terça-feira, 29 de junho de 2010

PRETÓRIA









Não esqueçam esse grave alerta que repousa nas palavras “dividir e governar”;nunca permitam que elas sejam aplicadas à nação sul-africana. Só então nosso povo e nossa ´língua perdurarão e prosperarão”.
Aquele que deseja criar um futuro, não se atreva a negligenciar o passado. Que busque , assim, tudo o que é bom e belo no passado, transforme no seu ideal , e lute para realizar esse ideal no futuro”.Paul Kruger

Ficou imediatamente claro para mim o quão apática a nossa juventude está,particularmente em relação a temas que dizem respeito à nossa história, nossos ícones , heróis e lendas....”Aubrey Sekhabi, dramaturgo sul-africano


Quando cheguei a Pretória, já tinha passado pelo Cabo Oeste , Gauteng e Mpumalanga , o nordeste do país. Com dez dias viajando , já tinha uma noção e impressão do que tinha vivido. E posso dizer que muito boa.
O horizonte de Pretória é como o de uma grande cidade do interior de São Paulo. Shopings e Markets à beira da estrada principal. Era sábado à tarde e não tinha trânsito, as ruas limpas e bem sinalizadas. Fomos direto para New Muckleneuk, um bairro ao lado da Universidade da África do Sul onde ficava nossa pousada.
Pretória é a capital administrativa da África do Sul, fundada em 1855, com nome derivado do fundador e primeiro presidente da República Bôer.
Em 2005, tentaram por um plebiscito mudar o nome da cidade para Tshwane que significa “Somos todos iguais” e hoje é a denominação da área metropolitana que incluí a cidade de Pretória e outros núcleos.
Visitei primeiro o Union Buildings que abriga a sede do governo e os escritórios da Union of South América. O edifício em estilo renascentista não é aberto ao público , podendo ser admirado à partir dos jardins acima de uma colina com vista panorâmica da cidade. A cidade é repleta de Jardins e parques, alguns comparados aos jardins franceses e com muitos jacarandás provenientes do Rio de Janeiro.
Descemos à Old Church Square que é o centro histórico, ponto de encontro popular e área comercial, sempre cheio de pessoas, aqui sim, a maioria negra. Vários edifícios antigos, alguns majestosos com significativo papel na história da cidade e outros novos como o Teatro Nacional (State Theatre) e o monumento em honra ao Presidente Paul Kruger. Próximo à praça antigas casas de famílas inglesas como Brontë, Charles Darwin, Melsrose House e o Museu Kruger , que foi a residência do presidente Kruger , todos com móveis , traços e fantasmas daqueles que viveram ali, com uma sensação de que seus ocupantes acabaram de sair e logo voltaram. Às vezes o passado pode ser tocado e imaginado.
Tive uma rápida visão da cidade e retornamos à pousada onde eramos esperados para o jantar.
A Jensen Guest House é uma pousada gerenciada por Holger Jensen, dinamarquês , que adotou a África do Sul como seu país, pelo clima e sua paixão pelos animais. Jensen organiza tours e safáris pelo país e já abrigou ilustres nomes da Escandinávia entre eles a família real. Ele foi o responsável pela organização de minha viagem e achava que eu seria Fabricia. Sua pousada abriga cerca de quatro casas em estilo escandinavo, ocupa meio quarteirão, com sua própria residência e as outras adaptadas em suítes, salas de estar , sala de jantar. Tudo de muito bom gosto, com jardins tropicais, lagos com carpas coloridas e junto a piscina que fica no centro, um mastro com a bandeira branca e vermelha de seu país hasteada.
Assim que chegamos fomos recebidos com chá, café e brownie por Benny, outro dinamarquês , considerado filho por Jensen, sua esposa Susanne e seu filho Nicolai e os cães de Jensen, sua outra paixão.
A sala de Jantar em estilo dinamarquês , com pé direito alto , lustre de cristal e paredes repletas de seus trofés: cabeças empalhadas de animais que Jensen mesmo caçou. Sua outra paixão : a caça e pesca. A caça foi e ainda é um esporte dos nobres. Jensen exibe com orgulho sua paixão pelo esporte com as paredes ornadas com os animais caçados em diferentes países e conta com detalhes a arte de empalhar, como escapelar a cabeça do animal sem danificá-la , realiza-se um molde de fiber-glass que será recoberto com a carcaça do animal, sendo que parte do processo é realizado na Alemanha que fabrica com exímio os olhos de vidro. Jensen adora ópera e música clássica. Foi um choque na minha alma , recém chegado de um safári e cercado por animais embalsamados ao som de Wagner.
Susanne é fotografa e artista plástica e nos conduziu à adega para escolhermos o vinho além de mostrar seu trabalho. À mesa com um candelabro de seis velas e flores ,sentou-se entre nós , um casal dinamarquês que tinha acabado de chegar da Cataratas de Niagará e outro casal de homens, do serviço de relações diplomáticas Dinamarca –África do Sul.
Na mesa falávamos inglês, dinamarquês e português. Engraçado que com o tempo , mesmo sem falar dinamarquês, eu sabia do que estavam falando.Fomos servidos por Susanne e Benny. Entre música instrumental clássica, ópera e os latidos dos cães , de repente ,tocou-se As Bachianas de Vila Lobos.
Depois do jantar à beira da piscina contemplando o céu estrelado da África do Sul, foi que notei duas mulheres negras ,que saíram da casa ao lado da de Jensen ,para limpar e fechar a sala de Jantar.
No quarto, ao meu lado, um veado/Impala velava com seus olhos de vidro germânico o meu sono.
Acordei cedo e Jensen me levou de volta ao Aeroporto em Joanesburgo. Falamos de tudo, sua paixão pela caça, ópera, cinema que inclui cinema dinamarquês , Fellini e mundial, assistiu até Central do Brasil, Carandiru e Os dois filhos de Francisco.
Hoje Jensen, além de organizar tours pela África, viaja somente para países onde a caça é permitida. Por um momento , eu me senti o Chapeuzinho Vermelho tendo sobrevivido à experiência da floresta ,ao lado do caçador. Quem sou eu para julgar qualquer coisa? Na minha cesta para a vovózinha, quer dizer na minha mala; trazia um tapete de couro de Zebra para o Brasil.

www.susannephoto.com

www.jensensafaris.com

Fotos:Fabricio Matheus

JOANESBURGO













Se você falar com um homem numa linguagem que ele compreende, isso entra na cabeça dele. Se você falar com ele em sua própria liguagem, você atinge seu coração."
"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião.
Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar."
A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”Nelson Mandela

Depois do fim do apartheid, tudo mudou. Não estamos seguros em nossas próprias casas, não podemos andar na rua
Não sou racista, mas estávamos melhor antes”Bárbara , indiana casada com um alemão católico.

O racismo se inverteu... agora são os negros contra os indianos e brancos” Mutasami, 27 anos, indiano.

Miserável país aquele que não tem heróis. Miserável país aquele que precisa de heróis.”B.Brecht



A palavra África deriva de AURUNGA ou AFRI, NOME DA TRIBO Berbere que na antiguidade habitava o norte do continente. O nome começou a ser usado pelos romanos à partir da conquista da cidade de Cartago, perto de Túnis , capital da Tunísia no século VII a.c.. Somente no século XVI, com a necessidade dos europeus de avançarem para o interior e para o sul do continente negro em busca de novas riquezas e exploração de matéria-prima, foi que o nome África se generalizou para todo o continente.
África também significa :façanha, proeza, valentia, algo difícil de se realizar.
Cheguei a Àfrica em Joanesburgo e fui direto para o sul, Cape Town ou Cidade do Cabo. Parti da Àfrica de Joanesburgo. Começo minhas descrições e recordações da África do Sul pelo ínicio e final.
Joanesburgo é a maior cidade da África do Sul, a quarta maior do continente africano, fundada em 1886 com a descoberta e o boom do ouro na região; hoje o centro financeiro e comercial do país.
Em Joanesburgo fica a township de Soweto, famosa pelo apartheid e onde morou Nelson Mandela. A cidade é mais um ponto de escala no país, ainda com altos índices de violência e segregação.
Os principais pontos turísticos são: O Museu do Apartheid, o Museu Mandela, o Museu da África e o Berço da Humanidade à 25 Km a noroeste, o sítio arqueológico de Sterkfontein, famoso por ser o mais rico sítio de hominídeos e onde foi encontrado em 1947, o crânio de um Australopitheces africanus apelidado de Mrs Plees, o primeiro esqueleto humano que remonta há 2-3 milhões de anos.
Cheguei assustado em Joanesburgo com histórias de violências sofridas por amigos que a tinham visitado anteriormente, mas, excitado com histórias e lutas dos negros do continente que migraram para o Brasil como escravos e homens que lutaram no país por liberdade, além da curiosidade com relação aos animais e a geografia da região. No aeroporto internacional à caminho de Cape Town, parecia um aeroporto europeu, com poucos negros , estes poucos trabalhando na limpeza dos toaletes, e com um serviço rápido e eficiente.
Voltei a cidade com a frase dita por quase todos os africanos, ou pessoas que moram na África que conheci pela viagem: - A África do Sul, não é a verdadeira África.
Do continente africano, já havia visitado o Egito, que também não é a verdadeira África, foi o que me disseram. A verdadeira África que descreveram , foi pintada com cores mais fortes e mais sangue. Uma África da miséria, da dor, da fome, da doença, da violência, da segregação e preconceito, do abandono, da exploração, cujo único culpado é o próprio homem. Vi um pouco disso, com cores mais tênues... vi também outra África: a África da natureza, que me ensinou sobre o tempo e o respeito para com a mesma. Talvez eu nunca chegue a conhecer a verdadeira África. Mas o pouco da África que conheci foi verdadeira.
Joanesburgo é violenta, segregada, negra, com muita miséria, contudo , se a África do Sul não é a verdadeira África , deve-se a lutas e ao sangue de seus homens negros, representados pela figura do hoje considerado herói vivo nacional:- Nelson Mandela ou simplesmente Mandiba.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

AZUL ANIL ANIL AZUL....



































MUITAS PESSOAS AINDA USAM ANIL COMO MINHA AVÓ....

Fotos:Fabricio Matheus

terça-feira, 15 de junho de 2010

CASTING , ÊXODOS E MAUREEN BASILLIAT









"Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...


Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares! Castro Alves



Não nos esqueçamos da verdade elementar de que quando um escritor começa a escrever, por mais solitário e ignorante que ele seja, nunca está sozinho. Atrás dele estão não só os grandes gênios e inventores da literatura universal(mesmo que ele não os conheça, o que é natural), mas sobretudo e principalmente os pequenos e grandes escritores que escreveram na sua língua antes dele.”Autran Dourado.

Ah! Que Saudade eu sinto da Bahia! Ah! Se eu escutasse o que mamãe dizia...” Dorival Caymmi



Quem nunca pensou em deixar seu país? Tentar uma nova vida em terra estrangeira, distante...Viajar não a turismo, mas em busca de um futuro melhor. Mudar totalmente o passado por um futuro alhures. Viajar simplesmente?
Quem nunca nessa travessia se perdeu no meio do caminho? Quantos nessa busca de um futuro melhor, de um sonho, de uma terra promissora, por problemas burocráticos e legais não ficaram impedidos de entrar no local para onde partiram , ou voltar de onde partiram? Quantos ficaram no meio? No nada, sendo nada. Quantos entraram em outros países de forma ilegal? Quantos por lá permaneceram ilegais? Quantos perderam sua nacionalidade nesta mudança de país? Quantos na busca de um sonho e futuro grandiosos, encontraram não mais que sofrimento e desilusão? Quantos se deram bem?
Quantos nessa travessia encontrou uma nova Pátria ou reconheceu sua verdadeira Pátria?Quantos se sentem estrangeiro ou o são em seu próprio país? Os sonhos às vezes são pesadelos.
A função da arte entre outras é Transformar. O Teatro do Folias com as peças Casting e Êxodos em cartaz no momento é uma Explosão de questões, pensamentos e pura arte. Espelho  mágico do nosso tempo.
Apesar de Êxodos ter estreado antes de Casting, acho o Casting um pré Êxodos ou o Êxodos um pós Casting. Poderia escrever tecnicamente sobre os dois espetáculos: - Luzes, encenação, técnica de atores, direção, textos... O que o Casting têm da ideologia do El dia em que me queiras do Cabrujas, pequeno exemplo: A personagem Maria Luiza queria fugir de Caracas,com o noivo Pio Miranda para os Kolkoses Russos para plantar beterraba.... Utopias, ideologias;suas perdas ....As influências de Tchekhcov e Brecht no novo teatro russo de Alexsandr Gálin. O realismo fantástico de Gabriel Garcia Marques e a fotografia crua e bela de Sebastião Salgado .... mas quero tentar escrever o que estes espetáculos fizeram com minhas emoções , como eles entraram nos meus sonhos e nos meus pesadelos.
Sou um viajante nato. Sempre me senti estrangeiro na minha cidade natal : Itumbiara, no centro do Brasil, que em tupi-guarani significa : O caminho da Cachoeira, veredas... Sempre quis ir além do rio Paranaíba que banha a minha cidade mostrando Minas Gerais do outro lado da margem.
São Paulo tornou-se minha cidade de alma, reconheço-me no horizonte iluminado nas marginais dos rios Pinheiros e Tietê, ao entardecer nas milhões de luzinhas dos faróis dos carros e dos edifícios, alguns se espelhando e multiplicando-se em infinitos.
Senti-me realmente brasileiro, uma vez, numa ilha na Grécia,quando surpreendentemente entre Madonnas e outras dance musics , começou a tocar uma música brasileira com a Maria Bethânia, Caetano e Gil: “ Foram me chamar? Eu estou aqui o que é que há! Eu vim de lá. Eu vim de lá pequenininho....” Neste momento a Canção do Exílio de Gonçalves Dias fez verde-amarela minha alma anil: Sou Brasileiro.
Entre as minhas travessias, lembro-me uma vez em Arica no norte do Chile, quando não havia cartões de créditos, quando se viajava com travellers cheques e existia cidades que não conheciam ou trocavam os mesmos. Estava sem dinheiro local e uma mulher chilena que sustentava toda a família com pequenos contrabandos, coisas simples (sacoleira), se compadeceu de minha situação: de jovem brasileiro sem rumo, perdido, sem dinheiro;e me ajudou  a atravessar a fronteira, num taxi com imigrantes, alguns ilegais, até a cidadezinha de Tacna, no Peru, que na época, tinha uma rua de terra e muitos ao léu.Ao relento, perdidos como eu.
Alojou-me com ela numa pequena pensão. Deu-me de comer e pagou minha passagem de ônibus para Arequipa. No ônibus, sonhei que estava em Itumbiara, na minha casa de infância, com as grades vermelho e branco e despertei com uma sensação de calor e afago e com a imagem do vulcão Misti.
Agradeci com palavras e com o coração a esta chilena. Já em Arequipa , consegui trocar os travellers e continuei minha viagem em busca dos mistérios Incas, dos meus mistérios.
A Poesia é a única prova da existência do Homem”. Estes espetáculos ainda me fazem sonhar. Nos só nos reconhecemos e nos conhecemos no outro. Não percam, Casting só têm mais uma semana.Não deixem de sonhar com o Êxodos.
Falando de estrangeiros, de fotos e de arte , visitem a exposição de Fotografia de Maureen Bisilliat, no Centro Cultural Fiesp-Ruth Cardoso no Sesi da Paulista, uma estrangeira brasileiríssima, que com suas fotos de raças e povos tão diferentes , nos fazem reconhecer no outro, nas expressões e olhares algo de comum a todos, talvez uma poesia, uma música ,um mistério...
Nesta época de Copa do Mundo, admito: não sou um torcedor fanático.Mas reconheço a importância do esporte bretão. Não houve um local estrangeiro que estive que não conheciam o Pelé e o Ronaldinho. Na última Copa Mundial , estava no Norte do país, e até os casebres das populações ribeirinhas dos igarapés nos cafundós da Amazônia estavam enfeitados de verde e amarelo.
É claro que me reconheço brasileiro na língua, quando vejo tremular minha bandeira ou escuto o hino de minha Pátria. Nunca tive nenhum tipo de preconceito no exterior com meu passaporte verde ,agora: azul. Sinto-me privilegiado no mundo globalizado ainda com tanta miséria.Mas quando assisto estes espetáculos e vejo esta exposição com tanta VERDADE. Têm algo em mim que se encanta , não sei definir, talvez a alegria e a esperança de minha alma brasileira me fazem sonhar , por mais utópico que possa parecer, com um país ético, justo, libertário, com  mais educação e saúde. E aí eu me reconheço, sinto-me cidadão, igual, humano: Eu me sinto mais brasileiro.


Reminiscências do Blog como num sonho: Tive Educação Moral e Cívica na escola. Subi em palanques ao lado do Presidente Figueiredo, na ditadura, quando existiam os partidos ARENA e o MDB. Mas depois que escrevi o texto a palavra Anil ficou ecoando, ressoando em minha mente . E lembrei-me do anil, azul , em cubos. Sua embalagem azul, branca e vermelha, que minha avó dissolvia na água para clarear os lençóis brancos que voavam nos varais como um canto de liberdade....Será que ainda usam anil?

Arte:Fabricio Matheus



segunda-feira, 14 de junho de 2010

"EU TENHO UM SONHO" Martin Luther King






Eu Tenho Um Sonho

Martin Luther King, Jr.
28 de agosto de 1963 Washington, D.C.

"Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e da Declaração de Indepêndencia, estavam assinando uma nota promissória de que todo norte americano seria herdeiro. Esta nota foi a promessa de que todos os homens, sim, homens negros assim como homens brancos, teriam garantidos os inalienáveis direitos à vida, liberdade e busca de felicidade.
Mas existe algo que preciso dizer à minha gente, que se encontra no cálido limiar que leva ao templo da Justiça. No processo de consecução de nosso legítimo lugar, precisamos não ser culpados de atos errados. Não procuremos satisfazer a nossa sede de liberdade bebendo na taça da amargura e do ódio. Precisamos conduzir nossa luta, para sempre, no alto plano da dignidade e da disciplina. Precisamos não permitir que nosso protesto criativo gere violência físicas. Muitas vezes, precisamos elevar-nos às majestosas alturas do encontro da força física com a força da alma; e a maravilhosa e nova combatividade que engolfou a comunidade negra não deve levar-nos à desconfiança de todas as pessoas brancas. Isto porque muitos de nosssos irmãos brancos, como está evidenciado em sua presença hoje aqui, vieram a compreender que seu destino está ligado a nosso destino. E vieram a compreender que sua liberdade está inextricavelmente unida a nossa liberdade. Não podemos caminhar sozinhos. E quando caminhamos, precisamos assumir o compromisso de que sempre iremos adiante. Não podemos voltar.
Digo-lhes hoje, meus amigos, embora nos defrontemos com as dificuldades de hoje e de amanhã, que eu ainda tenho um sonho. E um sonho profundamente enraizado no sonho norte americano.
Eu tenho um sonho de que um dia, esta nação se erguerá e viverá o verdadeiro significado de seus princípios: "Achamos que estas verdades são evidentes por elas mesmas, que todos os homens são criados iguais".
Eu tenho um sonho de que, um dia, nas rubras colinas da Geórgia, os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos senhores de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho de que, um dia, até mesmo o estado de Mississipi, um estado sufocado pelo calor da injustiça, será transformado num oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho de que meus quatro filhinhos, um dia, viverão numa nação onde não serão julgados pela cor de sua pele e sim pelo conteúdo de seu caráter.
Quando deixarmos soar a liberdade, quando a deixarmos soar em cada povoado e em cada lugarejo, em cada estado e em cada cidade, poderemos acelerar o advento daquele dia em que todos os filhos de Deus, homens negros e homens brancos, judeus e cristãos, protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos e cantar com as palavras do antigo spiritual negro: " Livres, enfim. Livres, enfim. Agradecemos a Deus, todo poderoso, somos livres, enfim. "
Este é um  trecho de um dos famosos discursos do lider negro Martin Luther King, que deveria ser o sonho de todos os homens do planeta.Muito já se fez, mas há muito ainda a fazer.
A Flor abaixo do clamor da força do grande Homem, que foi Martin,  chama-se Protea. E é a Flor símbolo da África do Sul pós Apartheid. 



terça-feira, 8 de junho de 2010

MANDELA




Reviver
Tudo o que sofreu
Porto de desesperança e lagrima
Dor de solidão
Reza pra teus orixás
Guarda o toque do tambor
Pra saudar tua beleza
Na volta da razão
Pele negra, quente e meiga
Teu corpo e o suor
Para a dança da alegria
E mil asas para voar
Que haverão de vir um dia
E que chegue já, não demore, não
Hora de humanidade, de acordar
Continente e mais
A canção segue a pedir por ti
(a canção segue a pedir por nós)
África, berço de meus pais
Ouço a voz de seu lamento
De multidão
Grade e escravidão
A vergonha dia a dia
E o vento do teu sul
É semente de outra história
Que já se repetiu
A aurora que esperamos
E o homem não sentiu
Que o fim dessa maldade
É o gás que gera o caos
É a marca da loucura
África, em nome de deus
Cala a boca desse mundo
E caminha, até nunca mais
A canção segue a torcer por nós” Milton Nascimento: Lágrima do Su/ música para Nelson Mandela


Unam-se!Mobilizem-se!Lutem!Entre a bigorna que é a ação da massa unida e o martelo que é a luta armada devemos esmagar o apartheid!”



Nelson Rolihlahla Mandela, advogado, ex-líder rebelde e ex-presidente da África do Sul de 1994 a 1999, nascido em Mvezo no dia 18 de julho de 1918, às vésperas de completar 92 anos, é o político vivo mais respeitado do mundo.
De um linhagem aristocrática, ele perdeu o pai ainda criança e foi morar na tenda do chefe de sua tribo, os thembu. Foi o primeiro de sua família a ir à escola, uma instituição privada que atendia a realeza tribal. Era aluno aplicado , metódico, orador nato.
Mandela renunciou a liderança de seu clã , quando soube que um casamento lhe havia sido arranjado. Expulso da faculdade por ter se envolvido em um boicote contra a política universitária do governo, mudou-se para Joanesburgo onde trabalhou numa imobiliária e terminou o curso de direito por correspondência. Conheceu Walter Sisulu, com quem fundou o primeiro escritório negro de advocacia do país. Fundou com Walter Sisulu e Oliver Tambo(entre outros) uma organização mais dinâmica , a Liga Jovem do CNA/ANC-Congresso Nacional Africano.
Mandela tinha características que o diferenciavam dos líderes do partido. Além do carisma e da modéstia, deixava transparecer uma ausência de qualquer sentimento de vingança em relação aos brancos. Com uma confiança inabalável , tinha o dom de ouvir e uma memória prodigiosa. Tais atributos o levaram a liderança do partido, comprometido inicialmente com atos não violentos. Depois do massacre de Sharpeville(21 de março de 1960) , quando a polícia sul-africana atirou em manifestantes negros, desarmados, matando 69 pessoas e ferindo 180, Mandela e seus parceiros recorreram às armas, passaram por um treinamento militar na Argélia e na Etiópia e à cordenação da guerrilha do CNA, que entrou na ilegalidade.
Depois de quinze meses de perseguição , em agosto de 1962, Nelson Mandela foi preso e sentenciado a 5 anos de prisão pro viajar ilegalmente ao exterior e incentivar greves. Em 02 de junho de 1967 foi a novo júri sendo condenado à prisão perpetua por atividades subversivas.
Mandela prisioneiro passava o tempo entre trabalhos forçados, leitura e meditação. Era autorizado a receber visitas apenas a cada 6 meses. Superou problemas pessoais como as freqüentes prisões da mulher e a morte mal explicada de um filho por acidente de automóvel. Casou-se três vezes, a primeira com Evelyn Ntoko Mase , da qual se divorciou após 13 anos de casamento. Depois casou-se com a assistente social Winnie Madikizela, 18 anos mais jovem, com quem ficou por 38anos, sendo que quase três décadas se relacionando através do vidro da prisão da ilha de Robben. O casal se divorciou em 1996 depois que divergências políticas e pessoais vieram a público. No seu octogésimo aniversário, Mandela casou-se com Graça Machel, viúva de Samora Machel, , líder da independência e primeiro presidente de Moçambique, antigo aliado do CNA.
O movimento para sua libertação tomou proporções mundiais , associado à oposição ao Apartheid e a frase “Free Mandela”/Libertem Mandela tornou-se bandeira de todas as campanhas e grupos anti-apartheid ao redor do mundo.
Recusando trocar uma liberdade condicional pela recusa em cessar o incentivo a luta armada, Mandela continuou na prisão até fevereiro de 1990, quando a campanha dão CNA e a pressão internacional conseguiram que ele fosse libertado em 11 de fevereiro, por ordem do presidente Frederik Willen de Klerk. A CNA foi tirado da ilegalidade.
Nelson Mandela recebeu vários prêmio internacionais pela sua luta pelo Direitos Humanos, incluindo um Nobel da Paz . Em maio de 1994 , tornou-se presidente da África do Sul, nas primeiras eleições multi-racionais do país.Com um governo compostos por aliados e membros do ACN, comandou a transição do regime de minoria no comando, ganhando respeito internacional por sua luta em prol da reconciliação interna e externa.
Após o fim do mandato em 1999, Mandela voltou-se para a causa de diversas organizações sociais e de direitos humanos. Em 2003 após críticas à política externa do governo Bush, anunciou seu apoio à campanha de arrecadação de fundos contra a AIDS, cujo nome é 46664- sua matrícula prisional. Em junho de 2004, aos 85 anos anunciou que se retiraria da vida pública. Premiado em 2006 pela Anistia Internacional com o título de Embaixador da Consciência, em reconhecimento à liderança na luta pela proteção dos direitos humanos.


PS:Assistam Invictus com Matt Damon, Morgan Freeman dirigido por Clint Estwood

ÁFRICA DO SUL E O APARTHEID




A Africa do Sul, país onde será disputada a próxima Copa Mundial de Futebol, situada no extremo sul do continente, é um dos maiores exportadores de minérios do mundo. Tem produto Interno Bruto de 278 bihões de dólares( o do estado de São Paulo è de 490 bilhões). Com uma população de 49 milhões de habitantes(São Paulo têm 41 milhões), dividida entre 80% de negros, 10 % de brancos , e outro tanto de mestiços e asiáticos.Com Joanesburgo a grande metrópole. Pretória o centro governamental e a Cidade do Cabo com suas montanhas à beira-mar entre as principais cidades.
Os negros pertencem a etnias e tribos que têm idiomas , costumes e religiões diversas. Os brancos, na maioria , descendentes de ingleses e holandeses. Os asiáticos de origem indonésia e indiana. A maioria dos sul-africanos, mesmo os mais pobres, fala inglês e pelo menos outras três línguas e dialetos. A maioria da população é cristã, mas integra uma miríade de igrejas e designações protestantes e pentecostais, por vezes combinadas com religiões autóctones.
Situado na rota comercial para as Índias, o sul da África foi colonizado por holandeses, aos quais vieram se juntar flamengos, alemães e franceses. Foram eles que, a serviço da Companhia das Índias Ocidentais, haviam montado um posto de abastecimento para suas fragatas, em meados do século XVII, e deram origem aos africâneres, chamados pejorativamente de bôeres. Desde o seu estabelecimento na região , travaram inúmeras disputas com os nativos por terra e gado. Ainda que os africâneres tivessem se apropriado de boa parte do território, as tribos nativas permaneceram independentes e os escravos vinham da Indonésia, colônia holandesa.
Em 1860, no período das disputas imperialistas européias, os ingleses desembarcaram com artilharia pesada, canhões e soldados para dominar o local. Entraram em conflito com os africâneres e os nativos. Após vinte anos de luta sangrenta , os ingleses se estabeleceram, trazendo escravos da Índia.
Nessa época, a descoberta de diamantes, provocou uma migração em massa para a região, mais de 50 mil pessoas, sendo a exploração das minas de pedras preciosas controladas pelos ingleses.
Com o território dominado, africâneres e britânicos se entenderam e proclamaram a União Sul-Africana. Forma promulgadas as primeiras leis de segregação racial: O APARTHEID .
O APARTHEID , que significa “separação” em africânder, ou a política de segregação racial, foi adotada legalmente em 1948 pelo Partido Nacional, com a ideologia da criação de um sistema político que separasse as raças, prevenindo os “Brancos” , os africâneres e outras minorias, que foram a classe dominante por mais de três séculos sem poder exterior , pois não tinham para onde retornar como aconteceu em outras colônias,de serem engolidos e perderem sua identidade, mas trataria contudo, as raças de forma justa e igual. O que não aconteceu e traduziu-se num sistema cruel, com leis de segregação racial, passaportes que restringiam a circulação de negros e a compra de terras fora das reservas tribais. O casamento inte-racial virou crime. Escolas, hospitais e bairros foram divididos. Os negros perderam o direito do voto,o direito básico de ser cidadão.O Partido Nacional criou também os Bantustões - dez nações tribais pretensamente autônomas, instaladas em áreas descontínuas em apenas 13% do território nacional.
Internacionalmente , a África do Sul ficou isolada, condenada pelas resoluções das Nações Unidas contra o racismo, o Apartheid foi considerado moralmente funesto. O país foi pressionado por investidores, boicotado em eventos internacionais. Os movimentos externos com as crises internas , violência extrema nos anos 80, problemas regionais como a guerra civil em Angola, progressivamente levou a ingovernabilidade do país, tornando-o uma ilha. Dentro desta ilha, as manifestações anti-racistas só faziam aumentar .
Em 2 de fevereiro de 1990, na abertura do parlamento, o presidente Frederik de Klerk declarou que o apartheid havia fracassado e que as proibições aos partidos políticos seriam extintas, incluindo o ANC ou CNA , o Congresso Nacional Africano , principal partido de oposição ao regime , liderado por Nelson Mandela. Que segundo o historiador Allister Sparks, o desmonte do Apartheid e a libertação de Nelson Mandela forma uma “revolta negociada”: - “ O Apartheid só acabou quando os brancos tiveram a certeza de que nada mudaria para eles como de fato ocorreu.” Na transição para o novo governo, mantiveram o ministro das Finanças e o presidente do Banco Central. Frederick Klerk tornou-se vice-presidente, garantiu-se o direito à propriedade privada(para evitar a desapropriação de terras dos branco como aconteceu no Zimbábue) e comprometeu a honrar dividas interna e externa e os empréstimos junto ao Fundo Monetário Internacional. Tudo foi cumprido.

FONTE:Revista Piauí 43 abril 20101, reportagem de Daniela Pinheiro “Diamantes Negros”.