terça-feira, 13 de julho de 2010

COPA 2010: DO SILÊNCIO VERDE AMARELO DAS VUVUZELAS À MARÉ VERMELHO AMARELO DA FÚRIA.


"Voa, canarinho, voa
Mostra pra este povo que é rei
Voa, canarinho, voa
Mostra na Espanha o que eu já sei

Verde, amarelo, azul e branco
Formam o pavilhão do meu país
O verde toma conta do meu canto
Amarelo, azul e branco
Fazem meu povo feliz

E o meu povo Toma conta do cenário
Faz vibrar o meu canário
Enaltece o que ele faz
Bola rolando
E o mundo se encantando
Com a galera delirando
Tô aqui e quero mais" Memeco e Nonô


Será ainda o Brasil o país do futebol? Apesar de sermos penta-campeões , o que a seleção mostrou na Copa 2010 está longe da beleza de outros carnavais. A copa do mundo têm para mim sempre um quê de tristeza, como um samba do Vínicius.
Minha primeira lembrança de Copa Mundial começa em 1978, na Argentina. A seleção brasileira dirigida pelo Coutinho, com o Zico no ataque, o galinho de Quintino, Leão de goleiro, Rivelino.Mas minha única recordação foi um casaco de material de para-quedas colorido, leve com 1978 e Argentina em letras garrafais nas costas que depois tornou-se completamente obsoleto no fundo do armário.
Nesta época, era gordinho, chamavam-me de bujão de gás e quase não jogava futebol. Meu pai apesar de adorar futebol e ter os álbuns cheios de fotos em times; coisa que nunca tive, não me estimulou ao esporte bretão. Era o tio Zé-branco com meus amigos gêmeos Tárcio e Túlio que me incentivavam no esporte. Falavam que eu podia ficar no gol ou pelo menos marcar e se jogar com meu peso sobre o atacante do time adversário. Na escola eu era sempre o último a ser o escolhido. Teve também o Careca , professor de educação física e pai do Dante da seleção de vôlei que me incentivava e não me dava mole. A tia Dirce, minha madrinha que me levava às 6 horas da manhã para a aula de Educação Física e íamos ao CRI (Centro Recreativo de Itumbiara ) com o reco-reco na mão torcer pelo seu filho Alexandre, grande esportista principalmente no basquete.
Uma vez, mesmo sendo irmãos o Tárcio formou um time que não incluía o Túlio. O Túlio sempre foi mais sentimental e me colocou de reserva no seu time. Minha memória têm gravada coisas que até eu mesmo desconheço, mas me lembro até da luz e dos sons das cigarras da quadra de futebol e do banheiro do clube dos 50. Isso durou pouco. O Tarcio sempre foi mais endiabrado e uma vez no clube recreativo achou um vidro de mercúrio no banheiro, derramou no corpo e saiu chorando dizendo ter se cortado , nos quase morremos , depois de alguns minutos o desgraçado começou a rir da nossa cara de desespero...
Sempre fui melhor nos esportes com a mão, no tênis de mesa ou nos esportes solitários como a natação. Mas sempre fui mais razão, deve ter sido por quê era gordo e super-protegido.Uma vez minha mãe foi comprar uma cinta sbelt que prometia emagrecimento e a vendedora mandou ela me colocar no Judô, eu fui mas só até a faixa azul. Aprendi a andar de bicicleta aos 14 anos e até lá ,era meus amigos que me carregavam na garupa.
Em 1982, na Espanha e com o tio Clóvis , de férias em São Paulo , assisti com meus primos a todos os jogos. A seleção criativa e ofensiva de Telê Santana, com Socrátes de capitão , Zico, Falcão, as bombas do Eder , o sorriso e o samba maroto do Júnior. Rodeados pelo Fagner e com a Luiza Brunet de musa. Era o Brasil pós ditadura, alegre, esperança pura...Cantavámos a música do canarinho que o Júnior gravou e outras como a do Luis Ayrão.  Mas o canarinho perdeu de 3 a 2 da Itália, com gols de Paolo Rossi. Foi aí, que as Copas ficaram tristes. Depois do jogo, São Paulo ficou tão silencioso que doía na alma. Fomos levar o meu primo que voltaria para a Escola de Cadetes do Exercito em Campinas e as pessoas com lágrimas recolhiam as bandeiras das janelas. Foi triste demais.
Em 1986, no México a seleção novamente dirigida por Telê, perdia a última chance da geração de Zico, Júnior, Socrátes e Falcão de ganhar um mundial. O futebol brasileiro que depois de Pelé , Garrincha e Didi encantou e contagiou o mundo com uma genuína alegria, novamente se entristeceu.
Em 1990 , na Itália a seleção dirigida por Lazaroni foi eliminada nas oitavas de final pela Argentina por 1 a 0, outra tristeza.
Em 1994, nos Estados Unidos, a seleção de Parreira com o grande Romário, Bebeto ,que a cada gol embalava nossos sonhos e alegrias, Branco, Dunga e Taffarel no gol e outros , devolveu-nos a auto-estima e trouxe mais um título ao país e colocou mais uma estrela no nosso peito varonil. Apesar da alegria, nesta época estava na faculdade de medicina e definitivamente já tinha desistido do futebol.
Em 1998 , na França, a seleção dirigida por Zagallo, com Taffarel, Bebeto, Roberto Carlos, Rivaldo , Leonardo, Denilson e Ronaldo o fenômeno, que amarelou e ninguém nunca entendeu como e por quê o que aconteceu naquele dia que perdemos para a França.
Em 2002, na Coréia e Japão, a seleção dirigida pelo Felipão Scolari, com Roberto Carlos, o fenômeno Ronaldo e outros fizeram o capitão Cafú erguer com dignidade e orgulho para o mundo, a taça que era nossa outra vez.
Em 2006, na Alemanha, a seleção dirigida por Parreira nos jogou novamente na tristeza. Ronaldinho , o gaúcho, grande esperança do time, não fez nada. Não houve ginga, alegria, o som da cuíca abafou num melancólico suspiro. Somente a popularidade vertiginosa do Lula continuou a crescer e o levou a reeleição.
Por outro lado, eu tinha percorrido o mundo, e onde quer que fosse eles conheciam o Pelé, o Ronaldinho , fenômeno e outros. Uma vez um garoto com síndrome de Down em Dublin, sabia toda a escalação da seleção verde- amarela e eu envergonhado com minha ignorância me esquivei e preferi discutir A noviça Rebelde que a sua mãe tinha assistido na madrugada.
À partir de então, comecei a me interessar mais pelo futebol. Revi clássicos em preto-e-branco com jogadas geniais do Pelé ,seus gols de bicicleta. O Garrincha, depois que li sua biografia escrita pelo Rui Castro, com suas coreografias magistrais , apesar das pernas tortas. Li númras crônicas do torcedor do fluminense e dramaturgo Nelson Rodrigues. Lembrei-me da inauguração do estádio JK em Itumbiara, com o Vasco da Gama e outros clássicos que tinha assistido como o Palmeiras e Corínthians no Morumbi, o Fla -Flu no Maracanã. Assumi –me corintiano e flamenguista. Já sabia o quê era tiro de meta, escanteio, quando dar o cartão vermelho , quando o amarelo, o posicionamento dos jogadores, as jogadas ensaiada. Aquele gordinho, tornou-se um falso magro, e já podia até comentar nos quatro cantos do mundo o futebol de meu país.
Estive na África do Sul antes da Copa , discuti a seleção. Sabia os nomes dos jogadores e estava animado com a Copa 2010, que posso dizer que foi o Mundial que vivi com mais intensidade depois de 82 na Espanha. Assisti aos jogos, fiz bolão, comprei havaianas da seleção . Vi todas as exposições sobre futebol como as que ainda estão no Mube, O Negro Futebol Brasileiro no museu Afro, instalações do Paço das Artes e o museu do futebol no Pacaembú.
Mas a seleção de Dunga não tinha nenhuma beleza, nenhuma alegria, ninguém cantava. Era a razão, a estratégia, os esquemas e treinos escondidos. Todos mal humorados. Ninguém sambava, ninguém sorria. Não tinham um samba, uma musa. Não tinha a beleza e a magia , a dança, a ginga e a malemolência do futebol que encanta. O jogo mais emocionante foi o que não conseguimos espremer a laranja, contra a Holanda .O jogador mais simpático foi o goleiro, Julio Cesar. O gol do Robinho foi bonito e o Kaká com seu rostinho Armani e casado com uma pastora está longe das bênçãos dos deuses do futebol.
Vibrei com o futebol do Uruguai, com os olhos brilhantes do atacante Furlan. Com a ironia do Maradona, que mesmo perdendo para a Alemanha, manteve o sangue latino e chorou como num tango. A garra dos negros jogadores de Gana. A vergonha da seleção bleu francesa . A violência e a enorme quantidade de faltas, inclusive a nossa vergonhosa falta de Felipe Melo, merecidamente expulso e a de Jong em Xavi no último jogo.Por vezes pensei que a jovem seleção da Alemanha levaria o caneco.
Foi bonito o beijo que a bola deu no pescoço do Cristiano Ronaldo. O futebol laranja do Robben, Sneijeder, Persie,Stekelenburg. Mas como disseram os comentaristas , os gols e a bola elege sempre os que atacam . E a Fúria do técnico Vicente Del Bosque veio de mansinho, na sua. Villa, Iniesta, Xavi, Capdevila e os outros vieram com coragem, generosidade, com uma mensagem clara e simples: É possível ser campeão do mundo se jogar bem. E assim tingiu de vermelho e amarelo o mundo. E viva a Penélope Cruz como disse o Veríssimo.
Se os estádios da África do Sul transformar-se -ão em grandes elefantes brancos é outra história. A África do Sul foi uma anfitrião sem ressalvas e Mandela novamente consegui que o mundo dirigisse seu olhar para o país por pelo menos três semanas. Sendo ovacionado merecidamente no final.
Eu hoje escrevo sobre futebol. Faço esporte diariamente e não tenho mais medo da bola. Quando corro no Ibirapuera e ela vêm perdida em minha direção, acalanto no peito do meu pé e com um bicudo jogo –a para onde quiser... já faço embaixadas e só não arrisco um toque de calcanhar por quê  já seria demais.
Como será a copa que Lula consegui trazer para o  Brasil em 2014 . Ainda uma incógnita. As obras estão atrasadas, mas no Brasil sempre se dá um jeitinho. Espero não menos para a abertura um show do Jorge –Bem – Jor que foi quem mais cantou o futebol e queria ser um zagueiro.
Espero que os jogadores brasileiros redescubram seu amor na bola, só assim serão retribuídos. Que eles cantem mais, sambem mais e  nosso canarinho encante o mundo com alegria , a taça do mundo sendo nossa ou não. Só assim o Brasil mostrará ao mundo que ainda é o país da arte : DO FUTEBOL.

Arte :Fabricio Matheus

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