domingo, 12 de dezembro de 2010

HAIR




Eu era muito caipira, recém chegado de Itumbiara para estudar em São Paulo. Usava Fiorucci e all star que era moda na época. Morava com minha tia e minha prima Alba Valéria junto com meu pai lapidou meu gosto musical clássico. Eu queria assistir Xanadu com a Olivia Newton-John e minha prima me fez ver Fame/Fama.
Minha prima sempre conta de maneira apaixonante tudo que lhe toca, foi assim com Crime e Castigo de Dostoievski entre outros clássicos, não só na literatura, mais na música e em tudo. E foi ela que me falou de Hair, tinha o LP em vinil que tinha ganhado de sua colega do basquete , a inglesa Ruanita; e descrevia com detalhes a cena em que Berger dançava na mesa da casa burguesa de Sheila, entre outras passagens.
Hair voltou a passar no extinto Gemini, era meados de 80, proibido para menores de dezoito anos. Felizmente tinha uma carteirinha de estudante falsificada e fui na sessão da tarde assistir o filme de 1979, dirigido por Milos Forman, o mesmo de Amadeus, adaptação do grande sucesso do musical da Broadway de 1968 de Glat Macdermot co músicas e letras de Gerome Ragni e James Rado. No filme as mesmas músicas, com danças coreografadas por Twyla Tharp com Treat Williams, John Savage entre outros.
O que eu posso dizer: Aquela foi uma tarde diferente em minha vida. Como foi quando já falei inúmeras vezes , eu ouvi Caetano cantar maquiado de batom e com uma seda azul transparente a música Menino Deus no show UNS.
Quando saí do cinema, o mundo e eu estava diferente. Aquariano que sou com a lua em peixes, tudo o que eu queria ser estava ali. A palavra que me traduz:Liberdade.
Discordo de Rui Castro de quem muito admiro quando ele diz que Hair prenunciava a mudança de uma era. Não! Hair discutia a liberdade, a guerra insana do Vietnã no período da guerra fria em que o mundo pós guerra dividiu-se entre a América do Norte e a União das repúblicas Soviéticas. Hair discutia o amor livre, a liberdade, as viagens , as drogas e a influência da filosofia oriental sobre o capitalismo emergente da América.
Eu queria e ainda quero ser um Berger, viver a vida , a liberdade do amor, lutar por um mundo livre, um mundo melhor sem preconceitos. Naquela tarde eu adolescente fui caminhando pela Paulista e o mundo e eu mesmo estavam diferentes. Uma luz no fim do túnel de minha vida se acendeu com o nascer de um sol.O filme Hair modificou minha vida.
Devo confessar que sou “ caretézimo” em matéria de drogas. Esta semana sonhei que bati meu carro e não tive nada, sinal de que devo perder um pouco o controle de minha vida ; às vezes.
Mas Hair ficou para sempre em minha vida, durante a faculdade de medicina, nas inúmeras férias que passei no sul da Bahia e no nordeste em que fui meio Hippie , cabeludo. Sempre querendo deixar entrar um pouco de Berger na minha caretice.
Também comprei o LP vinil e as músicas do Hair volta e meia me fazem cantar . Acho que em meados de 90 o Jorge Fernando montou Hair baseado no filme com o Roberto Bataglin e o Mateus Carrieri num galpão na Santa Cecília. O genial Joãozinho Trinta trouxe num de seus carnavais da Grande Rio entre homens que voavam no sambódromo , alusão explicita a era Paz e amor com a Monique Evans descalça e todos vestidos de hippie distribuindo flores, foi lindo , de chorar....
Revejo Hair sempre para trazer o sentimento e mostrar-me que meu caminho é o da Paz, do Amor,da Liberdade, da Vida.
Este ano , depois de muito esforço, a dupla de musicais: Charles Müller e Cláudio Botelho, estreiaram Hair, em cartaz no Teatro Casa Grande no Rio. Mais um trabalho altamente profissional da dupla e encantador, provando que Hair continua atual como idéia e apaixonante como teatro.
Fui assistir , para que novamente , trouxesse a minha vida a idéia de liberdade. O Hair musical têm as mesmas músicas do Hair filme, mas a história é um pouco diferente com a mesma mensagem. O delírio tribal de Hair mostra a revolta da juventude contra a sociedade preconceituosa. Clima onírico com muita música, e um espetáculo jovem, vigoroso. A juventude é bela em todo o seu esplendor. Os jovens atores exalando juventude, talento , garra e amor, com destaque para Hugo Bonemer, Igor Rickli, Carol Puntel e outros vinte e sete componentes fazem do espetáculo uma viagem alucinante, transcendental e valiosa.
Desde a abertura com a “Era de Aquarius”, até o final com “Deixa o Sol entra”, Hair é um espetáculo lindo, com o final surpreendente em que os atores em comunhão com o público que é convidado a subir no palco, cantam juntos a liberdade e o amor.

Arte:Fabricio Matheus


Um comentário:

  1. Interessante que me lembro pouco da peça, mais do filme e outras coisas da época(ou era de Aquarius. Não vejo a hora desta montagem chegar por aqui e poder ver.

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