“Au fond de chacun de nous, sommeille une
groupie. Qui n’a pas rêvé d’être en tête à tête avec sa star préférée?”Y.Reza
"You never know
what will be the success of a film. And it's always comfortable to be making another
film when you're reading terrible notices for your last film. You can say,
'Well, that's a pity, but I'm already working on another job.' It helps in your
living. You see, if you're only making one film a year, or one film every year
and a half, it's hard. Because when it's a failure, what do you do? What do you
become? You're dead.”P. Noiret
Ignácio Loyola de Brandão escreveu uma bela crônica sobre os
90 anos de Tônia Carrero, no suplemento Caderno 2 do Estadão na sexta 24 de
agosto de 2012, sua lembrança de quando a atriz passou por Araraquara e com
Paulo Autran eles terminaram a noite num amanhecer comendo pão com manteiga,
efemérides...
Como Cabíria e
Loyola,tenho comigo algumas histórias, acreditem ou não. Já estive por alguns
instantes com o Al Pacino depois de sua peça , com a Julie Andrews, a eterna
Noviça Rebelde depois de Victor ou Victoria. Com o Kevin Spacey no Old Vic,
grande ator no teatro e no cinema, mas neurótico, só dava autógrafos com a sua
caneta e tinha um segurança que fazia as fotos se vc quisesse. O contrário do
Wood Allen, que pôs a mão no meu ombro e me puxou para sua frente.
Uma vez encontrei sozinho em Paraty o Ben Kinsley, logo
depois que ele havia ganhado o Oscar de melhor ator como Ghandi e veio ao
Brasil filmar Ö quinto macaco”com a Vera Fisher que não teve muita repercussão
, enfim, fiquei quase uma hora caminhando ao seu lado na cidade histórica e ele
fotografando.
Outra vez, encontrei com o Paulo Autran na praça XV em
Ribeirão Preto, sozinho , numa tarde sentado num banco, conversamos, ele viera
a cidade apresentar o monologo “O Quadrante”que já tinha assistido e iria rever
naquela noite, falamos um pouco e ele me convidou a ficar ali de olhos fechados
, escutando a cidade... A noite , depois da peça, contei-lhe que conseguirá
assistí-la de olhos fechados e ele sorriu e disse que tinha me saído bem no
exercício daquela tarde.
Essas entrelinhas e bordados poderiam se esticar e extender
como um elástico de língua e palavras , mas são para a introdução de um outro
encontro que lembrei-me ontem e que de certa forma, por mais efêmero que possa
parecer, é como se fosse um segredo, ou aquela lembrança que mais temos apego.
Em 2001, fui assistir L’homme du Hasard de Yasmina Reza em
Paris com Philippe Noiret e Catherine Rich direção de Frédéric Belier-Garcia, no
Théatrê d’Atellier 18 e, um pequeno
teatro em Montmartre, perto da Sacré Coeur , numa pracinha, em que todo o
entorno parece encantado, o teatro parece de mentira e de brinquedo.
Nessa época, tinha um
grupo de estudos de teatro em São Paulo, sob a batuta da Barbara Heliodora,e
uma das colegas que tinha um apartamento em Paris, já tinha assistido,
recomendado e inclusive emprestou-me o texto. Eu entendo francês, mas quanto
mais informações melhor. Uma vez, fui assistir uma peça de Paul Claudel (irmão
de Camille Claudel)no Comedie Française “L’Echange”e não entendi nada, claro
que o sentido da peça, que era uma crítica a americanização da França e etc,
mas não entendia quase que nenhuma palavra, o melhor foi no intervalo em que um
padre francês, fez um tour pelo teatro, com um discurso de que o teatro francês
era infinitamente superior ao Inglês e
que as peças de Shakespeare eram irrelevantes se comparadas a Moliere ,
Corneille e Racine.
Enfim, voltando ao assunto, já conhecia Philippe Noiret dos
grandes filmes de Louis Malle, Ferreri, Mario Monicelli, Rosi e em 2001 , ele
já estava consagrado principalmente pelo “Cinema Paradiso “ de Tornatore e pelo “O Carteiro e o Poeta” de Radford.
Eu já gostava da Yasmina pela peça Arte e desta vez entendi
digamos que o bastante .
Depois da peça, com o programa na mão, um certo temor ,
perguntei se era possível falar com o Monsieur Noiret, sem deixar-me respirar e
nem escutar o bien-sûr, já me vi no camarim .
Comecei falando da peça , de sua performance, do Brasil ,
aquele blá, blá, blá, mas ele foi aos poucos falando mais e eu fui ouvindo e ficando. ..Falou meu nome como em italiano, e daí a música brasileira, claro, da Garota de Ipanema, da Bossa Nova,Tom
Jobim, da Sônia Braga, do Jorge Amado e
depois dele. ..Ele sabia que eu era médico e nesta época eu ainda não era ator.
Falou que como todos os homens tinha uma doença no coração e na alma. Eu não
quis entrar na questão medica e era ele
que conduzia o assunto.
Enquanto ele falava, eu escutava e ao mesmo tempo assistia a todos os filmes que havia visto com ele e escutava inclusive as músicas. Por fim , ele disse :- Allez. Perguntou-me como chegará ao teatro , respondi de metro e ele disse:- Moi aussi, allez y. E fomos, caminhando pela praça Charles Dullin, descemos a rue de 3 Fréres, até o Boulevard de la Chapelle em direção a estação de metrô Anvers.
Enquanto ele falava, eu escutava e ao mesmo tempo assistia a todos os filmes que havia visto com ele e escutava inclusive as músicas. Por fim , ele disse :- Allez. Perguntou-me como chegará ao teatro , respondi de metro e ele disse:- Moi aussi, allez y. E fomos, caminhando pela praça Charles Dullin, descemos a rue de 3 Fréres, até o Boulevard de la Chapelle em direção a estação de metrô Anvers.
Ele sempre falando de tudo, acho que encontrou no
desconhecido estrangeiro eu, alguém que lhe ouvia. No metrô, seguimos direções
opostas, eu voltava ao Marais onde estava e ele foi na direção do Trocaderó.
Quando nos despedimos, foi mais forte que eu, e sem pensar eu sorri e disse em
italiano:- Auita mi Alfredo!
Ele riu e respondeu com humor:- A bientôt Totó.
Ficou me na lembrança o seu olhar, o seu sorriso, o nosso
momento. Um homem é mais que o seu trabalho, no fundo menos, diferente e igual
mortal.
A bientôt, quer dizer
até logo, com uma certeza de que nos reencontraríamos.
Nunca mais o vi. Monsieur Noiret faleceu em 23 de novembro
de 2006 , de câncer, com 76 anos.
Felizmente posso revê-lo de tempos em tempos nos filmes.
Cinema Paradiso é um dos filmes de minha vida, sempre choro quando assisto.
Consigo esquecer que estive com o Alfredo, quer dizer com o ator, só me lembro
depois ... aí sim, eu fecho os meus olhos
e ainda consigo escutar claramente, eternizado na minha memória :- A bientôt
Totó.
Esse experiência,sim, é mágica pura. P guardar pra sempre.
ResponderExcluir