segunda-feira, 27 de agosto de 2012

PEQUENOS ENCONTROS ETERNAS RECORDAÇÕES



 “Au fond de chacun de nous, sommeille une groupie. Qui n’a pas rêvé d’être en tête à tête avec sa star préférée?”Y.Reza

"You never know what will be the success of a film. And it's always comfortable to be making another film when you're reading terrible notices for your last film. You can say, 'Well, that's a pity, but I'm already working on another job.' It helps in your living. You see, if you're only making one film a year, or one film every year and a half, it's hard. Because when it's a failure, what do you do? What do you become? You're dead.”P. Noiret

Ignácio Loyola de Brandão escreveu uma bela crônica sobre os 90 anos de Tônia Carrero, no suplemento Caderno 2 do Estadão na sexta 24 de agosto de 2012, sua lembrança de quando a atriz passou por Araraquara e com Paulo Autran eles terminaram a noite num amanhecer comendo pão com manteiga, efemérides...
Como Cabíria  e Loyola,tenho comigo algumas histórias, acreditem ou não. Já estive por alguns instantes com o Al Pacino depois de sua peça , com a Julie Andrews, a eterna Noviça Rebelde depois de Victor ou Victoria. Com o Kevin Spacey no Old Vic, grande ator no teatro e no cinema, mas neurótico, só dava autógrafos com a sua caneta e tinha um segurança que fazia as fotos se vc quisesse. O contrário do Wood Allen, que pôs a mão no meu ombro e me puxou para sua frente.
Uma vez encontrei sozinho em Paraty o Ben Kinsley, logo depois que ele havia ganhado o Oscar de melhor ator como Ghandi e veio ao Brasil filmar Ö quinto macaco”com a Vera Fisher que não teve muita repercussão , enfim, fiquei quase uma hora caminhando ao seu lado na cidade histórica e ele fotografando.
Outra vez, encontrei com o Paulo Autran na praça XV em Ribeirão Preto, sozinho , numa tarde sentado num banco, conversamos, ele viera a cidade apresentar o monologo “O Quadrante”que já tinha assistido e iria rever naquela noite, falamos um pouco e ele me convidou a ficar ali de olhos fechados , escutando a cidade... A noite , depois da peça, contei-lhe que conseguirá assistí-la de olhos fechados e ele sorriu e disse que tinha me saído bem no exercício daquela tarde.
Essas entrelinhas e bordados poderiam se esticar e extender como um elástico de língua e palavras , mas são para a introdução de um outro encontro que lembrei-me ontem e que de certa forma, por mais efêmero que possa parecer, é como se fosse um segredo, ou aquela lembrança que mais temos apego.
Em 2001, fui assistir L’homme du Hasard de Yasmina Reza em Paris com Philippe Noiret e Catherine Rich direção de Frédéric Belier-Garcia, no Théatrê d’Atellier  18 e, um pequeno teatro em Montmartre, perto da Sacré Coeur , numa pracinha, em que todo o entorno parece encantado, o teatro parece de mentira e de brinquedo.
 Nessa época, tinha um grupo de estudos de teatro em São Paulo, sob a batuta da Barbara Heliodora,e uma das colegas que tinha um apartamento em Paris, já tinha assistido, recomendado e inclusive emprestou-me o texto. Eu entendo francês, mas quanto mais informações melhor. Uma vez, fui assistir uma peça de Paul Claudel (irmão de Camille Claudel)no Comedie Française “L’Echange”e não entendi nada, claro que o sentido da peça, que era uma crítica a americanização da França e etc, mas não entendia quase que nenhuma palavra, o melhor foi no intervalo em que um padre francês, fez um tour pelo teatro, com um discurso de que o teatro francês era infinitamente superior ao Inglês  e que as peças de Shakespeare eram irrelevantes se comparadas a Moliere , Corneille e Racine.
Enfim, voltando ao assunto, já conhecia Philippe Noiret dos grandes filmes de Louis Malle,   Ferreri, Mario Monicelli, Rosi e em 2001 , ele já estava consagrado principalmente pelo “Cinema  Paradiso “ de Tornatore e pelo “O Carteiro e o Poeta” de Radford.
Eu já gostava da Yasmina pela peça Arte e desta vez entendi digamos que o bastante .
Depois da peça, com o programa na mão, um certo temor , perguntei se era possível falar com o Monsieur Noiret, sem deixar-me respirar e nem escutar o bien-sûr, já me vi no camarim .
Comecei falando da peça , de sua performance, do Brasil , aquele blá, blá, blá, mas ele foi aos poucos falando mais e eu fui ouvindo e ficando. ..Falou meu nome como em italiano, e daí a música brasileira, claro, da Garota de Ipanema, da Bossa Nova,Tom Jobim,  da Sônia Braga, do Jorge Amado e depois dele. ..Ele sabia que eu era médico e nesta época  eu ainda não era ator. Falou que como todos os homens tinha uma doença no coração e na alma. Eu não quis entrar na questão medica e  era ele que conduzia o assunto.
Enquanto ele falava, eu escutava e ao mesmo tempo assistia a todos os filmes que havia visto com ele e escutava inclusive as músicas. Por fim , ele disse :- Allez. Perguntou-me como chegará ao teatro , respondi de metro e ele disse:- Moi aussi, allez y. E fomos, caminhando pela praça Charles Dullin, descemos a rue de 3 Fréres, até o Boulevard de la Chapelle em direção a estação de metrô Anvers.
Ele sempre falando de tudo, acho que encontrou no desconhecido estrangeiro eu, alguém que lhe ouvia. No metrô, seguimos direções opostas, eu voltava ao Marais onde estava e ele foi na direção do Trocaderó. Quando nos despedimos, foi mais forte que eu, e sem pensar eu sorri e disse em italiano:- Auita mi Alfredo!
Ele riu e respondeu com humor:- A bientôt Totó.
Ficou me na lembrança o seu olhar, o seu sorriso, o nosso momento. Um homem é mais que o seu trabalho, no fundo menos, diferente e igual mortal.
 A bientôt, quer dizer até logo, com uma certeza de que nos reencontraríamos.
Nunca mais o vi. Monsieur Noiret faleceu em 23 de novembro de 2006 , de câncer, com 76 anos.
Felizmente posso revê-lo de tempos em tempos nos filmes. Cinema Paradiso é um dos filmes de minha vida, sempre choro quando assisto. Consigo esquecer que estive com o Alfredo, quer dizer com o ator, só me lembro depois ... aí sim, eu fecho os meus  olhos e ainda consigo escutar claramente, eternizado na minha memória :- A bientôt Totó.



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