segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A HOMOFOBIA EM MIM




Não existe cura para o homossexualismo porque o homossexualismo não é uma doença. Mas há cura para a HOMOFOBIA. Principalmente a nossa.
O preconceito contra os homossexuais nasce do medo e da ignorância e mal informação. E nosso dever educar as pessoas com respeito e sem agressão.
Uma vez fui fazer uma palestra para Travestis e Transexuais, inicialmente todos falavam coisas glamurosas, quantos países conheciam no exterior, festas diplomáticas e etc... Quando perguntei sobre as dores e sofrimentos e finalmente , aos poucos, eles foram se revelando. Quanta dureza, quanta dor e sofrimento, quantas barreiras, preconceitos até contra grupos gays como lésbicas.Quanta solidão e quanta luta, mesmo para se prostituir no exterior... Só neste momento de dor conseguimos nos aproximar, nos humanizar.
No trabalho, quando te mostram a Playboy da Fernanda Young e você têm que achá-la gostosa, quando o máximo que você repara é numa tatuagem....
Quando o seu pai ou seu tio te dá de presente uma assinatura anual da Playboy, que você empresta para os seus amigos heteros , que você deseja mais que a revista.
Quando você precisa falar para a família que o moço é seu professor de piano e não seu namorado para trazê-lo em casa.
Quando seu namorado não pode dormir na sua casa, mesmo quando você mora sozinho porque na manhã seguinte chega a faxineira.
Quando a sua colega de turma diz que não beberá o Chopp do seu copo por quê ela pode pegar AIDS.
Quando você não sai com o colega de teatro por quê ele é muito bichinha, dá pinta e o que vão pensar de você...
Quando  chego num restaurante com um amigo e eles nos levam para o andar superior vazio alegando que o restaurante esta lotado, e o mesmo encontra-se vazio.
Quando você escuta calado, os seus pais dizerem que prefer morrer a ter um filho Gay.
Quando o meu namorado terminou comigo e estou arrasado e não posso demonstrar.
Quando meu companheiro esta doente ou morreu e eu não posso faltar o serviço, não posso chorar.
Quando é a primeira vez que você visita a família dele e a mãe dele sonha que vai receber uma visita que ela não quer, mas sua mãe diz no sonho que no final ela gostará da visita . E ela conta e pede para você interpretar o sonho na mesa de jantar....
Quando você vai pela primeira vez na casa da família dele, e os pais dele não falam nada e ficam batendo na mesa....
Quando não posso incluir meu companheiro no meu plano de saúde.
Quando no trabalho têm o women in progress, e eu trabalho, faço hora extras, viajo a serviço de última hora, dou plantão em festas e feriados....e não há o Gay in progress.
Tenho um amigo inglês que é professor de matemática e inglês. Era casado há dez anos com outro cara. Um dos seus alunos de 18 anos despertou-lhe uma paixão e ele saiu com ele só uma vez. Nem beijou. Foi expulso do colégio, proibido de lecionar no país. Teve que vender a casa que era herança de sua família e dar metade para o companheiro que também o levou na justiça e teve que recomeçar a vida em outro país e com outra língua.
Quando o meu personal trainner, após a aula diz uma piada homofóbica no banheiro e eu continuo treinando com ele e ele falando mal dos gays.
Quando  tenho que deixar de fazer alguma coisa, ou usar alguma coisa para não parecer Gay.
Quantas vezes eu tive que engolir seco e não dizer que eu sou gay.
Quando no natal no meio da ceia, o seu priminho pergunta se ele é seu amigo ou namorado.
Quando  penso:- sou formado, falo línguas, tenho pós graduação, Platinum Amex, um ótimo emprego, apartamento ...e sou Gay.
Quando sou HIV positivo, e não posso contar para minha família ou meus amigos, e não tenho ninguém para compartilhar minha dor.
Quando  não consigo contar para o meu novo namorado que sou HIV positivo.
Quando você mostra um conto ou uma poesia para o seu melhor amigo , que contêm uma história gay, e o mesmo diz que é legal mas para não tocar mais no assunto.
Tenho um outro amigo que se casou com um holandês, perdeu a nacionalidade brasileira. Depois de dez anos, separou do holandês e ficou ex-patriado na Holanda.
Quando você têm que esconder o seu guarda-chuva da Buberrys chiquérrimo, por quê a família dele vai achar que é Gay.
Quando morre alguém famoso como o Cazuza ou o Renato Russo, e alguém diz : Menos  uma bicha no mundo. E você não fala nada.
Quando você serve de farol, e os seus primos e amigos dizem que você também é Gay para eles se assumirem e você não sente orgulho disto.
Quando num país do Carnaval, num país que têm a maior parada Gay do mundo e lota hotéis e para a cidade, numa enquete do senado contra a Homofobia , ganha a lei contra a homofobia.
Tenho um amigo policial, que é gay e têm que bater em gays e travestis na delegacia .
Quando você depois dos 35, ainda têm que explicar por que não se casou...
Quando você têm que mostrar que entende de futebol ,se você prefere ballet.
São tantas histórias e tantos Quando. Mais cabe a mim, a você e a nós SUBVERTER a equação – HOMOFOBIA: GAY = DOENTE, SOLITÁRIO E INFELIZ.


Foto e colagem : Fabricio Matheus

O TAJ MAHAL , O AMOR E O GAY




Pra se viver do amor
Há que esquecer o amor
Há que se amar
Sem amar
Sem prazer
E com despertador
- como um funcionário
Há que penar no amor
Pra se ganhar no amor
Há que apanhar
E sangrar
E suar
Como um trabalhador
Ai, o amor
Jamais foi um sonho
O amor, eu bem sei
Já provei
E é um veneno medonho
É por isso que se há de entender
Que o amor não é um ócio
E compreender
Que o amor não é um vício
O amor é sacrifício
O amor é sacerdócio
Amar
É iluminar a dor
- como um missionário. CBHolanda


Está história aconteceu há alguns anos, antes do Caminho das Índias, mas poderia ser hoje. Estava viajando pela Índia, já tinha passado por Delhi, Jaipur, Fatehpur Sikri e estava no estado de Uttar Pradesh, no norte , precisamente na cidade de Agra e iríamos visitar o Taj Mahal, o mais conhecido monumento do país, a mais expressiva obra da arquitetura Mughal.
O Taj Mahal considerado a maior prova de amor do mundo, descrito como “Uma lágrima no rosto da humanidade”, símbolo do AMOR, é um masoléu , significa: A Coroa de Mahal, foi erguido entre 1630 e 1652 pelo Imperador Shah Jahan em memória de sua esposa favorita Aryumand Bano Began, conhecida como “A jóia do Palácio” ou Montaz Mahal, falecida ao dar a luz o seu décimo quarto filho. O edifício foi construído com o mais fino e puro mármore branco local, contendo inscrições do Corão e incrustado com pedras semi-preciosas como Jade e Cristal da China, Turquesas do Tibet, Lápis-lazulis do Afeganistão, Agathas do Yemen, Safiras do Ceilão, Ametistas da Pérsia, Corais da Arábia Saudita, Quartzo do Himalaia e Âmbar do Oceano Índico.
Todos estávamos exitados e felizes; e no caminho até o monumento, inventamos de brincar de adivinhar. Uma pessoa pensava uma coisa e tínhamos que adivinhar o que a pessoa pensará, com algumas dicas. Quem acertasse a resposta,  seria a próxima pessoa a pensar a palavra a ser adivinhada.A brincadeira transcorria com alegria e risadas infantis. Até que quem acertou e pensou a próxima palavra era uma juíza, um pouco estranha, distante , não se misturava com o grupo, sempre isolada. Nos surpreendeu ao participar do jogo de adivinhação.Começamos a tentar adivinhar o que a Juíza pensará, e por mais que ela desse dicas, não conseguíamos. E ela continuou: É uma coisa feia... É uma coisa degradante.... É uma coisa nojenta.... Falamos barata e outros insetos e nada. E ela continuava:É uma coisa que deveria ser pisada...É uma coisa que não deveria existir na face da terra.... E nós respondendo: Violência, Guerra, Preconceito... e nada... O clima começou a ficar tenso, pois pensávamos se tratar dos negros e guetos ...e nada...Até que ela decidiu parar a brincadeira. Simplesmente disse: Não brinco mais. Falamos que ela só poderia sair se dissesse o quê havia pensado. Depois de relutar, ela concordou e disse: É o Viado.Tão negro e grande foi o nosso silêncio, que uma colega estupefata respondeu: Mas por quê o veadinho, o quê que o pobre do animal têm a ver com isso... Ela respondeu seca: Não é o animalzinho, é o homossexual, a bichinha, o gay....
Já havia conversado algumas vezes com ela no café-da-manhã, curioso sobre sua posição sobre o Aborto, a Eutanásia e outros assuntos polêmicos e ela respondeu-me que quando se tratava desses assuntos, por ser religiosa, ela não conseguia julgar e preferia passar o caso e se omitir.
O clima ficou tenso no ônibus, na primeira parada, as pessoas vieram me consolar,  conversar comigo para que  eu não me chateasse. Entre elas, tinha uma cujo filho e irmão eram gays.Neste meu silêncio abissal, e talvez choque do inesperado. Eu  vi  doído meu profundo preconceito e minha frágil defesa. Aos poucos, fui conscientizando que a ofensa era diretamente a minha pessoa. Ali no caminho do Taj Mahal, eu vestido de indiano, careca, fui vítima do preconceito de uma juíza, cujo pensamento representa no mínimo sessenta por cento do pensamento dos magistrados do nosso país.Ali no norte da Índia, eu decidi que passaria minha vida a lutar contra os preconceitos e começaria pelos meus preconceitos. Ali eu aprendi quem eu era , quem eu deveria ser, e o mais importante, que eu deveria ter orgulho de mim e me amar.
Para minha surpresa, assim que chegamos e descemos do ônibus, pensaram que eu era um monge e ofereceram-me um camelo, assim, cheguei montado, como um verdadeiro deus indiano, uma divindade  . No caminho pelos jardins , fontes e o Pálacio, as pessoas vinham me abraçar, cumprimentar e pediam para serem abençoadas.....
Quando o sol se pôs, tingindo o Taj Mahal de diferentes cores crepusculares,  diversos matizes espectrais, com o reflexo no rio Yamuna.Sentei-me só ,no canto esquerdo posterior, junto a um dos minaretes e fui invadido por uma força estranha, indescritível. Não era paz, nem consolo. Talvez um abraço de Deus, ou o despertar do Deus que em mim habita, ou simplesmente a força da vida. Uma energia , um êxtase de se descobrir, um quantum de luz, uma centelha, talvez a iluminação, talvez o Amor... talvez ... ainda não sei... definir, algumas vezes ainda consigo sentir...mas como canta  o Jorge Bem Jor “Foi a mais linda história de Amor”.

OBS: No site do Senado Federal há uma enquete sobre a Lei que tramita no Congresso e que PUNE os crimes cometidos com motivação HOMOFÓBICA. Para construirmos um país verdadeiramente democrático e que as diferenças façam parte  sem exclusão acesse o site e vote SIM.

http://www.senado.gov.br/

Fotos:Fabricio Matheus

domingo, 22 de novembro de 2009

MEU PEQUENO TEATRO DE BONECOS




“O quê é a vida?Um frenesi...
O quê é a vida? Uma ilusão, uma sombra,
uma ficção...
Cujo maior bem é quase nada:
Pois toda A vida é sonho
E os sonhos, sonhos são...”Calderon de La Barca.

O filme Fanny e Alexander do Bergman , começa com o Alexander brincando com um pequeno teatro, é um filme de amor as artes cênicas. Recentemente Desejo e Reparação ou Atonement de Joe Wright, também começa com a personagem Briony com sua imaginação de escritora principiante, brincando com um pequeno teatro elisabetano.
Há mais ou menos dois anos , quando fui a Estocolmo, o Drama Teatret ainda estava em luto pela morte de Bergman e procurei pela cidade por um pequeno teatro como o do Alexander , mas só fui achá-lo em Copenhagen na vitrine da Andersen shop do Hotel Marriott, quando fui encontrar minha amiga irlandesa Davida para um passei no cidade, mas não pude comprar, pois era meu último dia na cidade e a loja estava fechada.
Posteriormente, pedi ao meu amigo que comprasse. E para minha surpresa, ele me disse que não havia mais; pois o senhor que era o artesão e fabricava os teatrinhos havia morrido, e só restava um que eles não vendiam. Talvez, encontrassem no futuro outro artesão para a confecção dos pequenos teatros.Talvez não.
O tempo passou, e eu sempre passava na Andersen shop, na esperança de ver pela vitrine, novamente, o brinquedo que tanto queria. Para minha surpresa , nesta última visita, vislumbrei com alegria nos olhos: exposto na vitrine um novo pequeno teatro.
A Andersen shop só abre das 9 às 12 e das 17 às 20 horas, tive que voltar mais tarde. Retornei como uma criança, feliz pela possibilidade de adquirir o brinquedo que tanto sonhou. Finalmente comprei meu Christian Andersen Fairytale Theatre que vêm com duas histórias, personagens e cenários. A Roupa Nova do Rei de Andersen e O Chapeuzinho Vermelho de Charles Perrault.
Contei a história de minha peregrinação pelo teatrinho para a senhora dinamarquesa que era a vendedora da loja e ela com os olhos tristes e marejados me disse melancólica que possuía o último teatro em sua casa e que o primeiro artesão dos pequenos teatros era seu falecido esposo. Engoli seco e disse:I’m so sorry. Ela sorriu.
Infelizmente não tinha a história da Pequena Sereia, que ela ficou de pedir para o atual artesão e me avisar assim que chegar.
Hoje exibo meu pequeno teatro na sala, montado e já iluminado e todas as noites ao terceiro sinal, a cortina se abre e o espetáculo começa: Era uma vez....


Fotos: Fabricio Matheus

DUBLIN











Para Gerry and Ann


Dublin é a cidade do meu coração. Paris é a cidade de minha alma e Itumbiara minha terra.
O coração às vezes muda de cidade. Mas o que quero dizer é que tenho a sensação que não conheço Dublin, que não ando por Dublin: Flutuo. Em Dublin aconteceu o contrário comigo, apesar de ter visitado a cidade inúmeras vezes, não sei falar de pronto o nome de ruas, áreas e etc... sei que sei me localizar, e isto basta aqui. Em Dublin, sempre fui conduzido, nunca estive sozinho, ou saí sozinho. Aqui, tenho a impressão que conheço mais as pessoas que a cidade. Conheço mais os irlandeses, os dublinenses, os escritores, os personagens e apesar disto conheço muito bem Dublin a minha maneira.
Sempre fico em Sutton Park, perto da Baía de Howth há 10 kilometros da cidade, junto ao mar da Irlanda, na casa dos O’Byrne. Tenho vários amigos entre os parentes dos O’Byrne que sempre visito como Davida e Anthony e os filhos, Tom e Lorene e os filhos Sasha e Lara que eles adotaram na Sibéria. Sasha é um exímio acrobata, é impressionante, desde bebê, acho que seus pais biológicos são artistas circenses.
Dublin é a cidade de grandes escritores que admiro, como: James Joyce, Oscar Wilde, Bernard Shaw, Beckett, William Yeats, Bram Stoker e os modernos e atuais Colm Toibin, Barry Macreae entre outros, este já é um fator que me aproxima desta cidade dos pubs, da Guiness, da conversas e da vida...
Assim descreverei meu pequeno roteiro pela cidade, descendo na Abbey Station, ao Norte do Liffey , o rio que corta a cidade em direção ao porto de Dublin. Passamos pelo Parlamento o Custon House e o  Abbey Theatre, o teatro nacional da Irlanda, conhecido mundialmente pelas produções de dramaturgos como Sean O’Casey e JM Synge. Continuamos até a grande O’Connel Street, cruzamos a Earl Street North onde têm a estátua de Joyce, passamos pelo prédio do Correio/The general Post Office, local histórico da libertação do país em direção a Parnell Square , junto ao The Gate Theatre e o Rotunda Hospital fica o Dublin Writer’s Museum e mais a direita na 35 North Great George’s street o James Joyce Cultural Centre.
No caminho inverso, passamos pela Abbey street, a rua do comércio e à esquerda pela Liffey street , cruzamos o rio pela Há’penny Bridge em direção a parte sul. Já estamos na região do Temple Bar, mais à direita o Dublin Castle e a Christ Church Cathedral. Voltando pela Dame street, na região central em frente ao Bank of Ireland entramos no Trinity College, já no arco principal avistamos o Camponile, atravessamos a Library Square e ao fundo à esquerda temos o Beckett Theatre. A primeira vez, estavam apresentando Esperando Godot, agora : Dias Felizes. A Old Library do Trinity é espetacular e têm o Treasury com o Book of Durrow e o Book of Kells, um dos mais ricos e decorados manuscritos da hstória irlandeza de 806 d.C.. A área do Trinity além dos prédios, praças , é repleta de jovens estudantes de todo o mundo.
Deixando o Trinity College pela Nassau Street e seguindo a Dawson , chegamos ao belo St Stephen ‘s Green, um dos mais antigos parques da cidade, com muito verde , lagos , chafariz. Ao redor do parque estão as casas com as portas coloridas, típicas de Dublin. À esquerda do parque a área dos museus como o National Museum, a Dublin City Gallery com a exposição de Francis Bacon: a Terrible Beauty. Depois a National Gallery, com a atual exibição de gravuras de Munch, em frente a outro lindo parque o Merrion Square, com a estátua de Wilde de Danny Osbourne num de seus verdes cantos. Deixo a cidade e da Pearse Station volto a Sutton Park, aos amigos e a minha família na cidade. Aideen certamente já terá chegado de Malahide com Rob , e os pequenos Sam e Luke . Em família, vamos jantar, beber muito vinho e outros aperitivos e conversar muito sobre tudo.
A primeira vez que fui a Dublin, o assunto era a primeira gravidez de Helen, uma das filhas, que mora na Austrália e eu falei o sexo de Eva que era para ser surpresa. Aideen recém casada com Rob ainda nem estava grávida de Sam e os tempos eram de fartura, altos salários, comprar e vender. Hoje a ordem é cortar gastos e custos.Enquanto bebemos continuamos a discutir sobre o nível alcoólico permitido no país para conduzir os veículos, polêmica, contra a cultura local dos pubs. Certamente se estivesse lá hoje, iríamos discutir sobre a mão boba do francês Thierry que tirou a Irlanda da Copa....



Fotos:Fabricio Matheus

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

PELA SIERRA NEVADA HASTA LA COSTA DEL SOL




"Entre a realidade e a lenda, publique-se a lenda."


Ao som da Maria Bethânia cantando Estrelas e Você Perdeu , saímos estrada à fora em direção a Sierra Nevada que horizonte abraça ao longe a cidade de Granada. Fomos em direção a este maciço montanhoso com seus cumes brancos de neve pertencente ao conjunto das Béticas, parte da cordilheira Penibética da Andaluzia, estendendo a sudoeste pela província de Almería, delimitado a oeste pelo Valle do Lecrín, a leste pelo corredor do Gérgal, ao norte pela depressão Bética e ao sul pelo vale do Guadalfeo. Deste relevo montanhoso, nascem os rios da bacia do Guadalquivir, como o Gentil , o Dúrcal e Trevélez e afluentes do rio Guadalfeo.
Passamos pelos férteis vales e altos de Las Alpujarras, recobertos por castanheiras, nogueiras e alámos nas escarpas meridionais da Sierra onde pequenos vilarejos estão incrustados à beira da rodovia A44 em direção a Laranjón e a Orgiva, fomos montanha acima por estradas adjacentes e estreitas passando pelas cidades brancas de arquitetura originais nas encostas com grupos compactos de casas irregulares com altas chaminés saindo dos telhados planos acinzentados,sempre com mais montanhas ao fundo.
Paramos para um café em Pampaneira, um belíssimo povoado de Alpujarra na Serra da Poqueira, a 1058 metros do nível do mar. A cidade é reconhecida pelo conjunto histórico e artístico, nos perdemos por suas ruelas de pedras com desníveis entre casas brancas com aspecto da era islâmica, com vista esplêndida para Alpujarra e Treveléz. Atrás da igreja, entre cafés e lojas de artesanatos de couro e tapeçarias, a pitoresca fonte de Santo Antônio com águas milagrosas para os solteiros. Pampaneira foi o local do primeiro centro budista da Espanha.
Descemos rumo ao sul e a costa do sol, como as águas que descem como capilares e dão nome a Serra Capelleria com seus campos serrados sobre o vale do Tago do Diabo, fomos deixando as serras para trás a medida que de longe no horizonte aos poucos veio surgindo o cheiro e a vista do mar.
Chegamos a Costa Tropical em Almuñécar, com seu castelo cidade acima, suas areias de pedras cinzas e o mar azul mediterrâneo em direção à África. Fomos à beira-mar em direção leste , passamos pelas Cuevas de Nerja, uma série de cavernas descobertas em 1959, com pinturas nas paredes de cerca de 20 mil anos atrás, alguma câmaras do tamanho de catedrais e hoje com um teatro interno para apresentações.
Em Nerja, caminhamos pelas suas encostas, pelo centro da cidade, com restaurantes e hotéis cheios de turistas, o balcão da Europa e outras vistas. Dorminos no Hotel Perla Marinha e no outro dia pela manhã escura, com um vento forte e chuva que quase arrancava as folhas dos coqueiros, saímos em direção à Málaga , cidade natal de Picasso. De Málaga já com sol e calor deixamos a Península Ibérica e voamos para a Irlanda.

 
Fotos:Fabricio Matheus e Conor O'Byrne

AS PAREDES E MUROS DE GRANADA










Caminho por Granada
cercada de montanhas e rios
piso nas pedras de suas ruas
ando cercado de paredes e muros
com cores e desenhos da poesia da cidade.
Caminho por Granada
escutando o eco nas montanhas da poesia e palavras de Lorca
Passam por mim noivas abandonadas
com os olhares fixos e perdidos nos anéis de Granadas
Há Granadas maduras que se debruçam
nos muros das casas brancas com varandas floridas
Caminho por Granada
cercado de muros e paredes
com cores e desenhos da poesia da cidade
Do Sacramento ouço passos e música das castanholas do Flamenco
Passam por mim crianças com os olhos brilhantes de esperança
e os bolsos cheios de Granadas
Caminho por Granada
e no horizonte o sol se põe
Da cor de Granada
em indefiníveis tons de vermelho e paixão.


Fotos e poesia:Fabricio Matheus

AS MULHERES DE LORCA











"Tudo isso são coisas de gente que não se conforma com o seu destino"

"Cada vez mais tenho mais desejos e menos esperanças." Yerma FGLorca.


Estas fotos são da exposição 8 Mulheres de Lorca , no Centro de Estudos Lorquianos em Fuente Vaqueros sua cidade natal, com esculturas-vestidos em papel de Luis Casablanca, fotografias , vídeos e outras linguagens plásticas do século XXI, a serviço do espaço simbólico do tempo , do eterno e da mulher lorquiana.
As mulheres de Lorca são tantas, entre sua mãe, Yermas , Marias, Annas, Rositas, Belizas, Bernardas, Adelas, Angústias, Madalenas, Martírios, Amélias, tias , vizinhas, cunhadas, Marianas, Antônias, Margarita Xingú, noivas, lavadeiras, afogadas , ingênuas, infiéis, sapateiras, feiticeiras, Santa Lucia e Santa Olalla e outras santas entre outras tantas mulheres...
Entre nós , foram as mulheres que introduziram Lorca no teatro em 1944, com a companhia de Dulcina de Morais, a primeira que representou Bodas de Sangue, com tradução da poetisa Cecília Meireles que também como o colega poeta cantou a liberdade e recebeu crítica ardente e honrosa de Rachel de Queiroz. Dulcina e o teatro de seu tempo é uma ótima biografia desta grande artista escrita pelo ator e artista Sérgio Viotti.
À mim, Lorca também chegou –me com sua poesia pelo teatro, em 1999 com o espetáculo Um Certo Olhar Pessoa e Lorca adaptado e interpretado pelo Raul Cortez e com direção do Possi Neto. Já havia assistido A casa de Bernada Alba, mas depois deste espetáculo de poesia e música foi que mergulhei na obra de Lorca que junto com Fernando Pessoa , considero os grandes poetas de minha vida.
A poesia , teatro e outras obras de Lorca, às vezes obscura, não deixa de nos tocar mesmo incompreendida no ínicio, no primeiro instante. Palavras carregadas de Amor e Morte, como a força das águas que descem as montanhas pelos mananciais dos rios Gentil, Darro e Beiro, à principio turvas dos restos dos degelos e da natureza que arrastam na sua descida, com o tempo voltam a ficar claras, cristalinas, mostrando no fundo suas pedras e seixos, sem esquecer do que passou.

Fotos: Fabricio Matheus