terça-feira, 15 de junho de 2010

CASTING , ÊXODOS E MAUREEN BASILLIAT









"Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...


Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares! Castro Alves



Não nos esqueçamos da verdade elementar de que quando um escritor começa a escrever, por mais solitário e ignorante que ele seja, nunca está sozinho. Atrás dele estão não só os grandes gênios e inventores da literatura universal(mesmo que ele não os conheça, o que é natural), mas sobretudo e principalmente os pequenos e grandes escritores que escreveram na sua língua antes dele.”Autran Dourado.

Ah! Que Saudade eu sinto da Bahia! Ah! Se eu escutasse o que mamãe dizia...” Dorival Caymmi



Quem nunca pensou em deixar seu país? Tentar uma nova vida em terra estrangeira, distante...Viajar não a turismo, mas em busca de um futuro melhor. Mudar totalmente o passado por um futuro alhures. Viajar simplesmente?
Quem nunca nessa travessia se perdeu no meio do caminho? Quantos nessa busca de um futuro melhor, de um sonho, de uma terra promissora, por problemas burocráticos e legais não ficaram impedidos de entrar no local para onde partiram , ou voltar de onde partiram? Quantos ficaram no meio? No nada, sendo nada. Quantos entraram em outros países de forma ilegal? Quantos por lá permaneceram ilegais? Quantos perderam sua nacionalidade nesta mudança de país? Quantos na busca de um sonho e futuro grandiosos, encontraram não mais que sofrimento e desilusão? Quantos se deram bem?
Quantos nessa travessia encontrou uma nova Pátria ou reconheceu sua verdadeira Pátria?Quantos se sentem estrangeiro ou o são em seu próprio país? Os sonhos às vezes são pesadelos.
A função da arte entre outras é Transformar. O Teatro do Folias com as peças Casting e Êxodos em cartaz no momento é uma Explosão de questões, pensamentos e pura arte. Espelho  mágico do nosso tempo.
Apesar de Êxodos ter estreado antes de Casting, acho o Casting um pré Êxodos ou o Êxodos um pós Casting. Poderia escrever tecnicamente sobre os dois espetáculos: - Luzes, encenação, técnica de atores, direção, textos... O que o Casting têm da ideologia do El dia em que me queiras do Cabrujas, pequeno exemplo: A personagem Maria Luiza queria fugir de Caracas,com o noivo Pio Miranda para os Kolkoses Russos para plantar beterraba.... Utopias, ideologias;suas perdas ....As influências de Tchekhcov e Brecht no novo teatro russo de Alexsandr Gálin. O realismo fantástico de Gabriel Garcia Marques e a fotografia crua e bela de Sebastião Salgado .... mas quero tentar escrever o que estes espetáculos fizeram com minhas emoções , como eles entraram nos meus sonhos e nos meus pesadelos.
Sou um viajante nato. Sempre me senti estrangeiro na minha cidade natal : Itumbiara, no centro do Brasil, que em tupi-guarani significa : O caminho da Cachoeira, veredas... Sempre quis ir além do rio Paranaíba que banha a minha cidade mostrando Minas Gerais do outro lado da margem.
São Paulo tornou-se minha cidade de alma, reconheço-me no horizonte iluminado nas marginais dos rios Pinheiros e Tietê, ao entardecer nas milhões de luzinhas dos faróis dos carros e dos edifícios, alguns se espelhando e multiplicando-se em infinitos.
Senti-me realmente brasileiro, uma vez, numa ilha na Grécia,quando surpreendentemente entre Madonnas e outras dance musics , começou a tocar uma música brasileira com a Maria Bethânia, Caetano e Gil: “ Foram me chamar? Eu estou aqui o que é que há! Eu vim de lá. Eu vim de lá pequenininho....” Neste momento a Canção do Exílio de Gonçalves Dias fez verde-amarela minha alma anil: Sou Brasileiro.
Entre as minhas travessias, lembro-me uma vez em Arica no norte do Chile, quando não havia cartões de créditos, quando se viajava com travellers cheques e existia cidades que não conheciam ou trocavam os mesmos. Estava sem dinheiro local e uma mulher chilena que sustentava toda a família com pequenos contrabandos, coisas simples (sacoleira), se compadeceu de minha situação: de jovem brasileiro sem rumo, perdido, sem dinheiro;e me ajudou  a atravessar a fronteira, num taxi com imigrantes, alguns ilegais, até a cidadezinha de Tacna, no Peru, que na época, tinha uma rua de terra e muitos ao léu.Ao relento, perdidos como eu.
Alojou-me com ela numa pequena pensão. Deu-me de comer e pagou minha passagem de ônibus para Arequipa. No ônibus, sonhei que estava em Itumbiara, na minha casa de infância, com as grades vermelho e branco e despertei com uma sensação de calor e afago e com a imagem do vulcão Misti.
Agradeci com palavras e com o coração a esta chilena. Já em Arequipa , consegui trocar os travellers e continuei minha viagem em busca dos mistérios Incas, dos meus mistérios.
A Poesia é a única prova da existência do Homem”. Estes espetáculos ainda me fazem sonhar. Nos só nos reconhecemos e nos conhecemos no outro. Não percam, Casting só têm mais uma semana.Não deixem de sonhar com o Êxodos.
Falando de estrangeiros, de fotos e de arte , visitem a exposição de Fotografia de Maureen Bisilliat, no Centro Cultural Fiesp-Ruth Cardoso no Sesi da Paulista, uma estrangeira brasileiríssima, que com suas fotos de raças e povos tão diferentes , nos fazem reconhecer no outro, nas expressões e olhares algo de comum a todos, talvez uma poesia, uma música ,um mistério...
Nesta época de Copa do Mundo, admito: não sou um torcedor fanático.Mas reconheço a importância do esporte bretão. Não houve um local estrangeiro que estive que não conheciam o Pelé e o Ronaldinho. Na última Copa Mundial , estava no Norte do país, e até os casebres das populações ribeirinhas dos igarapés nos cafundós da Amazônia estavam enfeitados de verde e amarelo.
É claro que me reconheço brasileiro na língua, quando vejo tremular minha bandeira ou escuto o hino de minha Pátria. Nunca tive nenhum tipo de preconceito no exterior com meu passaporte verde ,agora: azul. Sinto-me privilegiado no mundo globalizado ainda com tanta miséria.Mas quando assisto estes espetáculos e vejo esta exposição com tanta VERDADE. Têm algo em mim que se encanta , não sei definir, talvez a alegria e a esperança de minha alma brasileira me fazem sonhar , por mais utópico que possa parecer, com um país ético, justo, libertário, com  mais educação e saúde. E aí eu me reconheço, sinto-me cidadão, igual, humano: Eu me sinto mais brasileiro.


Reminiscências do Blog como num sonho: Tive Educação Moral e Cívica na escola. Subi em palanques ao lado do Presidente Figueiredo, na ditadura, quando existiam os partidos ARENA e o MDB. Mas depois que escrevi o texto a palavra Anil ficou ecoando, ressoando em minha mente . E lembrei-me do anil, azul , em cubos. Sua embalagem azul, branca e vermelha, que minha avó dissolvia na água para clarear os lençóis brancos que voavam nos varais como um canto de liberdade....Será que ainda usam anil?

Arte:Fabricio Matheus



Um comentário:

  1. Que lindo! Sempre poético, né, doutor? Essas suas aventuras pelo mundo precisam se transformar num livro!

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