terça-feira, 21 de setembro de 2010

D.CAROLINA JOSEFA LEOPOLDINA, I IMPERATRIZ BRASILEIRA



Nós, pobres princesas, somos tais quais dados, que se jogam e cuja sorte ou azar depende do resultado” D.Leopoldina.

Sempre fui fascinado e sempre senti uma imensa compaixão pela história de nossa primeira Imperatriz.
Carolina Josefa Leopoldina nasceu em 22 de janeiro de 1797 em Viena, filha de Francisco II e sua segunda esposa Maria Teresa de Napóles –Sicília, linhagem direta dos Habsburgos. Sua infância e adolescência transcorreram na época da ascensão e derrota de Napoleão. A arquiduquesa foi criada entre os castelos de Hofburg em Viena, o palácio imperial de Schönbrun e o palácio de Hetzendorf, sendo acostumada e educada segundo ao cerimonial da corte e preparada para seu futuro papel de esposa e mãe temente a Deus e submissas.
Cada arquiduquesa possuía uma corte própria e posteriormente uma preceptora superior. Por volta dos 7 anos começavam com as aulas de leituras, escrita, aritmética, alemão, francês, italiano, em seguida dança, desenho, pintura, história , geografia, música e cravo. Na segunda fase da educação havia adicionalmente matemática, literatura, física, latim, canto e trabalhos femininos. A educação de Leopoldina abrangeu as disciplinas de ciência naturais , pelas quais demonstrava especial inclinação como a zoologia, mineralogia e botânica. Leopoldina era muito ávida por saber, além de gostar de ler de forma geral e das aulas de piano. Na corte esteve em contato com figuras celebres das artes como Beethoven e Goethe.
Leopoldina era muito religiosa, orava e meditava regularmente. Sua compaixão para com os aflitos e pobres decorria desse sentimento religioso. Leopoldina , conheceu a Boêmia, parte da Hungria , Bratislava, hoje Eslováquia. Perdeu cedo sua mãe, sendo criada pela madrasta Maria Ludovica, que também veio a falecer. Assim , sua irmã mais velha Maria Luiza, esposa de Napoleão, passou a desempenhar os papéis de irmã, amiga e substituta da mãe.
Leopoldina já havia sido prometida a Frederico Augusto, sobrinho e sucessor do rei da Saxônia.Mas por um acordo político que estreitasse os laços entre a Casa de Bragança e os Habsburgos , garantindo segurança interna contra os movimentos constitucionalistas, e externa , contra a influência da Inglaterra, foi concedida à Pedro, sendo que sua permanência no Brasil seria temporária , retornando a Europa no máximo em dois anos .
Leopoldina era baixa, rosto pálido, cabelos loiros desbotados, sem graça, sem postura , com os lábios salientes dos Habsburgos, mas com os olhos azuis muito belos.
Romântica, estava imbuída de uma imagem dos brasileiros como bons selvagens, uma visão iluminista e de acordo com o pensamento de Rousseau. Suas idéias eram ingênuas, mas tinha consciência da extensão de seu passo,para ela, a noção de dever e sacrifício e ele inerente foi vivido desde cedo como indissociáveis.. Leopoldina ganhou de presente de noivado uma miniatura cravejada de diamantes com o retrato de Pedro. Antes mesmo de conhecê-lo pessoalmente lhe demonstra amor e devoção, postura de quem fora educada para assumir com firmeza os encargos recebidos por razões políticas e na defesa dos interesses de Estado.
Leopoldina partiu de Viena em 3 de junho de 1817. Além das 42 caixas da altura de um homem, que precisavam quase de um navio só para elas, levou três caixões caso viesse a morrer durante a viagem.Na tribulação trouxe zoólogos, botânicos, mineralogistas, pintores , médicos, músicos. Passou pela Itália onde visitou a irmã Maria Luiza, já separada de Napoleão e exilada no país. Passou pela ilha da Madeira, onde se encantou e aproveitou para coletar plantas e minerais. Em 5 de novembro de 1817 os navios entraram na baía do Rio de Janeiro, onde pela primeira vez Leopoldina e Pedro se encontraram.
Leopoldina registra com grande entusiasmo , por ocasião de sua chegada ao Rio, descrevendo seu encanto pela natureza tropical, às vezes exagerando .O estranhamento em relação aos costumes da corte luso-portuguesa e a diferença de hábitos foi ao poucos potencializada pelas condições materiais da cidade que ainda oferecia poucas atrações, a escravidão que realçava a condição de subdesenvolvimento, o calor e os mosquitos. O dever do casamento, inicialmente vivenciado com a idealização do esposo, foi se exaurindo à medida que iam nascendo os filhos , alguns morrendo e o marido ia se afastando e cada vez mais . O choque e a diferença de costumes com a nova pátria, a falta de amigos e de distrações que lhe fossem prazerosas e a descoberta de que seu retorno à Europa se fazia cada vez mais difícil. Todos esses acontecimentos, a perda da ilusão , a solidão amadureceram a Imperatriz e a levaram-na a buscar a “felicidade” o estrito cumprimento dos deveres e nos muitos estudos.
Como gozava de uma vasta visão política , adquirida com os estudos, e a educação num ambiente marcado pelo temor das revoluções que era a Europa de sua época.Sua presença política pouco a pouco se firma e se fortifica na defesa da preservação da legitimidade dinástica em oposição à idéia de “soberania do povo” e da “nação” tão caras aos movimentos radicais da época. Leopoldina era a encarnação dos valores conservadores e do bom soberano. Assim, passa a enxergar a permanência no Brasil como algo positivo para a manutenção da monarquia.Em agosto de 1822 , fala claramente da impossibilidade de a América permanecer como domínio de Portugal, pois “o Brasil é grande demais, poderoso e, conhecendo sua força política, incapaz de ser colônia de uma corte pequena”, passando a atender aos anseios dos brasileiros contra os portugueses apoiando o partido da Independência e com seu envolvimento direto com a diplomacia externa para a melhor aceitação e apoio à Independência do país.Neste sentido a Imperatriz agora Maria Leopoldina, mostra-se satisfeita por auxiliar na manutenção da legitimidade monárquica e desempenhar bem seu papel.
Após a proclamação do Império do Brasil, cujo advento Leopoldina teve influência decisiva, começaram a se agravar as intrigas e humilhações a que a imperatriz se via submetida na corte por obra da influência da protegida Dona Domitila, a marquesa de Santos, amante de Dom Pedro. A imperatriz passa a ser vigiada, seus serviçais mais próximos são demitidos . Sua pensão cada vez mais reduzida, afundando-se em dividas e se isolando cada vez mais. Após o nascimento do desejado herdeiro e futuro Dom Pedro II, o estado de saúde de Leopoldina se agravou consideravelmente. As diversas gravidezes, e sobretudo a pressão psíquica a que estava exposta, levaram a uma acentuada debilitação. Leopoldina faleceu em 11 de dezembro de 1826, um mês antes de completar 30 anos. Especulou-se muito se os maus tratos físicos por parte de Pedro teriam sido decisivos para a sua morte.
A notícia de seu falecimento no Brasil tardaria três meses para chegar à corte dos Habsburgos. Leopoldina nunca mais retornou a Europa.
Seu corpo foi revestido do manto imperial. Foi sepultada no Covento da Ajuda, na atual Cinelândia. Quando o convento foi demolido, em 1911, os restos foram translados para o convento de Santo Antônio , também no Rio de janeiro. Em 1954, foram transferidos definitivamente para o sarcófago, sob o Monumento do Ipiranga, em São Paulo.

Bibliografia: D.Leopoldina - Cartas de uam Imperatriz
 Arte: Pinturas e desenhos da Imperatriz


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