sábado, 7 de maio de 2011

CURSO DE FOTOGRAFIA


“Fotografia é o retrato de um côncavo,de uma falta,de uma ausência”Clarisse Lispector

Por influência deste Blog, comecei com minha cyber- shot da Sony a procurar imagens para ilustrar os posts.
Para minha surpresa, alguns amigos, começaram a perguntar onde tinha feito curso de fotografia. O que me obrigou a apurar minha capacidade fotográfica de amador.
Como gosto de aprender e estou constantemente inventando algo para acrescentar e incrementar minha rotina, resolvi procurar um curso de fotografia.
Fiz um básico rápido na Full Frame de uma semana e ainda não tinha uma câmera SRL, peguei emprestado de um amigo para as aulas práticas e todas as definições naquela semana pareciam algo de outro mundo, sem conexões reais.
Finalmente decidi pela CanonEOS 5D Mark II, que é uma câmera profissional , quase um computador e que inicialmente só conseguia tirar algumas fotografia com o automático. È um computador de possibilidades e até demais para este tão distante das altas tecnologias. Mas enfim , resolvi enfrentar a fera e matriculei-me num curso de Fotografia Profissional na Escola Pan Americana de Artes.
Todo o ínicio de um processo cognitivo é como aprender a caminhar. Sua mente apreende um outro tipo de pensamento, um outro olhar, outra percepção.
No começo, mesmo lendo o manual e ainda até hoje, parece tudo um pouco ainda distante de mim, mas já começo a vislumbrar uma luz no fim do túnel.
Muitas vezes sinto uma falta da minha pequena cyber- shot. E agora tenho que lidar com diferentes objetivas, diferentes distâncias focais. Conceitos de sensibilidade, velocidade de abertura ou obturador, diafragma. Como equacionar estes conceitos , números, matemática e física para obter a luz ideal, o desenho da luz.
Somado à técnica , como adicionar os conceitos de composição fotográfica: movimento, equilíbrio, ritmo, diversidade, diálogo, diagonal, perspectiva, razão áurea , controle da luz e momento decisivo.
Minha cabeça ferve , meu cérebro máquina e tenta aos poucos pensar fotograficamente.
Outro dia fui a Santos, levei minha máquina e as objetivas. E quase uma mala sem falar do tripé. Meu amigo estava com sua nova compacta da Canon e fotografando no automático. Com minha super carabina fotográfica ao pescoço e as objetivas às costas , parecia o Mário Testino . Minha cabeça tentava equacionar os todos os conceitos apreendidos até o momento.No final, não preciso nem contar: meu amigo fez umas fotos excelentes em cores, luzes e composições, sendo que eu não tirei sequer uma foto legal. Foi frustrante, o que me salvou desta desilusão inicial brutal, foi que na semana seguinte no curso tive fotometria e “White Balance”/Balanço de Brancos. Claro! foi o que faltou para que minhas fotos ficassem genuínas.
Outra desilusão foi com o peso das fotos, não consegui postar quase nenhuma ainda no Blog, tive de abrir um flickr para que elas aconteçam no mundo virtual e a aprender a diminuir a resolução e o peso das mesmas.
Passo os dias pensando nas luzes e sombras.Nos pesos das mesmas. Sim , além de luz média, clara e escura.Temos luz dura, suave, difusa, penumbras tênues, “flare” e outras denominações que me fazem perder o sono, ou sonhar iluminado com as diferentes e inúmeras possibilidades destas novas luzes, granulados, pontilhados e etc...
Às vezes acordo de madrugada para tentar captar a primeira luz da aurora. Outras, fico a espera do pôr –do-sol para roubar do horizonte as luzes do final do dia e do princípio do anoitecer. À noite, na sacada do meu apartamento, armo o tripé e vou diminuindo o obturador da máquina e captando mais e mais luz... Procuro enxergar as sombras e os desenhos das sombras no chão, paredes... no espaço. Olho as pessoas e procuro algo diferente para que possa registrar e eternizar o instante daquele olhar e daquele momento para sempre na minha superfície sensível e na minha memória.
Trabalhar a luz é esperar o momento certo, estar atento para não o perdê-lo, estar pronto.
Tenho ainda somente a postura e o savoir –faire do fotógrafo profissional. Em meus passeios pelos parques, com minha câmera profissional, algumas pessoas já me param e me perguntam como se eu fosse profissional . E eu lhes respondo como já o sendo.
Na minha infância, meu pai teve uma fase de fotógrafo, adquiriu uma máquina profissional Olympus , objetivas,filtros , tripé. Minha irmã, minha mãe e eu éramos seus modelos. Às vezes, nas viagens , parava à beira da estrada para fotografar uma igreja ou um horizonte. Neste período; eu mesmo , fiz-me fotógrafo, transformei meu quarto num estúdio, as luzes eram os abat-jours e fotografei minha irmã e a Joana, que trabalhava em casa, além de alguns primos... Resgatei os livros de meu pai, que mesmo sendo para câmeras mecânicas, a teoria é a mesma para as digitais.
Estou apenas começando, e já consigo equacionar alguns conceitos que há alguns meses pareciam nunca existir no universo. Estou fazendo paralelamente o curso de História da Arte. E aos poucos ,fico cada dia mais íntimo da minha câmera e das minha objetivas. Mais atento as luzes e sombras, as diagonais e perspectivas e de uma forma geral ao mundo a minha volta. Surpreendo-me com a sombra da porta da entrada do meu prédio desenhada pela luz dura do meio-dia, com o transluzimento do sol através da flor de um antúrio, ou de uma lágrima na face de um desconhecido que passa por mim...
Fico desiludido quando revelo os exercícios, e os tons escuros saem mais claros e vice-versa. Mas espero que aos poucos o novo conhecimento e aprendizado se solidifique e torne-se automático como qualquer outro saber apreendido.
Estou distante das imagens da minha antiga cyber, surpreendo-me raramente com uma foto legal.Enquanto isso , leio revistas e livros sobre o assunto, como o ótimo “Cartas a um jovem fotógrafo” do Bob Wolfenson, ou “O olhar do século” de Pierre Assouline sobre Henry Cartier- Bresson e de fotógrafos que admiro como Doisneau, Avedon e de George Platt Lynes, fotográfo americano que soube como ninguém trabalhar a luz.
Visito exposições como a de Otto Stupakoff e Thomas Farkas no Instituto Moreira Salles, Andreas Feininger no Lasar Segall,Rottchenko na Pinacoteca,  Geração 00 no Sesc Belenzinho e ponho me a fotografar tudo e a olhar o mundo com a moldura ocular do visor.

Fotos :George Platt Lynes

Um comentário:

  1. Aaah, faça-me o favor! Suas fotos são muito bacanas. Acho que não tem que ficar se cobrando tanto. Você está percorrendo o caminho, daqui a pouco chega lá.
    Quanto a mim, não aposento minha mini-Mitsuka por nada deste mundo. Só no dia em que ela parar de respirar.

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