o peso nos
meus ombros da máquina fotografica, comecei a fotografá-lo e aos poucos ele foi ficando mais tolerável, mais amigo e no final parou na ponte que
queria fotografar . Continuou a não responder minhas perguntas , mais tornou-se
mais gentil… Assim, a minha liberdade
foi voltando aos poucos e com ela minha alegria.
A Dorji,
escrevia-lhe agradecendo pelo cuidado e proteção que estava tendo comigo . Contava-lhe de pronto se algo não me
agradasse e novamente ele veio jantar comigo na última noite e agradeceu-me a
escolha de sua agência. Este ato foi tocante e muda todo o resto, transforma as
relações, mostra o carater e foi digno de respeito.
Eu estudava todo o roteiro à noite, e os
passeios foram ficando mais rápidos e tive mais tempo livre para olhar as
pessoas, sentí-las. Entrar nas casas, fotografá-las. Pedia-lhes que me
ensinassem a fazer comidas típicas e elas mal começavam a dizer a receita;
paravam , buscavam os ingredientes e preparávamos …,as vezes comiamos juntos… A todos que encontrava,
perguntava:- Você é feliz? O que lhe faz sentir feliz? As respostas eram quase
as mesmas, temos uma só religião, não há muita desigualdade social, temos um
governo que zela por nós, temos amigos…Não
temos preocupações…
Mesmo com todo
calor humano em que mergulhei, e profundamente tocado, comecei a sentir-me
triste por elas, e feliz por mim; pela minha ocidentalidade extremamente
racional, descarteano: Penso, Logo existo. Tenho problemas, resolvo. Faço
minhas escolhas… sou responsável por elas. E a felicidade tornou-se uma ilusão. O não
temos preocupações era igual a não temos escolhas… Será que a felicidade era
não pensar, servir? E se assim fosse ,
prefiro a minha infelicidade, minhas inquietudes , minhas razão e momentos breves de felicidade,
Assim na última
manhã, no país da felicidade, onde a
felicidade me veio ao avesso, estava ventando,
mas o sol brilhava e o céu estava tão
azul que ainda se via uma meia-lua branca ao longe.
Sentei-me fora
para o café-da-manhã e olhando o azul sobre as montanhas, vendo as
bandeiras coloridas de orações tremularem … Toda a viagem foi passando como um filme, como
um album de fotografia:- Saint Michel, o rio Mekong, os campos suspensos dos
arrozais, Ha Long Bay, os Pescadores de pérolas, Saigon, Siam Reap, Angkar, o
Nepal, a paisagem do Butão, as montanhas , os mosteiros, a subida ao sagrado Mosteiro Ninho do Tigre, os
monges, os rituais budistas, com tambores, cornetas, as danças típicas, os
mudras....os tetos de zinco com coberto de pimentas vermelhas. Os guias com as
histórias de seus países marcadas nas rugas e estampadas na alma. As diferentes
pessoas que conheci, conversei.. entre
tantas, a última que era campeã americana
de corrida de avestruz… a dança ao redor
do fogo de mãos dadas as mãos estrangeiras e desconhecidas, diferentes e iguais…Os
cheiros, sons , cores… mas a questão da tal felicidade não calava:- Era ou não feliz?
Respirei profundamente e antes que o ar tomasse meus
pulmões , comecei a ouvir um sopro de
oboé, o fagotte… Sublimes como o vento. Aos poucos ,as cordas … os sopros das
flautas foram-sem misturando com os violinos e os cellos e no fundo uma nota de
uma harpa, longe, longe… como o resto da lua. No meio da Ásia, no país da
felicidade do nada começou a tocar
Mozart, depois Bach e Chopin…
Algo foi tomando
conta de mim, talvez o “macio azul” do
horizonte recortado pelas montanhas e deixei de
pensar na na felicidade. Sabia que iria acordar em Paris, terminar
minhas longas férias em minha terra natal, com minha familia,. Raízes …
Fechei-os olhos e fui enxergando as notas,
numa outra dimensão , onde a música era silêncio e o pensamento era só sentimento…
A felicidade foi se desnudando, é o mistério é simples :- Está tudo dentro de nós… Para mim, basta
fechar os olhos, que a música vêm e começo a
inventar histórias, a sonhar,viajar em busca de mais e mais
histórias que se misturem com a minha. .. Mesmo que por momentos breves, aos
poucos eles se tornam mais constantes
e assim sem ansiar por respostas a felicidade como uma gota tornou-se um oceano
com o mesmo azul do céu…
Foto: Fabricio Matheus
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