segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A SENHORA DE DUBUQUE DE ALBEE


“Você escreve para tentar fazer com que as pessoas acreditem naquilo que você quer que elas acreditem”E.Albee

"Todo homem é um abismo, a gente fica tonto de olhar pra dentro dele"Georg Büchner


O teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros iniciou na última quinta –feira a temporada Da Senhora de Dubuque de Edward Albee.
Albee, 1928, pode ser considerado como um dos mais famosos dramaturgos vivos. Conhecido mundialmente pela peças The Zoo Story (1958), Quem têm medo de Virgínia Woolf?(1962), Três Mulheres Altas (1994), A peça sobre o bebê (1996), Cabra: ou Quem é Sylvia?(2002), entre outras , algumas não montadas por aqui. O quê não lhe garante sucesso, como aconteceu com a estréia desta Senhora de Dubuque (1977/1979) e sua última peça Me , Myself and I (2007) estreou o ano passado e  não ficou sequer duas semanas em cartaz  na Broadway.
Albee foi adotado por uma família rica, seu pai gerenciava um teatro de Vaudeville e ele sempre esteve interessado em artes e poesia.Considerava-se um eterno visitante da casa adotiva, foi morar no Greenwich Village aos 13 anos, completando sua educação com os pintores expressionistas da época, teatros off-off Broadway e leituras de Genet, Beckett e Ionesco entre outros, daí o caráter psicológico, que analisam e desmascaram as crises existenciais dos personagens e da sociedade atual. Sempre responde que escreve sobre o que lhe aflige, com aquilo que têm na cabeça, bem simples, fácil e verdadeiro. Acredita que exista uma mensagem na sua arte, que as pessoas só vivem uma vez, e o que poderia ser pior do que chegar ao final e perceber que não havia vivido. Talvez essa seja uma das questões da peça?
A Senhora de Dubuque, teve sucesso somente em 2007, nos palcos londrinos, com o elenco encabeçado pela grande atriz Maggie Smith. A idéia, texto e a indicação para a montagem brasileira surgiu de Beatriz Segall que ouviu comentários sobre a montagem londrina através dos amigos e tradutores Andrés e Fiks.
A peça começa com uma festinha e jogos de adivinhação. Lembrou-me um pouco A Festa de Abigail(1977) de Mike Leigh(1943), coincidências, são contemporâneas.
Alguns personagens são caricatos. E sabe-se que a dona da festa esta para morrer. Os personagens vão se revelando pela frente e por trás de suas atitudes. Com influência específica e direta do teatro e diálogos de Pirandello; muitas vezes rompem a quarta parede e se dirigem a nós, espectadores , ali , também parte da festa.O tema corrente e a pergunta que não se cala:- Quem é você?
Como você pode querer saber quem sou eu, se você não sabe ao menos quem é você?
No segundo ato, aparece a Senhora de Dubuque com o fiel escudeiro Oscar. A senhora cujo nome é Elizabeth insiste em ser a mãe de Jô, e que está ali para ajudá-la.
As frases sobre racismo, os atos falhos, são verdadeiras pérolas nas falas dos personagens. A montagem dirigida pelo mais conhecido como ator Leonardo Medeiros e com elenco encabeçado por Karin Rodrigues, Alessandra Negrini, Joaquim Lopes, Edson Montenegro, Patricia Pichamone, Sérgio Guizé, Carolina Manica e Luciano Gatti . Todos com uma trajetória teatral  exemplar , os únicos que não  os conhecia atuando, eram o Joaquim Lopes e a Carolina Manica. Estão todos excelentes e com igual presença cênica, outro fator que contibuí para a qualidade do espetáculo.
 A iluminação de Beto Gruel é parceria perfeira com a trilha de Lulu Camargo. A cenografia de Mira Andrade não compromete , assim como os figurinos.
Os personagens de Albee sempre bebem e fumam muito. Nesta montagem, eles não fumavam. Todas as peças hoje em cartaz em Nova York cujos personagens fumam, exibem anúncios gigantes avisando que os cigarros utilizados são de ervas e falsos. Há uma certa hipocrisia e perda da liberdade em favor de uma nova ética, uma nova postura em favor da saúde e bem- estar que é quase uma ditadura.
Se você já sabe quem você é, esta peça é mais uma grande oportunidade para refletir seu verdadeiro ser, seu eu-real. Se você ainda não sabe , não perca!Talvez seja uma luz, o começo para uma descoberta. A Senhora de Dubuque é uma ótima opção teatral nos palcos paulistas.

Arte:Fabricio Matheus

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