domingo, 14 de novembro de 2010

RELACIONAMENTOS VIRTUAIS




“Para que um bom relacionamento possa continuar de modo agradável, é preciso não apenas suspeitar prudentemente como ocultar discretamente a suspeita.”Sthendal

Você já começou um relacionamento pela internet?Conheceu pessoas nos sites de relacionamentos?Frequenta salas de relacionamentos virtuais? Já levou um fora por e-mail ou no mural do Orkut ou Facebook ?
Atualmente usamos cada vez mais as ferramentas sociais da era digital.Por outro lado ao exibirmos nosso perfil, somos expostos as vezes sem querer a situações que não admitimos e que contrariam nossos quereres.
Paradoxalmente, nos valemos sem preconceitos e com certa simpatia destes meios para encontrarmos nossos pares ou mesmo amigos.A questão é que para quase todos que usam o meio, mais grave que descobertas de flagrante de traição, baixaria, problemas de divisão de bens e qualquer outro tema, é terminar o relacionamento por mensagem de texto , e-mail ou Facebook.
No Blog Desconetado de 24 de outubro de 2010, a repórter Juliana Cunha, trata do assunto , à partir do livro The Breakup 2.0—Disconnecting over New Media(Desenlace2.0—Desconectando-se através das Novas Mídias) de Ilana Gershon, que tenta entender como acontecem os términos de relacionamento na mídias digitais e por que a troca de status nas redes sociais dói tanto. Como desconectar?
Segundo a pesquisa da professora Ilana Gershon, existe um consenso de que nada substitui o olho no olho quando se trata de fim de relacionamentos, mas as pessoas abrem exceções quando não se trata exatamente de uma casamento ou namoro. O problema é que mesmo quem terminou um relacionamento ao vivo, a internet ainda é um campo minado para gafes, descobertas de traições e outros fatos. Seria adequado anunciar aos quatro ventos na rede que você e o se parzinho terminaram ? Seria adequado esperar algum tempo antes de trocar o status de relacionamento?
No dia 05 de novembro de 20101, debate no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, promovido pela Nokia , com a presença de Xico Sá , Bebel Bertuccelli e Contardo Calligaris , a pergunta que não se calou foi a mesma; “Você já terminou ou já terminaram um relacionamento com você via internet ou por mensagem celular?”
Segundo o psicanalista Contardo Calligaris, tende a considerar esse tipo de despedida virtual com certa simpatia.Em geral, aceitamos que para a maioria é mais fácil encontrar alguém no mundo virtual que no mundo real.Na hora da sedução, os tímidos soltem mais facilmente os dedos no teclado do que a palavra num encontro cara a cara. Virtual ou real o encontro inicial é quase sempre um jogo em que se trata de convencer o outro de que somos alguma coisa que nem nós acreditamos ser.Quem prefere teclar talvez se esconda graças à distância, mas quem prefere falar ao vivo não abre sua alma:apenas sua lábia.
Se aceitamos que o virtual facilite a abordagem e as primeiras trocas, por que não deixaríamos que o virtual facilite também as despedidas?
No começo de uma relação amorosa, o virtual talvez sirva para mentir melhor;no fim de um amor ou relacionamento, ele pode ajudar a dizer a verdade, a reconhecer enfim, que uma relação esta continuando apenas como mentira compartilhada.
A dificuldade de encontrar alguém não é maior do que a dificuldade em se separar quando a relação não vale mais a pena. Os tempos de solidão , durante a procura frustrada de um parceiro ou parceira, são tão longos quanto os tempos de solidão de parceiros que vivem sem paixão, sem amizade e , às vezes , no rancor. A insatisfação de quem procura um amor é esperançosa, enquanto a vida dos que não conseguem se separar é resignada.
Um SMS ou um e-mail de despedida podem surpreender quem os recebe, mas só como a revelação de algo que ele já sabia e, por alguma covardia, não confessava nem a si mesmo: ninguém termina virtualmente um amor que não esteja realmente morto. Às vezes a reação de que recebe a mensagem é de que se o outro aparecesse na minha frente, ele teria que se render ao amor que ele ainda sente por mim(ele não sabe, mas eu sei que ele sente).
Toda separação é , no mínimo a perda de um patrimônio comum de experiências e memórias. A dor dessa perda é frequentemente projetada no outro:digo que não posso ou não ouso me separar por e-mail porque não quero machucar o outro, enquanto, de fato é minha dor que quero evitar – com isso , eternizo o declínio da relação e o sofrimento do casal.
A convivência numa relação morta é um limbo confortável:para ambos, uma espécie de trégua do desejo. A separação apavora com a perspectiva de voltar a desejar.
É bom tentar tudo que de para que uma relação vingue. Quando ela não vinga (mais), é bom ousar se separar. E deveríamos agradecer os parceiros que nos mandam um SMS lacônico e brutal. Pois , desprendendo-se, eles nos libertam e encurtam um processo no qual poderíamos perder anos de vida. O quê você acha do assunto?

Foto:Fabricio Matheus
Fontes:Despedidas Virtuais Contardo Calligaris Folha de São Paulo 11 novembro 20101
Blog Desconectado/Estadao.com.br 

Um comentário:

  1. Minha visão tb é essa: se não agrega, para que tripudiar. Apesar de achar pouco corajoso ou adulto ou respeitoso encerrar virtualmente qualquer coisa, um "adieu" virtual poupa muito suor e lágrimas. Então é questão de assimilar o que os tempos nos impõem.
    Quanto a conhecer pessoas pela net acho que, se como escreve Stendhal não suspeitamos prudentemente - o que vale seguramente também para conhecer alguém pessoalmente-, o ônus será o mesmo do mundo face-a-face. O ser humano é isso sempre, em qualquer meio: um predador que precisa caçar, conquistar e, eventualmente, destruir. A oportunidade é que pode torná-lo mais ousado, confiante e arrasador.
    Assunto muito interessante.

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