segunda-feira, 27 de junho de 2011

FESTAS JUNINAS



“O grande homem é aquele que não perdeu a candura de sua infância”provérbio chinês.

Eu sou de uma época que não era tão longíqua como nos tempos do imperador, e de uma cidade do interior em que as Festas Juninas eram esperadas e celebradas sempre com alegria, promessas ou em louvor à vida.
As festas juninas estão historicamente relacionadas aos rituais pagãos do solstício do verão do hemisfério norte, e aqui chegaram com a colonização portuguesa , inicialmente chamadas de joaninas em honra a Dom João VI, ficaram juninas por serem em Juno e datadas nos dias dos santos populares da terrinha; dia 13 de junho dia de Santo Antônio, dia 24 de junho São João e 29 de junho São Pedro.
Eu não sabia disto, elas me foram introduzidas pelas histórias e pelo encantamento dos fogos e da fogueira. A fogueira segundo a lenda católica vêm de Isabel que a ascendeu para pedir ajuda à Maria e avisá-la sobre o nascimento de São João Batista. As cores das bandeirinhas, e toda a preparação da festa me encantava. As comidas eram feitas de milho , mandioca e muito amendoim.Tinha o quentão , o vinho quente que era de certa forma proibidos para as crianças, só podíamos provar.
Os mastros adornados e coloridos, exibiam as imagens dos santos a que o dia evocava. Mas o mistério maior eram as simpatias contadas por minha avó. Segundo ela colocava-se numa bacia virgem cheia de aguá , alguns limões colhidos no dia com o nome da pessoa, os limões que se encontravam eram os pares que se casariam, e foi assim que a tia Juraci encontrou o tio Chicão. Na véspera de São João, ou Santo Antônio, ao se introduzir uma faca virgem numa bananeira à meia-noite, a mesma amanheceria com a inicial do futuro marido ou mulher.
Tudo era à meia-noite da véspera, e tudo tinha que ser virgem e intocável. Por exemplo , ao se acender um fósforo à meia-noite na frente de um espelho virgem , jamais olhado por alguém , ver-se- ia a imagem do futuro ou eterno amor e muitas outras histórias me foram contadas.
Tinha o pau- de- sebo, a sanfona que embalava as noites frias, as quadrilhas e as roupas xadrezes, muitas delas de flanela. Sempre os remendos nas calças, o falso bigode ou a falsa barba, o pito e o chapéu de palha ou “ paiá".
Na escola, durante a minha infância apesar de toda a alegria, eu sempre ficava ansioso e com medo. Sempre era o último a ser escolhido como par para a quadrilha por ser gordinho, lembro-me que na quarta série só me sobrou a Soraia.Depois foi ficando mais fácil, à medida que eu crescia e perdia peso, assim fiz par com a Jussimar, com a Silvana e no colegial já em São Paulo com a Ana Rita, e ganhamos o prêmio de noivos do ano, que eram algumas canetinhas coloridas. Eu usava uma calça boca de sino roxa e acho que ganhei por queê fui andando com os trajes pelas ruas de Pinheiros e me viram chegar andando como um verdadeiro caipira  mundando que sou.
Tinha muitas brincadeiras, mas a eterna era a pescaria. Tinha os correios elegantes para se mandar mensagens à pessoa querida. As prendas, e a eleição da rainha da festa ,que era aquela que conseguia arrecadar mais dinheiro para a escola ou a paróquia. Eram sempre vários acontecimentos, tinham os casamentos, os batizados ao redor da fogueira.Eu mesmo fui padrinho da Jaqueline que hoje mora em Jericoacoara. E depois de tudo, com a fogueira quase só carvão, tinham aqueles, os de muita fé e coragem, que caminhavam descalços sobre o vermelho incandescente da brasa que era reacesa, mais um mistério entre os tantos outros.
Como disse o Caetano Veloso em sua coluna do Globo de domingo (26/06), “as canções e histórias que aprendemos na infância atingem uma grandeza dentro de nós inalcançável pelas que ouvimos na maturidade.”
Hoje, em minha cidade natal, uma das maiores festas populares é o “Arraiá” que acontece em junho e mantêm a tradição das festas juninas. Neste final de semana fui com amigos na festa junina da Igreja do Perpétuo Socorro, ainda existe algumas em Sampa, como a da Igreja do Calvário que resistem e mantém a tradição.
Ao som do forró , das roupas coloridas , de comidas típicas e de um padre desbocado que conduzia a quadrilha com um humor único.Revi minha infância não perdida, mas guardada num escaninho secreto , e como num conto de Andersen , ao som da sanfona, do triângulo e dos casais e crianças dançando, minha avó me contava novamente todas as suas histórias...

Arte:Fabricio Matheus

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