segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O TAJ MAHAL , O AMOR E O GAY




Pra se viver do amor
Há que esquecer o amor
Há que se amar
Sem amar
Sem prazer
E com despertador
- como um funcionário
Há que penar no amor
Pra se ganhar no amor
Há que apanhar
E sangrar
E suar
Como um trabalhador
Ai, o amor
Jamais foi um sonho
O amor, eu bem sei
Já provei
E é um veneno medonho
É por isso que se há de entender
Que o amor não é um ócio
E compreender
Que o amor não é um vício
O amor é sacrifício
O amor é sacerdócio
Amar
É iluminar a dor
- como um missionário. CBHolanda


Está história aconteceu há alguns anos, antes do Caminho das Índias, mas poderia ser hoje. Estava viajando pela Índia, já tinha passado por Delhi, Jaipur, Fatehpur Sikri e estava no estado de Uttar Pradesh, no norte , precisamente na cidade de Agra e iríamos visitar o Taj Mahal, o mais conhecido monumento do país, a mais expressiva obra da arquitetura Mughal.
O Taj Mahal considerado a maior prova de amor do mundo, descrito como “Uma lágrima no rosto da humanidade”, símbolo do AMOR, é um masoléu , significa: A Coroa de Mahal, foi erguido entre 1630 e 1652 pelo Imperador Shah Jahan em memória de sua esposa favorita Aryumand Bano Began, conhecida como “A jóia do Palácio” ou Montaz Mahal, falecida ao dar a luz o seu décimo quarto filho. O edifício foi construído com o mais fino e puro mármore branco local, contendo inscrições do Corão e incrustado com pedras semi-preciosas como Jade e Cristal da China, Turquesas do Tibet, Lápis-lazulis do Afeganistão, Agathas do Yemen, Safiras do Ceilão, Ametistas da Pérsia, Corais da Arábia Saudita, Quartzo do Himalaia e Âmbar do Oceano Índico.
Todos estávamos exitados e felizes; e no caminho até o monumento, inventamos de brincar de adivinhar. Uma pessoa pensava uma coisa e tínhamos que adivinhar o que a pessoa pensará, com algumas dicas. Quem acertasse a resposta,  seria a próxima pessoa a pensar a palavra a ser adivinhada.A brincadeira transcorria com alegria e risadas infantis. Até que quem acertou e pensou a próxima palavra era uma juíza, um pouco estranha, distante , não se misturava com o grupo, sempre isolada. Nos surpreendeu ao participar do jogo de adivinhação.Começamos a tentar adivinhar o que a Juíza pensará, e por mais que ela desse dicas, não conseguíamos. E ela continuou: É uma coisa feia... É uma coisa degradante.... É uma coisa nojenta.... Falamos barata e outros insetos e nada. E ela continuava:É uma coisa que deveria ser pisada...É uma coisa que não deveria existir na face da terra.... E nós respondendo: Violência, Guerra, Preconceito... e nada... O clima começou a ficar tenso, pois pensávamos se tratar dos negros e guetos ...e nada...Até que ela decidiu parar a brincadeira. Simplesmente disse: Não brinco mais. Falamos que ela só poderia sair se dissesse o quê havia pensado. Depois de relutar, ela concordou e disse: É o Viado.Tão negro e grande foi o nosso silêncio, que uma colega estupefata respondeu: Mas por quê o veadinho, o quê que o pobre do animal têm a ver com isso... Ela respondeu seca: Não é o animalzinho, é o homossexual, a bichinha, o gay....
Já havia conversado algumas vezes com ela no café-da-manhã, curioso sobre sua posição sobre o Aborto, a Eutanásia e outros assuntos polêmicos e ela respondeu-me que quando se tratava desses assuntos, por ser religiosa, ela não conseguia julgar e preferia passar o caso e se omitir.
O clima ficou tenso no ônibus, na primeira parada, as pessoas vieram me consolar,  conversar comigo para que  eu não me chateasse. Entre elas, tinha uma cujo filho e irmão eram gays.Neste meu silêncio abissal, e talvez choque do inesperado. Eu  vi  doído meu profundo preconceito e minha frágil defesa. Aos poucos, fui conscientizando que a ofensa era diretamente a minha pessoa. Ali no caminho do Taj Mahal, eu vestido de indiano, careca, fui vítima do preconceito de uma juíza, cujo pensamento representa no mínimo sessenta por cento do pensamento dos magistrados do nosso país.Ali no norte da Índia, eu decidi que passaria minha vida a lutar contra os preconceitos e começaria pelos meus preconceitos. Ali eu aprendi quem eu era , quem eu deveria ser, e o mais importante, que eu deveria ter orgulho de mim e me amar.
Para minha surpresa, assim que chegamos e descemos do ônibus, pensaram que eu era um monge e ofereceram-me um camelo, assim, cheguei montado, como um verdadeiro deus indiano, uma divindade  . No caminho pelos jardins , fontes e o Pálacio, as pessoas vinham me abraçar, cumprimentar e pediam para serem abençoadas.....
Quando o sol se pôs, tingindo o Taj Mahal de diferentes cores crepusculares,  diversos matizes espectrais, com o reflexo no rio Yamuna.Sentei-me só ,no canto esquerdo posterior, junto a um dos minaretes e fui invadido por uma força estranha, indescritível. Não era paz, nem consolo. Talvez um abraço de Deus, ou o despertar do Deus que em mim habita, ou simplesmente a força da vida. Uma energia , um êxtase de se descobrir, um quantum de luz, uma centelha, talvez a iluminação, talvez o Amor... talvez ... ainda não sei... definir, algumas vezes ainda consigo sentir...mas como canta  o Jorge Bem Jor “Foi a mais linda história de Amor”.

OBS: No site do Senado Federal há uma enquete sobre a Lei que tramita no Congresso e que PUNE os crimes cometidos com motivação HOMOFÓBICA. Para construirmos um país verdadeiramente democrático e que as diferenças façam parte  sem exclusão acesse o site e vote SIM.

http://www.senado.gov.br/

Fotos:Fabricio Matheus

Um comentário:

  1. Não são 60% que pensam como a juiza, pode colocar aí uns 80%, sem medo de errar.
    Mas o importante é fazer valer uma posição, uma opinião, lutar pelo que acreditamos. Isso muitas vezes é doido, mas sem isso não somos completos, não somos dignos, nunca estaremos em paz.
    E a sua, foi uma sábia decisão.

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