segunda-feira, 12 de julho de 2010

CONVERSA DE FERIADO:VOCÊ SE RECONHECE?


No feriado do dia 9 de julho estava conversando com um emérito professor de história e editor sobre: Reconhecer-se. O papo começou com o professor contando que sua cadela não se reconhecia cão. Quando ela entrou no cio, trouxeram-lhe um cachorro e ela não se reconhecendo cão, atacou o animal e outros que vieram posteriormente.
Lembrei-me de uma vez em Salvador , conheci uma negra que se chamava Stephany. Stephany era filha de mãe negra baiana e pai branco italiano, morava na Itália e estava no Brasil para visitar a família materna. Numa noite fomos juntos ao Pelourinho, assistir ao ensaio do Olodum , quando o grupo não era conhecido e demoraria anos para gravar o clipe com o Michael Jackson. Só tinha negros, que me cumprimentavam achando que a negra Stephany fosse minha namorada, o que de certa forma me fez protegido e parte da comunidade. Por outro lado, Stephany, ficou horrorizada e disse-me que estava com medo pois nunca tinha visto tantos negros em sua vida.
O professor continuou falando que antes das cotas para os negros, da consciência negra e da revista Raça. Um grupo de cosméticos americanos, lançou no Brasil , uma linha específica para cabelos de pessoas afro-descendentes, com a mesma campanha realizada nos Estados Unidos ,e foi um fracasso. Chamaram-no para explicar ao grupo norte –americano, o por quê, de tamanho insucesso num país em que a maioria é negra ou descendentes. E sua explicação foi simples: a de que a população de negros no Brasil na época não se reconheciam negros. O quê mudou muito, e hoje a consciência da população negra é outra.Vide as prateleiras dos produtos cosméticos e afins.
Nossa conversa partiu para a União das Repúblicas Soviéticas e me lembrei que quando visitei o pais em 2006, minha guia Irene me contou que a população de negros e mestiços começou principalmente durante e depois das Olimpíadas de 1980, quando as russas ficaram apaixonadas com a visita dos atletas negros ao país.
O professor que é neto de russo, por sua vez rememorou que visitará o país muito antes . Logo no ínicio da abertura política. E que sua jovem guia em São Petersburgo, que ele insistia em chamar de Leningrado, só queria saber de onde vinha os acessórios que ele e sua esposa usavam . E no museu Hermitage, ela ficou mais interessada em mostrar os banheiros reformados pelo Versace do que as obras-primas de Da Vinci e Michelangelo. Nesta época, o governo russo, preocupado com a ameaça capitalista e fome consumista de anos de repressão da população, se mobilizou com métodos arcaicos e novos . Um destes métodos foi a realização de um curta metragem que era exibido em todos os cinemas do país, que mostrava um grupo de brancos Yankees que corriam atrás de um negro com paus nas mãos. Pegavam o negro e além de espancarem-no até a morte, maceravam seu cérebro. E o filme terminava com o foco fechando sobre o sangue escorrido no chão como no poema da morte do leiteiro de Drummond. O governo russo queria mostrar que apesar dos norte –americanos terem produtos e acesso ao consumo. Eles não eram tão bonzinhos assim , pois no capitalismo tinha a violência e o racismo contra os negros. O curta foi um fracasso. O povo russo sequer ligou com o sangue que escorria dos miolos do negro. Ficaram sim, impressionados, como os negros norte-americanos se vestiam bem e principalmente com o belo par de sapatos.

Arte:Fabricio Matheus

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