segunda-feira, 18 de julho de 2011

CEMITÉRIO DA CONSOLAÇÃO



“Para quê preocuparmo-nos com a morte? A vida tem tantos problemas que temos de resolver primeiro.”Confúncio

Anos atrás quando estava em Paris, minha amiga disse que não deveria deixar de visitar o “ Cimetiere du Pére-Lachaise” . Era minha primeira vez na cidade Luz , onde faria um estágio em Medicina. Estava hospedado na Cité Universitaire na Maison du Brésil desenhada por Le Corbusier. E pensava, com tanta coisa para ver e conhecer por quê visitar uma cemitério. No meu guia eram no mínimo quatro páginas dedicada ao lugar, e enfim acabei cedendo e por outras pessoas que me disseram o mesmo fui ao Pére-Lachaise e foi uma visita inesquecível aos túmulos de Oscar Wilde, Jim Morrison, Alan Kardec, Edith Piaf, Sarah Bernard, Proust, Balzac, Moliere, La Fontaine, Yves Montand,Isadora Duncan, Chopin entre tantos....
Passo todos os dias pelo cemitério da Consolação e já havia lido a respeito da visita guiada e dos monumentos do local, que é reverenciado como “museu a céu aberto”, devido à inúmeras obras de escultores como Brecheret, Galileu Emendabili, Nicola Rollo, Bruno Giorgi, Francisco Leopoldo e Silva. Refletindo o momento do crescimento industrial e econômico da metrópole, parte da história de personalidades e famílias responsáveis pelo que São Paulo é hoje.
A visita guiada deve ser agendada pelo site da prefeitura , ou pelo telefone (11)33963832. Acontece de 2° a 6° das 9:30 às 11:30 ou das 14:00 às 16:30 hrs. Deve se especificar se irá tirar fotos, para que se faça uma permissão assinada no local.O agendamento deve ser feito no mínimo com 48 horas de antecedência e é um serviço gratuíto. Pode se visitar o cemitério sem agendamento. Há um mapa com três roteiros: - Escultores marcados em azul. Intelectuais , artistas e homens públicos em verde e Políticos em vinho, que segundo o guia é de menor interesse. Há os túmulos daqueles que são considerados santos e cultuados como tal. Entre eles o de Antonino da Rocha Marmo. Um pré adolescente que queria ser padre e foi vítima de tuberculose e acabou morrendo muito ,muito jovem. Minha avó era devota, e tinha na canto de seu quarto juntos à outros santos a foto do menino em preto e branco com rosas secas num vidro côncavo. Foi uma emocionante e saudosa lembrança!
O guia do cemitério é o funcionário Francisvaldo Gomes , mais conhecido como “Popó”, que aprendeu tudo com um dos maiores pesquisadores do patrimônio local e arte tumular; o advogado, escritor e historiador, Dr. Délio Freire dos Santos, que hoje repousa sereno no local, com justas homenagens dos funcionários do serviço funerário municipal.
A tarde estava de um sol agradável, temperatura amena. Francisvaldo, o “popó”, com anos de experiência, torna a visita muito mais interessante , contando-nos histórias que lemos e aprendemos nos livros de personalidades como Mário de Andrade, Oswald Andrade, Tarsila do Amaral, Guiomar Novaes, Maestro Chiafarelli, a Marquesa de Santos, Liberó Badaró, Itála Fausta, Pérola Byington, Antônio Alcantâra Machado, Flávio Império, Monteiro Lobato, Emilio Ribas....Das famílias Matarazzo, Prado, Simonsen. Dos políticos como Campos Sales, Washington Luís, Ademar de Barros, Armando Sales de Oliveira e tantas outras histórias interessantes  que vão se misturando aos masoléus e túmulos locais,como o medalhão em bronze da fábrica de Chapéus João Adolfo que mostra um mapa da cidade de São Paulo e do vale do Ahangabaú quando se cultivava o chá com os corregos do vale o o saracura se cruzando na intersecção, onde hoje começa a nove de julho. A tarde foi curta. Muito curta para tantas histórias e tanta arte, com uma vontade de voltar e aprender mais....
Os últimos momentos que passei no local, estava sozinho e voltei à lugares que queria fotografar.É muito fácil se perder , guiando-se somente com o mapa local, e nada encontrar. Há pouca identificação das ruas e quadras , algumas sem saídas. Algumas vezes, como por sorte, depara-se ao acaso com um local interessante ou já procurado.
Nestes últimos momentos,além exímia limpeza local, o que mais me tocou foi uma sensação de paz, serenidade e um silêncio que só era interrompido pelo vento entre as árvores e cantos de pássaros. Foi como se a morte por um instante me mostrasse cordialmente o seu lado oculto, sem no entanto revelar o seu secreto.
 Em nenhum momento desejei morrer , pelo contrário; Confesso,  que  minha escolha pela medicina foi pela não aceitação da morte.Mas no final da tarde de inverno na cidade de São Paulo, por um momento, eu fiz as pazes com algo desconhecido e  talvez tenha sido tocado por  parte do mistério da vida.
Passei na administração para agradecer a cordialidade e gentileza e despedir-me de Francisvaldo, que agora sabendo que eu era médico, pediu-me uma consulta e um conselho, mostrando-me um nódulo no pescoço. Seu colega de trabalho , antes que eu respondesse qualquer coisa, disse : - “popó”, fique tranquilo que seu destino é certo, não precisa nem olhar longe, é aqui mesmo...

Fotos:Fabricio Matheus

Mais fotos :


OBS:As fotos seguem as normas estabelecidas pela prefeitura. Foram exercício para o curso de fotografia da EPA , não serão publicadas e não contém nenhuma identificação pessoal.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A MORTE DA MINHA VIZINHA



Não conseguia dormir: O som, o barulho da rua era infernal. Parecia que minha cama estava no meio da Teodoro Sampaio, quando um ônibus passava parecia que passava do lado da minha cama. Aquilo já começava a perturbar minha vida e minha rotina. Estava dormindo mal. Entre meus sono e sonhos , sons de carros, buzinas e os ônibus...Ah! os ônibus!!!!
Um amigo que teve o mesmo problema , aconselhou-me de colocar janelas anti-ruídos. E foi o que fiz.
Assim que instalei as novas janelas, os sons que outrora perturbavam meus sonhos se esvaneceram. O silêncio musical, a paz voltou ao meu leito e nada parecia mais perturbar o meu repouso noturno.
Mas o silêncio que parecia eterno ,não durou muito. Comecei a ouvir vozes e barulhos que antes eram abafados e imperceptíveis pelo som que vinha da rua. Ouvia os passos do vizinho de cima e outros sons começaram a surgir num crescendo de ruídos que começaram novamente a interromper o meu descanso.
Comecei a escutar discussões altíssimas, brigas que começavam ali pelas quatro da manhã quando me encontrava no mais profundo dos sonhos. Perguntei ao zelador, o seu Aroldo sem “H”, quem era os meus vizinhos de cima.
Ele disse que era uma senhora nos seus oitenta e pouco anos. Sozinha, e que estava variando. Eu que o diga , pois a cada noite eram discussões intermináveis, gritos , batidas , sons de martelos e outros tipos.
No elevador perguntei ao vizinho de andar da senhora anciã , se eles escutavam alguma coisa. E foi um alívio para eles não sentirem os únicos perturbados pelos barulhos da senhorinha. Eles me contaram que era o dia inteiro, gritando e conversando sozinha. Ainda, do nada, deram graças por ela não ter um animal.
O seu Aroldo me contou que os filhos mal a visitavam. Que ela não permitia que se entrasse no apartamento . E o único dia em que ela parecia sã , era o dia em que recebia o dinheiro do aluguel de sua garagem.
As discussões pela madrugada afora pareciam intermináveis. Queixei-me ao sindico, o seu Bernardo, que já conhecia as queixas e era inclusive um dos atingidos, que me disse que já tinha enviado uma carta aos filhos, para que eles tomassem alguma providência, pois a tal velhinha sozinha estava atrapalhando o sono e a paz do seu andar , do superior e inferior, que no caso era eu.
Contaram-me que ela dizia que havia uma prostituta que morava no prédio e a perturbava.Entre outras histórias, sempre desconexas. Ora dizia, que tinha cortado sua cortina, entre outros causos.Sempre e todos os dias, uma nova história era contada ao seu Aroldo que sequer podia passar da porta da cozinha. O senão, é que por meses, as discussões da pobre solitária idosa perturbou todos os vizinhos. As cartas enviadas pelo sindico do prédio não encontrou respaldo nos filhos da velha. Eles sequer vieram visitá-la , e fomos nos acostumando,e nos adaptando as discussões que surgiam no meio do silêncio da madrugada e do nada e de repente nos despertava.
Algumas noites, eu mesmo pensei e quase cheguei a interfonar para conseguir calar a velhinha, mas o meu cansaço era maior. Disse ao sindico que ela precisava de uma assistência, um médico, e que certamente estava tendo alucinações entre outras coisas que ele também concordou . Disse-me, que tinha inclusive telefonado aos filhos ,sem resposta.Enquanto ela se negava a conversar com o zelador e com o sindico, e só se manifestava no dia do pagamento da garagem alugada.
De manhã ,eu abria a janela anti-ruído para que entrasse a brisa fresca do novo dia e já tinha um certo arrependimento. O mesmo amigo que me aconselhou a colocar a janela , dizia-me agora, para colocar um ventilador de teto que certamente abafaria o som superior. Conselho que não segui, por pura estética.
Na semana passada, numa noite. Ali pela madrugada , no melhor do meu sono e sonho, de súbito fui despertado por uma discussão e vociferações incompreensíveis e perturbadoras , como jamais ouvira. Quando já havia decidido ligar para a portaria ou para a própria vizinha, tudo se aquietou. Voltei a dormir e pensei mais uma vez:-amanhã pergunto ao seu Aroldo.
Inesperadamente, comecei a ouvir sons de martelos e batidas de portas, que novamente acabaram com o meu sossego que já não mais existia. Mal pensei comigo: Não é possível! Tudo se calou do nada e voltei a dormir.
Na manhã da mesma madrugada, quando saía para o trabalho, ainda garagem ,quando fui me queixar ao seu Aroldo dos ruídos da noite. Antes que eu abrisse a boca; ele com seu olhar, direcionou o meu para um carro funerário que deixava o prédio.
Ele balançava a cabeça e dizia: -Ela gritou tanto, que fomos ver o que acontecia. Tocamos o interfone, a campainha e nada... Por fim ,resolvemos arrombar a porta . Ela estava caída no corredor.Avisamos os filhos e eles mandaram a funerária.
Não cheguei a conhecer a minha vizinha solitária , anciã e abandonada pela família, que sobreviveu nos últimos dias de seus delírios que tanto perturbaram os sonos e sonhos alheios, e não ecoaram nos seus mais próximos.
O anúncio de sua morte permaneceu nos elevadores por um dia.Em menos de uma semana , já tinha uma placa de “ vende-se” em frente o prédio. Por enquanto , o resto é silêncio....

Foto:Fabricio Matheus

segunda-feira, 27 de junho de 2011

FESTAS JUNINAS



“O grande homem é aquele que não perdeu a candura de sua infância”provérbio chinês.

Eu sou de uma época que não era tão longíqua como nos tempos do imperador, e de uma cidade do interior em que as Festas Juninas eram esperadas e celebradas sempre com alegria, promessas ou em louvor à vida.
As festas juninas estão historicamente relacionadas aos rituais pagãos do solstício do verão do hemisfério norte, e aqui chegaram com a colonização portuguesa , inicialmente chamadas de joaninas em honra a Dom João VI, ficaram juninas por serem em Juno e datadas nos dias dos santos populares da terrinha; dia 13 de junho dia de Santo Antônio, dia 24 de junho São João e 29 de junho São Pedro.
Eu não sabia disto, elas me foram introduzidas pelas histórias e pelo encantamento dos fogos e da fogueira. A fogueira segundo a lenda católica vêm de Isabel que a ascendeu para pedir ajuda à Maria e avisá-la sobre o nascimento de São João Batista. As cores das bandeirinhas, e toda a preparação da festa me encantava. As comidas eram feitas de milho , mandioca e muito amendoim.Tinha o quentão , o vinho quente que era de certa forma proibidos para as crianças, só podíamos provar.
Os mastros adornados e coloridos, exibiam as imagens dos santos a que o dia evocava. Mas o mistério maior eram as simpatias contadas por minha avó. Segundo ela colocava-se numa bacia virgem cheia de aguá , alguns limões colhidos no dia com o nome da pessoa, os limões que se encontravam eram os pares que se casariam, e foi assim que a tia Juraci encontrou o tio Chicão. Na véspera de São João, ou Santo Antônio, ao se introduzir uma faca virgem numa bananeira à meia-noite, a mesma amanheceria com a inicial do futuro marido ou mulher.
Tudo era à meia-noite da véspera, e tudo tinha que ser virgem e intocável. Por exemplo , ao se acender um fósforo à meia-noite na frente de um espelho virgem , jamais olhado por alguém , ver-se- ia a imagem do futuro ou eterno amor e muitas outras histórias me foram contadas.
Tinha o pau- de- sebo, a sanfona que embalava as noites frias, as quadrilhas e as roupas xadrezes, muitas delas de flanela. Sempre os remendos nas calças, o falso bigode ou a falsa barba, o pito e o chapéu de palha ou “ paiá".
Na escola, durante a minha infância apesar de toda a alegria, eu sempre ficava ansioso e com medo. Sempre era o último a ser escolhido como par para a quadrilha por ser gordinho, lembro-me que na quarta série só me sobrou a Soraia.Depois foi ficando mais fácil, à medida que eu crescia e perdia peso, assim fiz par com a Jussimar, com a Silvana e no colegial já em São Paulo com a Ana Rita, e ganhamos o prêmio de noivos do ano, que eram algumas canetinhas coloridas. Eu usava uma calça boca de sino roxa e acho que ganhei por queê fui andando com os trajes pelas ruas de Pinheiros e me viram chegar andando como um verdadeiro caipira  mundando que sou.
Tinha muitas brincadeiras, mas a eterna era a pescaria. Tinha os correios elegantes para se mandar mensagens à pessoa querida. As prendas, e a eleição da rainha da festa ,que era aquela que conseguia arrecadar mais dinheiro para a escola ou a paróquia. Eram sempre vários acontecimentos, tinham os casamentos, os batizados ao redor da fogueira.Eu mesmo fui padrinho da Jaqueline que hoje mora em Jericoacoara. E depois de tudo, com a fogueira quase só carvão, tinham aqueles, os de muita fé e coragem, que caminhavam descalços sobre o vermelho incandescente da brasa que era reacesa, mais um mistério entre os tantos outros.
Como disse o Caetano Veloso em sua coluna do Globo de domingo (26/06), “as canções e histórias que aprendemos na infância atingem uma grandeza dentro de nós inalcançável pelas que ouvimos na maturidade.”
Hoje, em minha cidade natal, uma das maiores festas populares é o “Arraiá” que acontece em junho e mantêm a tradição das festas juninas. Neste final de semana fui com amigos na festa junina da Igreja do Perpétuo Socorro, ainda existe algumas em Sampa, como a da Igreja do Calvário que resistem e mantém a tradição.
Ao som do forró , das roupas coloridas , de comidas típicas e de um padre desbocado que conduzia a quadrilha com um humor único.Revi minha infância não perdida, mas guardada num escaninho secreto , e como num conto de Andersen , ao som da sanfona, do triângulo e dos casais e crianças dançando, minha avó me contava novamente todas as suas histórias...

Arte:Fabricio Matheus

domingo, 26 de junho de 2011

TRILHAS SONORAS DE AMOR PERDIDAS


“No teatro descobri que existem duas realidades, mas a do palco é muito mais real”Arthur Miller

“Faço teatro para incomodar os que estão sossegados.”Plinio Marcos

“O mundo é um grande palco de teatro, onde nós somos os principais atores diante do grande espetáculo da vida”Nelson Rodrigues

Há peças de teatro que ficam para sempre em nossas vidas, eu poderia citar algumas, mas Trilhas Sonoras de Amor Perdidas, é uma destas que ficará para sempre em minha vida. A peças esta em temporada no Sesc Belenzinho, como parte da mostra da Sutil Companhia de Teatro que completa 18 anos sob a direção de Felipe Hirsh, que está com outras peças em cartaz no Sesc Thom Pain e Lady Grey de Will Eno da companhia e no teatro FAAP com Pterodáctilos com Marco Nanini e Mariana Lima.
Trilhas Sonoras de Amor Perdidas, seria a segunda parte da Trilogia Som & Fúria iniciada em 2000 com “ A vida é Cheia de Som e Fúria” , peça que fez conhecida a companhia no eixo Rio –São Paulo.
Várias canções costuram a história do personagem principal que nos conta sua vida , sua história de amor e morte, o que é comum a qualquer ser mortal como nós. A direção é precisa, o cenário de Daniela Thomas e Valdy Lopes é simples, mas o necessário, nada supérfluo. A iluminação de Beto Bruel também na medida certa. Figurinos de Verônica Julian, naquele ditado do menos é mais. Ressalto a assistência de operação de iluminação e vídeo e a operação da trilha sonora por Sarah Salgado e NIetzche, respectivamente, com o mesmo nome do filósofo.
Mas o fundamental disto tudo ,é o que liga e faz a intersecção , a química do espetáculo é o ator Guilherme Weber. Tive a sorte de em menos de dois dias vê-lo atuar em Thom Paim e no Trilhas, e o palco é dele. Ele nos encanta enquanto ator e nos arrebata com o personagem que narra sua história de vida , amor , medos e perdas costuradas pelas músicas , pesquisadas pelo diretor que é um espetáculo à parte. Guilherme Weber é um dos melhores atores da atualidade, é generoso para com suas parceiras , é diferente em cada personagem. Cada trabalho seu é um lapidar da alma alheia ; seu personagem de Thom Paim não têm nada haver com o do Trilhas. O ator ao narrar sua história de vida, do personagem, com suas canções, nos seduz.Ficamos à mercê de suas ações, e entregues ao seu domínio e somos incapazes de conter nossas emoções . Como diria , qualquer um, ele nos leva à catarse definitiva. Por mais diferentes que sejamos daquele que nos fala, há algo em comum que identificamos de pronto em nossa alma, e nossos olhos ficam marejados, nossa razão se esvai é somos todo sentimento.
Sou muito racional, fico analisando tudo: Luz, cenário, figurino, estrutura dramática do texto que inicialmente achei até parecida com o Rock n’Roll do Tom Stoppard, mas menos político e mais pessoal, que também é outra forma de transformar o mundo. Como médico veio o por quê daquilo, pois já vivi situações parecidas. Algumas músicas faziam parte de minha história, apesar de minha história ser diferente da do protagonista.Temos o mesmo tempo, é fui de uma época em que gravei muitas fitas cassetes, para diferentes fins, mais principalmente para o amor. Mais que gravar fitas cassetes, a música é parte de minha vida. Toda a minha história, lembranças, memórias são entremeadas de música, tenho uma trilha sonora e minha vida poderia ser contada em música.
Natália Lage acompanha bem Guilherme nesta viagem como Soninho, a participação de Maureen Miranda é pequena , mais é uma atriz que preenche o palco. Isabel Wilker têm DNA, mas precisa de tempo e de sentir um pouco mais o que diz, não no sentido Stanislavski, no sentido de uma verdade que talvez o tempo de observação da atuação do Guilherme Weber a faça descobrir.
Escrevo pois não consigo dormir sem expressar o que todo o meu ser vibra neste momento depois da transformação vivida pelo espetáculo. Às vezes para organizar meus pensamentos à escrita tomo um gole de vinho que é a bebida do Deus do Teatro, e me faz celebrar a felicidade de minha vida , e de ter assistido um espetáculo tão forte e vivo .
Eu diria que como o personagem de Trilhas ,ainda não resolvi certas questões de minha vida, e o teatro é uma delas.Certamente por medo!O teatro é minha grande paixão, responsável pelo meu aprendizado de vida. Sou ator, mais antes de ser ator, quando era um mero espectador como o Tom Wingfield , personagem de Tenessee Williams e vivia minha vida mais no cinema e no teatro; foi nos bastidores da peça Jardim de Cerejeiras de Tchekhov que Sergio Brito me disse, se você quiser ser do teatro ,você têm que conhecer a vida. Como médico que também já fui, escutamos muitas histórias de vida e morte.Mas para conhecer realmente a vida, há que se ler muito e viver mais ainda a sua vida antes de viver a vida alheia.Acho que um pouco eu aprendi?
Algumas peças como já disse ficam para sempre em nossas vidas. “Al di lá” do filme Candelabro Italiano, hoje me faz lembrar mais a abertura da peça A cerimônia do Adeus escrita e dirigida por Mauro Rasi, que a própria Itália. Peças como Adorável Julia com a Marília Pera. De braços abertos com Irene Ravache e Juca de Oliveira. Morte Acidental de um Anarquista e Cyrano de Bergerac com o Fagundes. Vêm Buscar-me que ainda sou teu do Sofredini dirigida pelo Gabriel Vilela, que dirigiu a mais bela montagem de Romeu e Julieta com o Galpão e tantas outras viscerais do grupo Vertigem. El dia em que me queiras do Cabrujas com o Folias. Denise Stoklos.Fernanda Montenegro e Fernanda Torres. Raul Cortez, Paulo Autran, Renato Borghi. Giovanni do Baldwin dirigida pelo Iacov com o Caíque Ferreira e tantas , tantas outras... As atuais: O Idiota , Deus da Carnificina e Luis Antonio Gabriela.
Mas nesta noite de chuva. Noite em que aconteceu na cidade de São Paulo uma das maiores paradas Gays, em prol da diversidade, do respeito e da dignidade do ser humano. Numa sala de teatro na zona leste, um texto permeado de músicas apaixonantes, com um ator apaixonado que contava uma história de amor costuradas por estas músicas, emocionou- me.Fez-me chorar e sonhar. ..Tocou naquele lugar desconhecido, talvez na alma ou no coração, não sei precisar a localização, mas que todos os humanos têm. E é lá que o teatro como arte consegue ser eterno.Nesta recôndita área de luz , sombra e todas as cores, que as palavras desta história transformou minha vida para sempre...
Se  ainda tivesse um gravador, gravaria uma fita cassete cinza TDK, mas certamente farei  uma play-list particular  com o nome :Trilhas Sonoras de Amor Perdidas,que é imperdível, a peça. Como diz o programa:- saí da peça "sem fôlego", mas não só com o coração, saí inteiro coberto de poesia... e vida. 

Arte:Fabricio Matheus

segunda-feira, 20 de junho de 2011

MIDNIGHT IN PARIS



“We’ll always have Paris” do filme Casablanca

“Paris é um seminário, um curso de pós-graduação em Tudo. "James Thurber, em uma carta a um amigo (1918)

"O amor só vale a pena quando o sexo suspende nosso medo da morte"E.Hemingway

Se você é apaixonado por Paris como eu sou, não perca o novo filme de Woody Allen:Meia-noite em Paris.
Logo na sequência de abertura já dá vontade de sair do cinema e embarcar no vôo da Air France sem escala para sair caminhando à beira do Sena.
A história que para alguns pode parecer ingênua , um conto de fadas, um “cinderelo” que depois da meia-noite encontra seus pares e sua turma.
O personagem principal Gil Pender vivido pelo ótimo ator Owen Wilson, está de férias em Paris com sua noiva. É um bem sucedido roteirista em Hollywood, mas não se sente feliz. Seu sonho é escrever um romance que se iguale aos seus ídolos; escritores americanos que viveram em Paris nos anos 20.Sua noiva , que ele se diz apaixonado, não têm nada de comum com seus desejos , projetos e sonhos... às vezes , nos sabemos disso, sentimos, mas não queremos enxergar, por medo da solidão e outros medos.
Não se preocupe que não irei contar a história: Il faut y aller!Todos os atores estão bem, e a Carla Bruni fez direitinho seu papel.
Toda viagem já é uma grande descoberta. Num de seus pensamentos, o protagonista  nos diz, que o progresso é ótimo.Sair em busca de novos mundos.Descobrir o espaço, novos seres; tudo isto é interessantíssimo. Mas ainda bem que existe Paris. E feliz dos seres que sabem que há no mundo uma cidade como Paris, onde, como no cinema você pode fazer seus sonhos se tornarem verdades. Onde ,somente de se perder , exista a possibilidade de descobrir-se no seu caminho.
E é isso que Allen nos mostra, Gil se perde todas as noites depois das doze badaladas , para se encontrar com ele mesmo no seu mundo real. Há quem diga que algumas soluções do diretor parecem ingênuas, mas as mesmas arrancam gargalhadas da platéia.Identifiquei-me de imediato com o personagem. E fiquei feliz de já ter realizados sonhos na cidade luz, desde os mais simples como passar um aniversário com um pic-nic na Pont des arts com a Tour Eiffel brilhando ao longe, no frio de chapeuzinho de aniversário e soprando língua-de sogra.... De ser beijado quando “la grand roue” parou exatamente no meio e toda a cidade estava aos meus pés. De caminhar pela chuva, debruçar-me sobre uma das pontes do Sena e ver um casal apaixonado dançar ao som de uma acordeon “Sûr Le ciel de Paris” sans étoiles.
Gostaria de encontrar-me com meus ídolos e escritores franceses como Moliére, Rimbaud, Victor Hugo, Baudelaire, Proust, Balzac e tantos outros.Assim como gostaria de me encontrar no Rio antigo com Machado, passear em Cordisburgo com Guimarães Rosa , à beira do Tejo com Fernando Pessoa e em Florença com Dante acompanhados de Virgilio. Há algo dentro de mim que às vezes até o faz acontecer, talvez o meu segredo maior, meus sonhos e minha imaginação.
Fazia tempo que não ia ao cinema, o que para um cinéfilo é vergonhoso. Mas lavei a alma. Além de ter assistido o filme no cine Sabesp, que faz parte de minha história, desde o antigo Fiametta, e que estava lotado. Quando terminou o filme, como o protagonista, fiquei feliz da minha história, do meu tempo, reconheci-me eu. E fiz de conta que a Teodoro Sampaio era uma rua em Paris, o Champ Elysées, “pourquoi- pas” e alguma das torres da Paulista , ou da TV Cultura a Tour Eiffel. Minha alma era de uma alegria quase infantil e eu não consegui parar de sorrir para mim mesmo. ..

Arte:Fabricio Matheus

domingo, 19 de junho de 2011

MEU SOBRINHO GUSTAVO



"A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final."
Luís Fernando Veríssimo

Este é o cariótipo do meu sobrinho Gustavo, ou seja, o seu mapa genético. Tudo que o Gustavo será está contido nestas pequenas bandas destes cromossomos , identificados pelo seu tamanho, posição de seus centrômeros e padrão de onda, que estão arrumados em pares de homólogos em ordem decrescente de tamanho.
Este é o campo futuro da engenharia genética, que se fosse mais fundo no exame deste cariótipo, poder-nos-ia dizer se o pequeno Gustavo terá diabetes, câncer e outras doenças. Assim , por meio de rearranjos nas pequenas bandas específicas, realizar mutações, trocas para previní-las. Este é o caminho futuro da medicina.
Por enquanto, este mapa de pequenos “Xs” listrados, nos mostra que o Gustavo está bem , é do sexo masculino e não têm nenhuma síndrome genética.Para a nossa felicidade. Gustavo é esperado com ansiedade e alegria de toda a família.
Sabe-se que à partir dos 35 anos, aumenta-se a change de ocorrer translocações nestes pequenos “Xs” e aumenta concomitantemente o risco de uma síndrome genética, a mais comum , a Trissomia do 21, famosa Síndrome de Down.
O que quero discutir aqui, é sobre ética e medicina. No Brasil, este exame está restrito a um grupo seleto de pacientes, devido ao custo. Realizado nas Universidades nos casos de suspeitas de mal-formações fetais.Não é o caso de uma eugenia, ou seja , a criação de uma raça perfeita.Hoje as familias são cada vez menores. A mulher , engravida cada vez mais tarde, por problemas diversos, inclusive , adiando a gestação em prol da carreira e trabalho.
A verdade, é que a grande maioria das pacientes que realizam este exame, pertence a uam classe privilégiada , como disse acima, e como a lei brasileira, permite o aborto somente em casos de risco de vida materna e estupro. Alguns casos não compatíveis com a vida , já existe uma jurisprudência , permitindo o aborto. Mas , as pacientes, que têm acesso a este tipo de exame , é que apresentam alterações, recorrem ao aborto ilegal, claro, que de uma forma assistida , é sem risco. O que não é o caso, da grande maioria dos abortos ilegais , cujas pacientes recorrem por decisão própria, e inquestionável, visto ser ela a responsável legal por sua decisão, seus atos, de não levar a gestação a termo, seja o motivo pessoal que for. Estas são as grandes vitimas dos abortos ilegais, mal assistidos.A discussão é ampla , é envolve principalmente o fator sócio- econômico.
Sem falsas demagogias. Esta semana atendi uma adolescente com síndrome de Down, linda!Sua trissomia é leve. Ela tinha um problema no ombro. Sua mãe é professora do ensino secundário. Tive a liberdade de perguntá-la ,após o exame, e que ela me respondesse sem o amor de mãe que ela sente agora pela filha, de forma sincera: - Se ela soubesse previamente que sua filha fosse portadora da trissomia do 21, ela teria ou não abortado?
Ela me respondeu primeiro que  a teve antes dos vinte e cinco anos. Sua gestação fora fruto de uma relação extra-conjugal. Somente por este motivo, ela já pensará previamente em abortar. Ela teve coragem de contar para o marido , que felizmente a apoiou na gestação. Somente ele sabe, que a menina , não é sua filha. Os outros filhos e mais ninguém sabe de seu segredo. Só por este fato, ela quase abortou.
Se ela soubesse previamente que a menina, sua filha que hoje ela adora e a ama com todo o amor de mãe, seria “Down” , independente de ter sido fruto ou não de outro relacionamento, ela me respondeu com uma sinceridade, que não desmerece seu amor de mãe, que ela teria abortado.
Nesta semana, ocorreu o primeiro suicidio assistido, visto que o paciente não teria mais opção de tratamento e chance de vida, transmitido em rede de televisão.O médico que o acompanhou foi muito criticado.São temas polêmicos, assim como o aborto, mas que merecem debate e discussão ampla , pela sociedade e pelo estado.
Felizmente, minha irmã , apesar de estar acima dos 35, teve um exame com resultado normal; está tranquila , mesmo com outros problemas que podem advir de uma gestação normal, que só finaliza ,ou melhor, começa depois do nascimento.

Arte:Fabricio Matheus



sábado, 7 de maio de 2011

O QUE O BRASIL QUER SER QUANDO CRESCER? Por Gustavo Ioschpe



Você sabe qual o plano estratégico do Brasil? Quais são as nossas metas, aonde queremos chegar? Que tipo de país queremos ser no futuro? Eu confesso não saber. Os slogans e prioridades dos últimos governos não apontam para um programa positivo, sobre nossos anseios e planos, mas sim para uma agenda negativa: sabemos aquilo que não queremos ser. Não queremos ser um país excludente, mas sim “um país de todos”. Queremos a perserverança – “sou brasileiro e não desisto nunca” -- , apesar de não estar claro qual o objetivo da persistência . Dilma agora fala na “erradicação da miséria” como seu grande objetivo. Ainda que nobre , tampouco aponta um rumo, apenas indica o que não queremos ser. Há inúmeras maneiras de ser um país de todos e em que não há miséria.
Uma das áreas que mais sofrem com essa indecisão é a educação. Nos países em que os ocorreram saltos educacionais, os mesmos, foram acompanhados de saltos no desenvolvimento, a modelagem do sistema educacional estava profundamente atrelada ao projeto estratégico da nação.
A visão de futuro destas nações, cuja área educacional é o elemento primeiro e fundamental a nortear as ações dos governantes e lideranças da sociedade civil. Assim como a infraestrutura, a tributação , as relações exteriores e muitas das demais áreas que são responsabilidade de governantes, a educação não funciona autonomamente: ela subordina a um projeto de país.
O objetivo educacional está atrelado ao objetivo econômico-estratégico . A educação priorizada é determinada pelo caminho escolhido pelo país para atingir seu objetivo de crescimento.
No Brasil, que tem um dos piores sistemas educacionais do mundo, as coisas são ao contrário. Não temos um projeto de país e a educação é desconectada do país.Não é percebida como uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento, mas como um fim em si mesmo, como um direito do cidadão e ponto.
Quando os educadores se referem à sociedade, o objetivo mais freqüente não é perscrutar-lhe os anseios, mas reclamar. Não fossem os malditos pais dos alunos entre outros pensamentos.
O pensamento educacional brasileiro é tão original e autóctone. Somos o pior tipo de colonizados: formalmente livres , mas intelectualmente amarrados às antigas metrópoles , incapazes de caminhar sozinhos. Nossa teoria educacional é importada de outros países, porque o que dá gabarito é estar inserido na discussão de temas candentes na Europa ou nos EUA , mesmo que seja a respeito de problemas deles , que não têm nada a ver com os nossos.
A sociedade civil precisa recuperar nossa educação e subordiná-la aos interesses nacionais. Precisamos criar uma geração de pensadores que pense no que funcionará para alfabetizar as crianças nas periferias . E precisamos de um projeto de país – criado aqui, tendo em mente nossa cultura, recurso e instituições – que oriente e canalize todo esse esforço. Enquanto esse projeto não chega, nossa escola deve se mobilizar para construir o primeiro passo, comum a qualquer projeto de futuro: toda criança plenamente alfabetizada ao fim da 2° série.

OBS: A educação é o bem maior de um país , sou leitor incondicional de Gustavo Ioschpe, um dos atuais pensadores da educação no país. O artigo acima é resumo do publicado na Veja edição 2216 de 11 maio de 2011.
2°Foto:Fabricio Matheus

CURSO DE FOTOGRAFIA


“Fotografia é o retrato de um côncavo,de uma falta,de uma ausência”Clarisse Lispector

Por influência deste Blog, comecei com minha cyber- shot da Sony a procurar imagens para ilustrar os posts.
Para minha surpresa, alguns amigos, começaram a perguntar onde tinha feito curso de fotografia. O que me obrigou a apurar minha capacidade fotográfica de amador.
Como gosto de aprender e estou constantemente inventando algo para acrescentar e incrementar minha rotina, resolvi procurar um curso de fotografia.
Fiz um básico rápido na Full Frame de uma semana e ainda não tinha uma câmera SRL, peguei emprestado de um amigo para as aulas práticas e todas as definições naquela semana pareciam algo de outro mundo, sem conexões reais.
Finalmente decidi pela CanonEOS 5D Mark II, que é uma câmera profissional , quase um computador e que inicialmente só conseguia tirar algumas fotografia com o automático. È um computador de possibilidades e até demais para este tão distante das altas tecnologias. Mas enfim , resolvi enfrentar a fera e matriculei-me num curso de Fotografia Profissional na Escola Pan Americana de Artes.
Todo o ínicio de um processo cognitivo é como aprender a caminhar. Sua mente apreende um outro tipo de pensamento, um outro olhar, outra percepção.
No começo, mesmo lendo o manual e ainda até hoje, parece tudo um pouco ainda distante de mim, mas já começo a vislumbrar uma luz no fim do túnel.
Muitas vezes sinto uma falta da minha pequena cyber- shot. E agora tenho que lidar com diferentes objetivas, diferentes distâncias focais. Conceitos de sensibilidade, velocidade de abertura ou obturador, diafragma. Como equacionar estes conceitos , números, matemática e física para obter a luz ideal, o desenho da luz.
Somado à técnica , como adicionar os conceitos de composição fotográfica: movimento, equilíbrio, ritmo, diversidade, diálogo, diagonal, perspectiva, razão áurea , controle da luz e momento decisivo.
Minha cabeça ferve , meu cérebro máquina e tenta aos poucos pensar fotograficamente.
Outro dia fui a Santos, levei minha máquina e as objetivas. E quase uma mala sem falar do tripé. Meu amigo estava com sua nova compacta da Canon e fotografando no automático. Com minha super carabina fotográfica ao pescoço e as objetivas às costas , parecia o Mário Testino . Minha cabeça tentava equacionar os todos os conceitos apreendidos até o momento.No final, não preciso nem contar: meu amigo fez umas fotos excelentes em cores, luzes e composições, sendo que eu não tirei sequer uma foto legal. Foi frustrante, o que me salvou desta desilusão inicial brutal, foi que na semana seguinte no curso tive fotometria e “White Balance”/Balanço de Brancos. Claro! foi o que faltou para que minhas fotos ficassem genuínas.
Outra desilusão foi com o peso das fotos, não consegui postar quase nenhuma ainda no Blog, tive de abrir um flickr para que elas aconteçam no mundo virtual e a aprender a diminuir a resolução e o peso das mesmas.
Passo os dias pensando nas luzes e sombras.Nos pesos das mesmas. Sim , além de luz média, clara e escura.Temos luz dura, suave, difusa, penumbras tênues, “flare” e outras denominações que me fazem perder o sono, ou sonhar iluminado com as diferentes e inúmeras possibilidades destas novas luzes, granulados, pontilhados e etc...
Às vezes acordo de madrugada para tentar captar a primeira luz da aurora. Outras, fico a espera do pôr –do-sol para roubar do horizonte as luzes do final do dia e do princípio do anoitecer. À noite, na sacada do meu apartamento, armo o tripé e vou diminuindo o obturador da máquina e captando mais e mais luz... Procuro enxergar as sombras e os desenhos das sombras no chão, paredes... no espaço. Olho as pessoas e procuro algo diferente para que possa registrar e eternizar o instante daquele olhar e daquele momento para sempre na minha superfície sensível e na minha memória.
Trabalhar a luz é esperar o momento certo, estar atento para não o perdê-lo, estar pronto.
Tenho ainda somente a postura e o savoir –faire do fotógrafo profissional. Em meus passeios pelos parques, com minha câmera profissional, algumas pessoas já me param e me perguntam como se eu fosse profissional . E eu lhes respondo como já o sendo.
Na minha infância, meu pai teve uma fase de fotógrafo, adquiriu uma máquina profissional Olympus , objetivas,filtros , tripé. Minha irmã, minha mãe e eu éramos seus modelos. Às vezes, nas viagens , parava à beira da estrada para fotografar uma igreja ou um horizonte. Neste período; eu mesmo , fiz-me fotógrafo, transformei meu quarto num estúdio, as luzes eram os abat-jours e fotografei minha irmã e a Joana, que trabalhava em casa, além de alguns primos... Resgatei os livros de meu pai, que mesmo sendo para câmeras mecânicas, a teoria é a mesma para as digitais.
Estou apenas começando, e já consigo equacionar alguns conceitos que há alguns meses pareciam nunca existir no universo. Estou fazendo paralelamente o curso de História da Arte. E aos poucos ,fico cada dia mais íntimo da minha câmera e das minha objetivas. Mais atento as luzes e sombras, as diagonais e perspectivas e de uma forma geral ao mundo a minha volta. Surpreendo-me com a sombra da porta da entrada do meu prédio desenhada pela luz dura do meio-dia, com o transluzimento do sol através da flor de um antúrio, ou de uma lágrima na face de um desconhecido que passa por mim...
Fico desiludido quando revelo os exercícios, e os tons escuros saem mais claros e vice-versa. Mas espero que aos poucos o novo conhecimento e aprendizado se solidifique e torne-se automático como qualquer outro saber apreendido.
Estou distante das imagens da minha antiga cyber, surpreendo-me raramente com uma foto legal.Enquanto isso , leio revistas e livros sobre o assunto, como o ótimo “Cartas a um jovem fotógrafo” do Bob Wolfenson, ou “O olhar do século” de Pierre Assouline sobre Henry Cartier- Bresson e de fotógrafos que admiro como Doisneau, Avedon e de George Platt Lynes, fotográfo americano que soube como ninguém trabalhar a luz.
Visito exposições como a de Otto Stupakoff e Thomas Farkas no Instituto Moreira Salles, Andreas Feininger no Lasar Segall,Rottchenko na Pinacoteca,  Geração 00 no Sesc Belenzinho e ponho me a fotografar tudo e a olhar o mundo com a moldura ocular do visor.

Fotos :George Platt Lynes

JOSÉ RENATO (1926-2011)



Na madrugada do dia 2 de maio de 2011, aos 85 anos, logo após se apresentar no Teatro Imprensa no espetáculo Doze Homens e uma Sentença, direção de Eduardo Tolentino e ao embarcar para o Rio à trabalho, vítima de um infarto, faleceu o diretor, dramaturgo e ator José Renato, cuja vida e dedicação ao ofício e as artes cênicas, sua grande paixão, o acompanhou até seu último suspiro.
Não conheci pessoalmente José Renato, mas cruzei com ele várias vezes e até nos falamos em algumas oportunidades como na comemoração dos 10 anos do Galpão Folias. Ou nas platéias, onde o encontrava constantemente e assistimos juntos recentemente “Os Credores” de Strindberg , dirigido pelo Tolentino.
A importância de José Renato na história do Teatro Brasileiro é indiscutível. Foi o fundador e idealizador do Teatro de Arena de São Paulo, diretor responsável pela montagem de Eles Não Usam Black-Tie, considerado marco do teatro dos anos cinquenta, em uma das correntes do nacionalismo no teatro brasileiro.
Por sua mão passaram grandes atores e montagens históricas como Rasga Coração de Vianninha com Raul Cortez . A primeira direção de José Renato que assisti foi “O Aroma do Tempo” de Ernevaz Fregni em 2006 no teatro dos Arcos , musical sobre Artur de Azevedo. Depois assisti a remontagem de Chapetuba Futebol Clube também de Oduvaldo Vianna Filho, em 2009, no local do Arena, hoje Teatro Experimental Eugênio Kusnet.
Assisti a sua volta ao palco como ator depois de décadas no final de 2010 no CCBB no elenco da peça Doze Homens e Uma Sentença de Reginald Rose e dirigido pelo Tolentino. O sucesso da peça, atualmente em cartaz no Teatro Imprensa,e na qual José Renato trabalhou até o último dia de sua longa vida.
No último dia , José Renato errou uma de suas falas, o texto original era: “...mas o velho talvez precisasse de um pouco mais de atenção...” , porém ele disse: “... mas o velho talvez precisasse de um pouco mais de tempo”.
Por coincidências, tenho um grande amigo e colega no elenco de Doze homens e uma sentença, o Adriano Bett, que sempre me contava as histórias do José Renato, como sua capacidade de memorização das falas dos personagens , entre outras... o quê era uma forma de convívio indireto com este grande homem, marco do teatro brasileiro, que fez de sua paixão pelo palco , ato de sua vida e exemplo para muitos ... Desses artistas cuja paixão pelo palco é mais importante que a própria vida.

SÍNDROME DE DOWN


"O conhecimento é o único verdadeiro gênio da humanidade"

« Não é a medicina que se deve temer, mas a loucura dos homens. Nosso poder de modificar a natureza utilizando as suas leis, aumenta cada dia por meio da experiência daqueles que nos precederam. Mas utilizar este poder com sensatez, eis o que cada geração deve também aprender . Certamente, hoje somos mais poderosos do que outrora, porém menos sensatos : a tecnologia é cumulativa, a sabedoria não é. »

« É preciso dizer as coisas com clareza, mede-se a qualidade duma civilização pelo respeito que ela tem pelos seus membros mais frágeis. Não há outros critérios de julgamento. »Jérôme Lejeune


Vou ser titio. Minhã irmã está grávida e chegará em novembro o novo rebento. Meus pais não se contêm de tanta felicidade. É a divina comédia humana da reprodução e da continuação da vida, como uma força abstrata da continuação e da impotência de nós mortais.
Antes de nascer , já são feitas projeções e desejos no novo ser que virá. Qual o nome? Qual o sexo? O que vai ser? São momentos quase banais , mas de uma felicidade imensurável.
O fato é que sou médico, fiz minha formação em ginecologia e obstetrícia e especializei-me em medicina fetal. Assim, minha irmã que já têm 40 anos, têm um risco aumentado para alterações genéticas e entre elas a Síndrome de Down.
A prevenção começa no pré-natal. Os riscos são maiores com a idade materna, fatores familiares e ambientais. A ultra-sonografia no primeiro trimestre da gestação com a mensuração da Translucência nucal, osso nasal e outros marcadores inclusive sanguíneos podem sugerir uma diminuição do risco, quando normais. Mais o único diagnóstico de certeza é o cariótipo, ou seja , o estudo genético que se faz com coleta do líquido amniótico ou biopsia do vilo corial(pedaço da placenta), que por sua vez, têm seus riscos, entre eles , o aborto.
Minha irmã fará o cariótipo. Se o resultado for negativo, será um alívio e ela poderá curtir a gestação na sua plenitude, apesar de outros riscos ainda inerentes. É sua primeira gestação.
Na sua idade, a possibilidade de nova gravidez com menos risco torna-se cada vez mais difícil, não impossível. Assim, saber-se o primeiro filho será saudável é um alívio para o que virá.
Por outro lado , há outras questões. Se o exame vier alterado , o quê fazer?No Brasil , o aborto só é permitido no caso de estupro e de risco de vida materna. O diagnóstico de Síndrome de Down não é indicativo para se realizar um aborto. Outra discussão no âmago da medicina fetal , ou seja , do ponto de vista moral e ético, é se com os diagnósticos prévios não estaríamos gerando uma raça perfeita, entre outras questões religiosas.
O diagnóstico prévio, permite fazer-se um preparo psicológico para o que virá. O que é também discutível, visto que , passar nove meses , sabendo-se de um diagnóstico prévio, seja ele qual for não é fácil.
Enfim, como tudo na vida é incerteza, vivemos o momento e curtimos com felicidade plena a chegada de mais um serzinho na família.
A síndrome de Down, ou trissomia do cromossomo 21 é um distúrbio genético causado pela presença de um cromossomo 21 extra.Descrita pela primeira vez em 1862 pelo médico britânico John Langdon Down(1828-1896).
Sua causa genética foi descoberta em 1958 por Jérôme Lejeune(1926-1994), médico pediatra, geneticista e professor francês,que mostrou uma cópia extra do cromossomo 21 e descreveu outra síndrome genética em 1963, a Síndrome de Lejeune, ou Cri-du Chat ou do miado do gato, entre inúmeros e pioneiros trabalhos de medicina fetal e de anomalias cromossômicas no câncer.
O médico francês morreu em decorrência de um câncer. Reverenciado inclusive pelo papa João Paulo II, encontra-se em andamento em seu país um processo de beatificação. A Fundação Jérôme Lejeune, inaugurada após sua morte, dá continuidade à sua ação em favor dos deficientes mentais.
A síndrome de Down , pela semelhança com a expressão facial com indivíduos oriundos da mongólia, ficou pejorativamente e até ofensivamente conhecida como mongol ou mongolismo, cujo termo foi referido pela primeira vez em 1961, pelo editor do The Lancet, sendo o termo hoje já banido e em desuso no meio científico.
A síndrome de Down é caracterizada por uma combinação de diferenças maiores e menores na estrutura corporal, geralmente associada a algumas dificuldades cognitivas e desenvolvimento físico, assim como de aparência facial. É a ocorrência genética mais comum, estimada em 1 a cada 800 ou 1000 nascimentos.
A síndrome de Down é um evento genético natural e universal, estando presente em todas as raças e classes sociais.
Devido aos avanços da medicina, que hoje trata os problemas médicos associados à síndrome com relativa facilidade, a expectativa de vida das pessoas com síndrome de Down vem aumentando incrivelmente nos últimos anos.Pessoas com síndrome de Down têm apresentado avanços impressionantes e rompido muitas barreiras. Em todo o mundo, há pessoas com síndrome de Down estudando, trabalhando, vivendo sozinhas, se casando e chegando à universidade.
As diferenças devem ser vistas como ponto de partida e não de chegada na educação, para desenvolver estratégias e processos cognitivos adequados.
Em 2006, foi instituído o dia 21 de março como o dia internacional da Síndrome de Down, em homenagem a trissomia do 21, assim dia 21 do mês 03.

ADOÇÃO- Aspectos Relevantes


Para Alba e Maria Luiza

“A melhor maneira de tornar as crianças boas, é torná-las felizes.”Oscar Wilde

Recentemente fomos surpreendidos pela feliz noticia de que minha prima , quase irmã, adotou uma criança. Ela é linda e têm o mesmo nome da minha irmã e de sua avó e bisavó.
A criança têm um ano e meio , e é impressionante como em uma semana, com o amor e a nova família ela se desenvolveu. Quando a conheci pela primeira vez , emitia poucos sons e ainda se encontrava recuada e tímida.
Em uma semana, em companhia dos novos primos; já tinha um extenso vocabulário sonoro e os olhos de uma outra felicidade que não se define , se enxerga e se cala.
Minha prima apreende a cada dia que ser mãe não é fácil, principalmente sozinha e numa grande cidade. Mas também desfruta do segredo e da delicia de ser mãe e ver sua cria crescer e sorrir.
A família inteira apoia seu ato nobre e corajoso ,e também se encanta com o mais novo membro e torce com amor para que a criança encontre o seu caminho futuro.
Descrevo abaixo os aspectos relevantes da Nova Lei de Adoção:
A adoção no Brasil foi reformulada pela nova Lei de Adoção (Lei n.º 12.010/2.009), sancionada em 03 de agosto de 2.009, publicada no Diário Oficial da União em 04 de agosto de 2.009.
- Foi criado o Cadastro Nacional de Adoção, o qual reúne os dados das pessoas que querem adotar e das crianças e adolescentes aptos para a adoção, de modo a impedir a “adoção direta” (em que o interessado já comparece no Juizado da Infância e Juventude com a pessoa que quer adotar); também estabelece uma preparação psicológica, de modo a esclarecer sobre o significado de uma adoção e promover a adoção de pessoas que não são normalmente preferidas (mais velhas, com problemas de saúde, indígenas, negras, pardas, e amarelas)
- Traz o conceito de família extensa (ou ampliada), pelo qual se deve esgotar as tentativas de a criança ou adolescente ser adotado por parentes próximos com os quais o mesmo convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. Assim, por exemplo, tios, primos, e cunhados têm prioridade na adoção (não podem adotar os ascendentes e os irmão do adotando).
- A família substituta é aquela que acolhe uma criança ou adolescente desprovido de família natural (de laços de sangue), de modo que faça parte da mesma.
- Estabelece a idade mínima de 18 (dezoito) anos para adotar, independente do estado civil (casado, solteiro, viúvo, etc). Contudo, em se tratando de adoção conjunta (por casal) é necessário que ambos sejam casados ou mantenham união estável.
- A adoção dependerá de concordância, em audiência, do adotado se este possuir mais de 12 (doze) anos.
- Irmãos não mais poderão ser separados, devem ser adotados pela mesma família.
- A adoção conjunta por união homoafetiva (entre pessoas do mesmo sexo) era vedada pela lei. Não obstante, o Poder Judiciário já se decidiu em contrário, em caso de união homoafetiva estável.
- A gestante que queira entregar seu filho (nascituro) à adoção terá assistência psicológica e jurídica do Estado, devendo ser encaminhada à Justiça da Infância e Juventude.
- A lei estabelece também como medida protetiva a figura do acolhimento familiar, a qual a criança ou o adolescente é encaminhado para os cuidados de uma família acolhedora, que cuidará daquele de forma provisória.
- A lei ainda determina que crianças e adolescentes que vivam em abrigos (espécies de acolhimento institucional) terão sua situação reavaliada de 06 (seis) em 06 (seis) meses, tendo como prazo de permanência máxima no abrigo de 02 (dois) anos, salvo exceções.
- Em se tratando de adoção internacional (aquela na qual a pessoa ou casal adotante é residente ou domiciliado fora do Brasil), esta somente ocorrerá se não houver, em primeiro lugar, alguém da chamada família extensa habilitado para adotar, ou, em segundo, foram esgotadas as possibilidades de colocação em família substituta brasileira (se adequado no caso sob análise a adoção por esta). Por fim, os brasileiros que vivem no exterior ainda têm preferência aos estrangeiros.
Adotar mais que um ato de coragem é um ato de amor.

Foto:Fabricio Matheus

UNIÃO ESTÁVEL GAY


"A primeira igualdade, é a justiça."Victor Hugo


No dia 06 de maio de 2011 , o Brasil amanheceu mais humano. Avançou nas conquistas dos direitos humanos e nas liberdades individuais. Em um julgamento histórico, STF decide unânimamente , que casais homossexuais também formam uma família , com iguais direitos e deveres.
Os grupos gays mais uma vez vitoriosos. Vitoriosos no combate à AIDS, no combate a homofobia e a violência. Pela democracia vão pouco a pouco mudando o pensamento arcaico num novo mundo progressista de igualdade perante a lei.Não é pouco no Brasil.
A campanha presidencial que culminou na eleição da presidenta Dilma Roussef, teve seu final pautado num discurso obscurantista e medieval, sobre o aborto e os direitos dos homossexuais, com aliança política entre os extremos direitistas de segmentos religiosos.
Violência nas áreas nobres da cidade de São Paulo ( que hoje têm a maior parada Gay do mundo , e que rende a cidade quase o mesmo que a Formula I em ganhos reais com o turismo) ;e onde homossexuais ainda são espancados por gangues , foram manchetes nos últimos meses.
Ao reconhecer como legal a união estável entre pessoas do mesmo sexo, o STF estendeu a esses casais os direitos dos heterossexuais –partilha de bens e herança, pensão, declaração conjunta de IR e etc... Entre outras igualdades de direito e deveres, está o de constituir uma família, mais uma vez contra a discriminação e a favor de uma sociedade mais justa e tolerante, capaz de lidar de maneira civilizada com suas diferenças e a multiplicidade da vida , como deve ser num estado laico e democrático.
O Supremo Tribunal Federal(STF), ocupou o espaço e se fez contundente na nação ao aprovar a união estável entre casais de mesmo sexo. O mesmo projeto no Congresso Legislativo iberna há anos e dificilmente seria aprovado pela falta de apoio do governo e dividido por visões religiosas diversas. Os mesmos que sem perder nada, foram derrotados pela ameaça que sentem da sexualidade alheia(ou antes a sua própria), os conservadores em geral e os homofóbicos.
Mesmo com críticas da CNBB , cujo principal defesa se baseia na de que “a Família não se constituí ou nasce por voto ou da opinião de um grupo majoritário. É algo de direito natural, está inscrito na própria condição humana.”, segundo afirmou d.Orani João Tempesta, arcebispo do Rio, que se esquece de que o sexo e o amor também o são condições próprias e inerentes ao humano.
Os juristas, como Ives Gandra, ex –professor titular de Direito Constitucional do Mackenzie e Lenio Streck , procurador da justiça do Rio Grande do Sul , criticam principalmente o “ativismo judicial do Supremo ”, para eles esta discussão cabe ao legislativo, ao Congresso.
Em resumo, as principais decisões estabelecidas pelo STF, e os direitos adquiridos pelos casais de mesmo sexo são :
- Receber pensão alimentícia e ter acesso à herança no caso de morte do companheiro.
-Poder incluir o companheiro no plano de saúde e colocá-lo no Imposto de Renda.
-Ter todos os direitos familiares, como adotar filhos e registrá-los em seus nomes.
Após a decisão do STF, o direito dos gays se torna intocável e considerado inconstitucional , qualquer lei que por ventura seja aprovada para impedir os mesmos.
O Brasil contemporâneo, mais humano e justo avança com a omissão do Congresso , pelas mãos do STF.
Somos seres mortais e temos um período relativamente curto no planeta , mesmo com os avanços da medicina. O que são 100 anos na história da humanidade.Os avanços humanos persistem e moldam o pensamento da sociedade.
Se dois homens ou duas mulheres se amam e constroem uma vida e um patrimônio juntos, por que não ter direitos?

Fontes:O estado de São Paulo e Folha de São Paulo dos dias 06 e 07 de maio e principalmente os artigos de Fernando de Barros e Silva e Eliane Cantanhêde.


domingo, 10 de abril de 2011

O TRIÂNGULO COR DE ROSA


"A alma alheia é uma escuridão"F.Dostoeivski.

No domingo, 10 de abril de 2011,o suplemento Aliás, na última folha, traça o perfil de Rudolf Brazda de 98 anos,  último homossexual  que sobreviveu ao nazismo, e conta em livro o tempo que viveu no campo de concentração nazista de Buchenwald.
O livro de Rudolf se chama “O Triângulo Rosa”, referente a designação criada em alusão ao símbolo afixado nas roupas de 10 mil homossexuais deportados para campos de concentração durantes a 2° Guerra Mundial.
As leis que estabeleciam penas de prisão para homossexuais já se fazia latente na moral alemã, à rejeição era expressa no célebre artigo do código penal 175 que estabelecia “a luxuria contra o que é natural , realizada entre pessoas do sexo masculino ou entre homem e animal” como crime passível de prisão e de direitos civis. Assim, de encontro à ideologia do sistema, no combate aos judeus que eram uma ameaça à pureza da raça ariana, o combate aos homossexuais representava a suposta ameaça à perpetuação da raça.
Felizmente para Rudolf, ser gay,  era um complexo exercício de contradições entre algum grau de vergonha diante do olhar da sociedade e a necessidade de assumir sua diferença sem complexos. “O homossexualismo faz parte da vida porque faz parte da natureza.É a natureza que nos marca.Ou não se aceita, ou se aceita. Eu me aceitei .E dessa forma fui feliz”.
Assim, Rudolf, consegui expor sua sexualidade e vivê-la sem constrangimento, inclusive com aceitação por parte de sua família.Aceitação tal, que chegou a “oficializar” sua relação com Werner , seu primeiro amor.
Quando aconteceu a mudança entre a liberdade e a repressão , à partir de 1936, o cenário de tolerância começou a se inverter. Em 1937, numa manhã de abril, como hoje, Brazda foi acordado por uma revista policial em seu quarto.Ao assinar, obrigado um depoimento pleno de contradições, iniciou seu martírio de prisões até ser transferido em 1942 para o campo de concentração de Buchenwald, onde viveu o horror, a miséria e as experiências científicas em cobaias humanas.
 “Eu sabia que o homossexualismo era reprimido pelos nazistas. Mas jamais imaginei que eu mesmo fosse vítima de um crime contra a humanidade”.
Numa semana precedida por ataques de homofobia e racismo pelo deputado federal Bolsonaro. Pela humilhação do jogador de vôlei Michael, alvo de homofobia , pelo coro da torcida adversária. O perfil corajoso de Rudolf Brazda, o ato de coragem de Marcelo Tás, ao exibir com orgulho a foto de sua filha gay é algum respiro neste retrocesso que se vê pelo mundo.
No mesmo suplemento Aliás , e em outros jornais e revistas psicanalistas tentam encontrar uma explicação para o ato cruel de Wellington Menezes de Oliveira, que assassinou “friamente” crianças na escola onde estudou e deixou uma carta testamento confusa, cheia de angústia de uma pessoa que não consegui lidar com suas poderosas fantasias incestuosas, das quais talvez o rapaz tivesse apenas algum vislumbre consciente.
A reconstrução dos processos psíquicos, segundo o psicanalista Renato Mezan, que levaram Wellington a um crime tão hediondo, são apenas conjetural, para tentar explicar o inexplicável, e ajudar –nos a compreender .
Uma vez ,que mesmo a explicação se certa, não pode trazer de volta as vítimas de sua loucura.
Assim , o horror que nos assaltou ao tomarmos conhecimento do que ele estava fazendo, mostra mais do que compaixão pelas vítimas: penso que se deve ao receio de, por termos sido na infância pequenos Édipos, um dia nos vermos , atirando em inocentes depositários das nossas angústias.
Embora (se formos “neuróticos normais”) não precisemos recorrer às mesmas defesas psicóticas que esse moço teve de mobilizar.No fundo somos tão humanos quanto ele – e o desfecho trágico da sua loucura deve nos fazer pensar na nossa própria violência, que por se exercer por meios mais sutis não deixa de ter semelhança com a dele.
Tenho um amigo inglês, homossexual, que há 5 anos se apaixonou por um aluno. O aluno iria fazer 18 anos, que é considerado “ age of consent” a maioridade sexual. Segundo o meu amigo, seu aluno mentiu a idade. Ele não teve nada com o garoto, apenas se encontraram, pegarm na mão e se beijaram...O mesmo aluno fez chantagem e o denunciou.
 O meu amigo foi expulso da escola. Neste período ele morava com um companheiro , com o qual vivia uma relação estável de 10 anos , numa casa que herdou de sua família. O  beijo lhe custou a proibição de  lecionar na Inglaterra .Teve que vender a casa e dividir com seu parceiro.Sua história é quase o filme Notas sobre um escândalo(2006) de Richard Eyre com Cate Blanchett e Judi Dench.
No intuito de reconstruir sua vida.Ele mudou de país, por ser membro da comunidade européia, escolheu um país , em que já tinha morado, tinha amigos e falava a língua.
Teve um período de adaptação de cerca de 2 anos , no qual reaprendeu e aprimorou o idioma, trabalhou como garçom e aos poucos foi refazendo sua vida.
Tornou-se membro de um coral gay. Comprou um novo apartamento. Visitou outros países em férias... E logo, adquiriu os mesmos direitos e cidadania, tornando-se professor de literatura inglesa de uma escola.
Hoje, na mesma manhã ensolarada de abril , cinco anos depois. ..Assim que acabei de ler o acima escrito, recebo a notícia de que este meu amigo, está muito deprimido.Vivendo às custas de anti-depressivos e afins, além do álcool. Às vezes com idéias suicidas. Vive repetindo que se pudesse escolher , jamais seria gay. Expõe sua culpa e diz que sua vida teria sido mais fácil se tivesse uma família estruturada e com filhos.Sente-se culpado em frequentar ambientes gays e de ter sexo com desconhecidos , entre outros fatos e histórias que o desagradam no mundo gay.
Ele fala , fala ,fala... se repete, e finalmente diz que está apaixonado por Nike , seu aluno de 19 anos.

Fontes:Suplemento Aliás de 11 de abril de 2011.
 

terça-feira, 5 de abril de 2011

O PEQUENO MÉDICO de Graziela Gilioli


“Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu” Chico Buarque.

Comecei em março na Escola Pan Americana um curso de fotografia. Sou médico, ator, serei fotográfo e muito mais talvez...
Como médico minha formação se deu com a morte da minha avó. No último ano da graduação médica. Ela já tinha comprado o meu presente de formatura, que era uma maleta médica, cujo segredo era 76 anos. Ela morreu no dia 12 de outubro aos 76 anos e fui um de seus médicos. Vi a sua morte acontecer passo a passo. Os outros médicos da equipe, resignados por ser minha avó, na sua segunda parada cardíaca, tentaram trazê-la novamente , mas eu gritei como um médico e homem.:-Chega! Acho que estava pronto para ser médico.
Tive uma imensa sorte de ter uma família humana e que sempre cultivou as artes.Assim antes de médico, sou humano e homem , mortal e comum como todos os demais. Meus mestres também sempre aliado ao conhecimento científico, também ressaltaram-me sempre a ser humano, a escutar. A vida , os livros, viagens e tudo o mais ensina-me um pouco a cada dia. Sou antes de tudo um observador.E estou constantemente inventado e me reiventando.
Como ator, me formei no papel do Diabo da peça o Concílio do Amor de Oscar Panizza. Um presente , que me ensinou muito mais , ou um pouco mais sobre nós homens em geral e me deixou mais humano do ponto de vista médico.
Minha formação inicial como médico foi ginecologista e obstetra. Hoje faço a parte de imagem, basicamente ultra-sonografia. Mas continuo sempre um observador. As mulheres sempre me encantaram com o seu poder de renovação, como uma fênix renascida. Elas são infinitamente superior aos homens neste sentido, de colocar a beleza no momento e de descobrir a beleza no mais simples dos atos.
Esta introdução talvez fosse desnecessária e em absoluto não é egolatria. Talvez seja para justificar que minha observação ao meu semelhante faça parte do meu aprendizado do mundo.
Entre as colegas, depois das devidas apresentações, a Graziela chamou-me a atenção. Não só pela espontaneidade, mas pelo seu jeito de falar e olhar e respirar como se a vida fosse cada segundo. Não somente sua fala , mas seu corpo fala dessa necessidade vital de vida. Quando ela nos conta com uma “alegria” num sentido profundo do ser de alguém que consegui fazer da dor , do desespero, um ato de arte e amor.
Somente no intervalo da aula quando falei com ela , foi que ela me disse que o livro que ela escreverá contando sua experiência com a doença, o câncer de seu segundo filho chamava: O Pequeno Médico, por quê o Alê queria ser médico.
Fiquei muito curioso para ler o livro e o encomendei na mesma noite , depois de visitar o site e seu site de fotos. Graziela já é uma fotografa profissional e ainda aprendendo.
Uma das curiosidades que me despertou foi o querer do Alê de ser médico. Eu demorei a me decidir, fiz direito, admnistração;parei. Formei em medicina. Cursei uma ano de Filosofia. Iniciei formação em psicoanálise. Formei ator.
Sei que tenho um “DOM”, sei que toco meus pacientes mesmo fazendo exames, mas minha paixão é a arte, o teatro. Talvez algo maior que se defina como a própria vida. Talvez por isso esta inquietude, este reinventar os dias, criar sempre ilusões e ter sempre sonhos e fantasias.
Pedi o livro pela Livraria Cultura, que sou cliente fiel. Por um problema com a editora o livro demorou quase 10 dias. Mas chegou hoje.
Quando o porteiro me avisou, já tinha até lido um e-mail da Livraria de que o livro chegaria hoje e posso dizer que com esta delonga, já estava desanimado.Tinha programado um filme com a Elizabeth Taylor, estou fazendo uma mostra particular.Hoje seria “Adeus às Ilusões” dirigido pelo Vicente Minelli.
Fui para a cama com o livro e comecei a ler a capa, a contra-capa, os agradecimentos... quando vi tinha começado a ler o livro. Viajei pelo cometa do Pequeno Médico , que é muito bem escrito. Sua leitura além de aprendizado, é prazerosa. A história de uma mãe diante da dor do filho , que também se reinventa num outro mundo sombrio, que certamente não tem nada haver com o mundo adolescente. Mas com o apoio, ternura, amor e até humor enfrentam em família e com os amigos uma despedida tocante e transformadora que de certa forma traz a cada um que esteve pela história um pouco da essência , e da compreensão do sentido da vida. Como a celebração como um rito, que suavizasse o “inaceitável”. Graziela teve a força e a coragem de Jó. E o mais interessante é que escreveu uma história que não tem nada de resignação e buscas do além para explicações que talvez mais console que expliquem. Ela viveu a dor nos mínimos momentos com luta , verdade e vida.
Li o livro de uma tacada só. Relembrei e revi com ele e com a história do Alê, o meu ser “humano”, o meu ser “médico”,minha infância e muito mais. Apesar de termos histórias tão diferentes, têm momentos tão parecidos. Como “grande médico” no sentido de tempo e de ser adulto, acho que todos os médicos deveriam ter este “pequeno médico” , este olhar infantil , este entendimento , esta escuta da criança atenta. Como a infância adormecida que devemos sempre recuperá-la por mais adulto que sejamos.
O Pequeno Médico, talvez só pudesse ser escrito por uma mulher, por uma mãe.Mas é um livro para todos. É de se emocionar! Graziela fez do Pequeno Médico uma poesia e escreveu uma fábula de amor.


domingo, 3 de abril de 2011

AS CORES DO BICO DO TUCANO


As cores do bico do tucano são as coisas que não querem calar:

Morreu nosso ex vice-presidente da república, todos falaram do grande homem que foi, do grande político e empresário que favoreceu a eleição de Lula para a presidência. Sua luta contra a doença e a alta dos juros. Sua fé! Ninguém mencionou que ele se negou a fazer o teste de DNA e não reconheceu a filha bastarda, hoje enfermeira, que teve de um relacionamento de ano com uma prostituta em Minas Gerais.Será que por isso ele foi cremado?

Igreja transfere o padre italiano Valeriano Paitoni, de 61 anos, que se dedica há 33 anos numa paróquia da zona norte de São Paulo e defende uso da camisinha para combater o vírus da AIDS , opondo –se às orientações do Vaticano, a voltar para a Itália e fechar o bico. Os três abrigos para crianças e jovens contaminados pelo HIV, mantido pelo religioso, pode fechar. A arquidiocese argumenta que um projeto social mantido por uma entidade não pode ocupar o espaço da paróquia, não comenta os motivos da transferência, que não convencem o padre e os fiéis.

25 gangues apavoram gays e negros nas ruas da cidade.Polícia Civil de São Paulo identifica 200 integrantes de grupos extremistas.Skinheads entre 16 e 28 anos são investigados por “crime de ódio” que deram origem a 130 inquéritos policiais. Nossa faixa de gaza é a região da avenida Paulista e da rua Augusta, na região central da cidade. Área que tem a maior concentração de bares freqüentados por gays e skinheads--- cada turma no seu reduto, mas todos muito perto uns dos outros.”Eles acabam se encontrando pela rua”, segundo a delegada.

Patrimônio histórico está virando mato em Peruíbe. Ruínas de Abarebebê são tombadas , mas falta de manutenção é aparente. Será que é só lá?No Rio de Janeiro , o risco de incêndio assombra os museus como o Museu Histórico Nacional, a Fundação Biblioteca Nacional, o Museu da Imagem e do som entre outros.

Mapeamento da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil (SMSDC) identifica 11 mil focos de dengue no Rio de Janeiro.

No Paraná, pais que tiveram trigêmeas após um processo de fertilização assistida, cujos riscos eles assumiram,quiseram sair da maternidade apenas com duas, deixando a que tinha insuficiência pulmonar.Sabe-se que gestações múltiplas , são consideradas de risco e podem provocar problemas psicológicos nos pais.Neste caso, de uma só tacada, os pais atentaram contra os imperativos do amor pela prole e da proteção aos mais fracos. Atropelaram a noção de responsabilidade contratual. O dilema da justiça agora é decidir se a tentativa de abandono basta para decretar que os pais se tornaram para todo o sempre indignos de manter a guarda dos filhos, o se ela é mais bem descrita como um erro pontual, uma falha momentânea no dever de reprimir nossos instintos mais primitivos.

Depois de tudo e só isso, o bico do tucano não têm mais cores para comentar o novo partido do Kassab , as declarações do deputado federal Jair Bolsonaro, os assessores do Tiririca e os escândalos de Berlusconi, entre outros temas que certamente virão novamente a colorir seu bico sem papas na língua.

OBS:Este Tucano não têm nada haver com o PSDB. O título veio de uma foto e um imã de geladeira que uma amiga me deu depois de uma viagem a Foz do Iguaçu. Falei das cores do bico do tucano e que iria escrever algo com o título.Estas cores são livres, independentes e sem partído político.Cores com mera intenções políticas, sociais e educacionais...

ARQUITETURA E MODERNISMO NA VILA MARIANA


“Nao é a linha reta, dura e inflexível, feita pelo homem, que me atrai. O que me chama a atenção é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país, nas margens dos seus rios, nas nuvens do céu e nas ondas do mar..”Oscar Niemeyer

A arquitetura moderna não fez parte, como se sabe da Semana de 22, marco da absorção antropofágica do Modernismo no país. Sua chegada deu-se um pouco adiante no tempo, pela mão de arquitetos , engenheiros e artistas como Gregori Warchavchik, Rino Levi, Lucio Costa , Flávio de Carvalho e Oscar Niemeyer, entre outros. Influênciados pela escola alemã da Bauhaus e por arquitetos europeus como Le Corbusier, que já em meados da década ou ínicio da seguinte quiseram adequar sua formação semi-acadêmica obtida na Europa ou no Brasil às práticas da modernidade estética.
Warchavchik é um caso especial dentro desse grupo de pioneiros , pois, formado na Ucrânia e na Itália, chega ao Brasil em 1923, já com um repertório moderno relativamente consolidado, antes portanto de seus colegas arquitetos brasileiros de fato, se terem a si próprios como modernos. Casado com Mina Klabin, sua proposta foi romper com os modelos arquitetônicos mais vigentes e adequá-los aos novos tempos,substituindo os ornamentos e enfeites por linhas simétricas e despojadas.
Desta forma, integra-se rapidamente , por meio de conhecidos e de sua extensa obra construída, de seus escritos e militância profissional ao grupo de intelectuais brasileiros que faria , nas décadas seguintes, da estética moderna na arquitetura, como na cultura em geral. Um fato do cotidiano, entranhado na vida das grandes metrópoles .
Na Vila Mariana, no quadrilátero que compreende da rua Berta à rua Santa Cruz é possível vivenciar este projeto de uma nova estética e arquitetura.
Na rua Berta está o Museu Lasar Segall, antiga residência e ateliê do artista; este lituano, que conheceu o “milagre da luz e cor” no Brasil. Um dos primeiros artistas modernos a expor no país. Participante ativo da semana de 22. Sua residência foi projetada em 1932 por Warchavchik, seu concunhado, que também projetou as casas da frente , que são próximas umas das outras. Retas , brancas com as janelas coloridas.
O Museu Lasar Segall, hoje é uma associação civil brasileira sem fins lucrativos, idealizado pela viúva do artista , Jenny Klabin, emérita tratutora de clássicos de Moliere à Goethe e seus filhos.Em 1985 foi incorporado à Fundação Nacional pró Memória, integrando hoje o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), do Ministério da Cultura, como unidade especial. O Museu Lasar Segall tem como principal objetivo conservar, pesquisar e divulgar a obra de Lasar Segall, possuindo acervo de cerca de três mil trabalhos do artista, doados por seus filhos e em cuja biblioteca Anatol Rosenfeld , abriga o acervo de um dos mais importantes críticos e teórico de teatro germano-brasileiro do país. Frequento sempre sua biblioteca, cuja dica foi me dada pelo diretor do TAPA: Eduardo Tolentino, onde é possível encontrar quase tudo de teatro brasileiro e mundial. Sou também sócio do museu o que me dá alguns privilégios como convites à exposições, cinema e descontos nos cursos frequentes que o museu oferece , xerox e compras. É uma região interessante do ponto de vista visual e cultural que deve ser conhecida, reconhecida e visitada.

OBS:Parte do texto foi retirado da curadoria de Mauro Claro da exposição da Casa Modernista.