sábado, 12 de setembro de 2009

AINDA/PABLO NERUDA

" Perdão se quando quero
contar minha vida
é terra que conto.
Esta é a terra .
Cresce em teu sangue
e cresces,
Se se apaga em teu sangue
te apagas"


"Nós, os perecíveis, tocamos metais,
vento, margens do oceano, pedras,
sabendo que continuarão, imóvies ou ardentes,
e eu fui descobrindo, nomeando toda as coisas:
foi meu destino amar e despedir-me."


"Meu avô, Dom José Angel Reyes, viveu
cento e dois anos entre Parral e a morte
Era um grande senhor rural
com pouca terra e filhos em demasia.
Aos cem anos de idade o estou vendo: nevado
era este velho , azul era sua barba antiga
e ainda entrava nos trens para me ver crescer,
em vagão de terceira, de Cauquenes ao Sul.
Chegava o eterno Dom José Angel, o velho,
para tomar um trago, o último, comigo:
sua mão de cem anos levantava
o vinho trêmulo como uma borboleta."

Para meu avô, Fabricio Matheus de Moraes, de quem herdei o nome, o nariz, uma medalha de ouro de Santo Antônio de Pádua, sua aliança de casamento que pouco usou e outras tantas coisas. Tive muitas avós e um só avô que valeu pelas avós. Meu avô só teve uma mulher Dona Ana Gallo de Moraes. As outras avós é uma outra história.
Este livro do Neruda , li em 87 ainda na facul de Medicina, logo após uma viagem pelas Veias Abertas da América Latina, e estes poemas ficaram em minha vida, sempre volto a eles. Atravessei o chile de Puerto Montt a Arica, cruzei o Atacama, muitas histórias. Numa viagem de Viña del Mar a La Serena, uma cidade a beira do Pacífico , com marcada arquitetura herdada da colonização espanhola em suas ruas, casas e praças com museu de esculturas a céu aberto, conheci um amigo chileno. Os chilenos são extremamente amigáveis. Em Santiago pedia informações , eles não só me levavam ao endereço como ajudavam a carregar minha mochila. Em pequenos vilarejos que não trocavam travellers cheques, nem sabiam o que era isso... sempre consegui abrigo e comida. Viajei de trens, caronas. Os ônibus eram todos brasileiros com televisão e serviço à bordo. Enfim, ao me despedir do meu amigo em La Serena e continuar minha viagem pela vastidão chilena, ele me disse: Tiene sueños......

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