terça-feira, 29 de junho de 2010

PRETÓRIA









Não esqueçam esse grave alerta que repousa nas palavras “dividir e governar”;nunca permitam que elas sejam aplicadas à nação sul-africana. Só então nosso povo e nossa ´língua perdurarão e prosperarão”.
Aquele que deseja criar um futuro, não se atreva a negligenciar o passado. Que busque , assim, tudo o que é bom e belo no passado, transforme no seu ideal , e lute para realizar esse ideal no futuro”.Paul Kruger

Ficou imediatamente claro para mim o quão apática a nossa juventude está,particularmente em relação a temas que dizem respeito à nossa história, nossos ícones , heróis e lendas....”Aubrey Sekhabi, dramaturgo sul-africano


Quando cheguei a Pretória, já tinha passado pelo Cabo Oeste , Gauteng e Mpumalanga , o nordeste do país. Com dez dias viajando , já tinha uma noção e impressão do que tinha vivido. E posso dizer que muito boa.
O horizonte de Pretória é como o de uma grande cidade do interior de São Paulo. Shopings e Markets à beira da estrada principal. Era sábado à tarde e não tinha trânsito, as ruas limpas e bem sinalizadas. Fomos direto para New Muckleneuk, um bairro ao lado da Universidade da África do Sul onde ficava nossa pousada.
Pretória é a capital administrativa da África do Sul, fundada em 1855, com nome derivado do fundador e primeiro presidente da República Bôer.
Em 2005, tentaram por um plebiscito mudar o nome da cidade para Tshwane que significa “Somos todos iguais” e hoje é a denominação da área metropolitana que incluí a cidade de Pretória e outros núcleos.
Visitei primeiro o Union Buildings que abriga a sede do governo e os escritórios da Union of South América. O edifício em estilo renascentista não é aberto ao público , podendo ser admirado à partir dos jardins acima de uma colina com vista panorâmica da cidade. A cidade é repleta de Jardins e parques, alguns comparados aos jardins franceses e com muitos jacarandás provenientes do Rio de Janeiro.
Descemos à Old Church Square que é o centro histórico, ponto de encontro popular e área comercial, sempre cheio de pessoas, aqui sim, a maioria negra. Vários edifícios antigos, alguns majestosos com significativo papel na história da cidade e outros novos como o Teatro Nacional (State Theatre) e o monumento em honra ao Presidente Paul Kruger. Próximo à praça antigas casas de famílas inglesas como Brontë, Charles Darwin, Melsrose House e o Museu Kruger , que foi a residência do presidente Kruger , todos com móveis , traços e fantasmas daqueles que viveram ali, com uma sensação de que seus ocupantes acabaram de sair e logo voltaram. Às vezes o passado pode ser tocado e imaginado.
Tive uma rápida visão da cidade e retornamos à pousada onde eramos esperados para o jantar.
A Jensen Guest House é uma pousada gerenciada por Holger Jensen, dinamarquês , que adotou a África do Sul como seu país, pelo clima e sua paixão pelos animais. Jensen organiza tours e safáris pelo país e já abrigou ilustres nomes da Escandinávia entre eles a família real. Ele foi o responsável pela organização de minha viagem e achava que eu seria Fabricia. Sua pousada abriga cerca de quatro casas em estilo escandinavo, ocupa meio quarteirão, com sua própria residência e as outras adaptadas em suítes, salas de estar , sala de jantar. Tudo de muito bom gosto, com jardins tropicais, lagos com carpas coloridas e junto a piscina que fica no centro, um mastro com a bandeira branca e vermelha de seu país hasteada.
Assim que chegamos fomos recebidos com chá, café e brownie por Benny, outro dinamarquês , considerado filho por Jensen, sua esposa Susanne e seu filho Nicolai e os cães de Jensen, sua outra paixão.
A sala de Jantar em estilo dinamarquês , com pé direito alto , lustre de cristal e paredes repletas de seus trofés: cabeças empalhadas de animais que Jensen mesmo caçou. Sua outra paixão : a caça e pesca. A caça foi e ainda é um esporte dos nobres. Jensen exibe com orgulho sua paixão pelo esporte com as paredes ornadas com os animais caçados em diferentes países e conta com detalhes a arte de empalhar, como escapelar a cabeça do animal sem danificá-la , realiza-se um molde de fiber-glass que será recoberto com a carcaça do animal, sendo que parte do processo é realizado na Alemanha que fabrica com exímio os olhos de vidro. Jensen adora ópera e música clássica. Foi um choque na minha alma , recém chegado de um safári e cercado por animais embalsamados ao som de Wagner.
Susanne é fotografa e artista plástica e nos conduziu à adega para escolhermos o vinho além de mostrar seu trabalho. À mesa com um candelabro de seis velas e flores ,sentou-se entre nós , um casal dinamarquês que tinha acabado de chegar da Cataratas de Niagará e outro casal de homens, do serviço de relações diplomáticas Dinamarca –África do Sul.
Na mesa falávamos inglês, dinamarquês e português. Engraçado que com o tempo , mesmo sem falar dinamarquês, eu sabia do que estavam falando.Fomos servidos por Susanne e Benny. Entre música instrumental clássica, ópera e os latidos dos cães , de repente ,tocou-se As Bachianas de Vila Lobos.
Depois do jantar à beira da piscina contemplando o céu estrelado da África do Sul, foi que notei duas mulheres negras ,que saíram da casa ao lado da de Jensen ,para limpar e fechar a sala de Jantar.
No quarto, ao meu lado, um veado/Impala velava com seus olhos de vidro germânico o meu sono.
Acordei cedo e Jensen me levou de volta ao Aeroporto em Joanesburgo. Falamos de tudo, sua paixão pela caça, ópera, cinema que inclui cinema dinamarquês , Fellini e mundial, assistiu até Central do Brasil, Carandiru e Os dois filhos de Francisco.
Hoje Jensen, além de organizar tours pela África, viaja somente para países onde a caça é permitida. Por um momento , eu me senti o Chapeuzinho Vermelho tendo sobrevivido à experiência da floresta ,ao lado do caçador. Quem sou eu para julgar qualquer coisa? Na minha cesta para a vovózinha, quer dizer na minha mala; trazia um tapete de couro de Zebra para o Brasil.

www.susannephoto.com

www.jensensafaris.com

Fotos:Fabricio Matheus

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