quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

RABINDRANATH TAGORE, O JARDINEIRO



Rabindranath Tagore , poeta e escritor indiano , prêmio Nobel de literatura em 1913, traduzido no Brasil por Guilherme de Almeida em 1943.

Poeta , não tarda a noite; os teus cabelos embranquecem.
Não ouves, nos teus sonhos solitários, a mensagem do Além?
É noite – diz o poeta – eu ouço: alguém, da aldeia , pode chamar, embora seja tão tarde já.
Eu velo.Dois namorados se buscam. Poderá o coração guiá-los com segurança? -- Eles hão de encontrar-se, os corações errantes dos namorados moços; os olhos ardentes pedem a esmola de uma harmonia de amor capaz de romper o silêncio e de falar por eles.
Quem tecerá a trama das suas canções apaixonadas , se eu ficar sentado à margem da vida, contemplando a Morte e o Além?
Some a primeira estrela da noite.
O brilho de uma tocha fúnebre apaga-se lentamente junto ao riacho silencioso.
Dos quintais desertos ouvem-se os chacais uivar em coro ao pálido clarão da lua.
Se um viajante, perdido , viesse aqui contemplar a noite e escutar, cabisbaixo , o cântico das trevas, quem estaria aqui para murmurar-lhe os segredos da vida, caso eu me libertasse de todo dever mortal, fechando minha porta?
Que importa que os meus cabelos embranqueçam?
Eu serei sempre tão moço e tão velho quanto o mais moço e o mais velho da aldeia.
Aqueles têm um sorriso simples e doce;estes um olhar brilhante de malícia.
Uns têm lágrimas que brotam à luz do dia;outros, lágrimas que se escondem nas trevas.
Todos precisam de mim.Não tenho tempo de pensar na vida futura.
Tenho a idade de todos; o que importa que os meus cabelos embranqueçam?

Foto:Fabricio Matheus
Exposição de Rodrigo Bivar “O Turista Azul” no Paço das Artes





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