quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O CERTO E O ERRADO




Achei esta foto vasculhando os álbuns e lembranças de mim mesmo, na casa de meus pais e no meu quarto de infância.Ela reflete muito de mim, meus olhos, sorriso. Ganhei esta máquina de escrever de natal, quando não tinha nem cinco anos, talvez um prenúncio de onde estava atado meu destino, talvez: A escrita , o conflito e o mistério.
O quê é certo? O quê é errado?
Esta semana recebi a visita de uma grande amiga e prima que mora no interior do Rio. Ela teve um casamento de dez anos que se desfez recentemente com muita dor. É preciso doer para crescer. E ela cresceu. Cresceu tanto que arranjou um amante. Um amante com algumas características do ex. A gente repete modelos? O amante é complicado, casado e paulista. E ela continua a crescer. ..Tanto, que ligou perguntando se poderia ficar na minha casa, onde o amante a pegaria para o “encontro”.
Fiquei extremamente feliz por ela, afinal, temos que continuar a crescer. Incentivei, discutimos técnicas e posições sexuais, estratégias...E enfim, ela veio.
No dia que ela chegou, ligou-me no trabalho, desesperada, ansiosa, insegura...Tinha viajado para o “encontro”, havia chegado há mais de uma hora e tentava em vão o celular e telefone do trabalho do amante que não respondiam. E agora? Ele vêm ou não vêm?Espero ou não?Sou uma tola?Ninguém me ama?...Tentei acalmá-la e ser racional diante da decepção que é aguardarmos sem resposta uma notícia do ser amado. Disse que as incertezas fazem parte da vida. E que ela estava vivendo, ele vindo ou não. Caso não tivesse notícias do dito cujo até às 15:00 horas, que ela deveria virar mais uma página de relacionamentos e voltar para o interior do Rio , “começar de novo e contar comigo”.
No exato momento em que falávamos , chega uma mensagem no seu celular que a redimiu de toda a tormenta de pensamentos negros, avisando que ele estava chegando em São Paulo, e o sol reascendeu em seu corpo.
Dali a uma hora, ligou-me novamente, ainda mais desesperada e ansiosa. Será que ele vêm ? Quanto tempo demora isto ou aquilo em São Paulo? Falou-me novamente de sua insegurança, da sensação de abandono e perda. Repeti que era para esperar até às 15:00 horas. A cidade estava sem trânsito, vazia .Milhões de paulistas viajam para festejar o ano-novo. Escutei mais um pouco seus lamentos e disse que tinha que voltar a trabalhar.
Dali a pouco recebo uma mensagem de que estava tudo bem: Ele tinha chegado. Quê ele isto!Quê ele aquilo!. Depois outra mensagem de que já estavam no meu apartamento. Depois outra ,de que haviam decidido ficar no meu apartamento. E outra, de que minha cama era perfeita, a água do chuveiro não esquentava e ela tinha usado uma toalha. E outra: Obrigado por tudo , te amo.
As últimas mensagens me pegaram de surpresa. O meu apartamento, meu lar-doce-lar tinha sido transformado numa “garçonnière” . Aliás no meu dicionário francês,é o que é: - casa de rapaz solteiro.E não por mim, ou por um amigo ou primo gay, mas pela minha prima amiga “certinha” do interior do Rio. Eu que não convidara mais que os dedos de uma só mão a desfrutar do meu leito sacro-santo. Eu que tinha por princípios não levar desconhecidos ao meu imaculado e sagrado espaço no mundo. Por quê estaria chateado, seria inveja do desfrute carnal de outros no meu leito há tempos vazio. Seria este ato demasiado grave aos meus princípios morais e éticos?
Entendi todo o seu desespero e talvez o prolongar da hora a tenha feito não perder tempo. Talvez!Isto não me pertence. Por outro lado, o meu lar continua meu lar, minha cama minha cama. E a cama estava arrumada, a casa cheia de bilhetinhos de amor, amizade e gratidão. Mesmo assim, troquei os lençóis, lavei a toalha e espalhei perfume pelo ar. Da próxima vez, posso dizê-la, se continuar a sentir perturbado, para que ela use outro lugar para o sexo. Talvez , eu tenha que desfrutar mais meu próprio leito e meu desejo. E como diz um filosofo francês : Apresentar o melhor amigo é revelar-se. E amigos são para essas coisas...


Arte:Fabricio Matheus

Um comentário:

  1. Meio bizarro! Mas a situação não deixa de ser divertida pelo incomum!Conselho - troque o colchão também...

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