domingo, 5 de agosto de 2012

MENINO DEUS





“ Eu  sou apenas um rapaz , latino americano sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e vindo do interior” e assim chegado do interior fui assistir um show do Caetano Veloso:- Uns no Anhembi. O autor da letra que inicio a história estava na plateia e acho que já contei isto por aqui.... As vezes, com a idade a gente repete as histórias ou as escreve e conta de outra maneira.
Mas surgiu no centro do palco uma pequena fumaça,  e o silêncio... de repente uma luz azul e surge o Caetano com o  peito nu, de batom ,um colar azul de Oxóssi e coberto por uma seda azul transparente, mas clara que a seda azul do papel que envolve a maçã. Do azul e da fumaça, coberto de seda blue,  começa a cantar  “Menino Deus”:- “Menino Deus , um corpo azul dourado....”e aquilo foi tudo para mim... uma revelação; eu queria ser aquilo, só aquilo , luz azul, corpo nu e menino Deus...
Dali passaram-se anos, mas o que eu sempre quis  ser e acho que hoje sou é  aquela visão que vislumbrei ali... um nada azul , dourado.
Fiz medicina , teatro, escrevo, hoje faço fotografia e digo que não sei o que quero ser quando crescer... Mas a verdade é que eu sou  aquilo que eu quis ser: - Um menino deus.
A  música do Caetano é a trilha sonora de minha vida, principalmente quando cantada pela Maria Bethânia que a  voz da minha alma.
Caetano que agora faz 70, foi um ídolo, daqueles que inspiram e protege o seu ser... A música foi minha guia e minha mestra.
Uma vez, no fim do mundo, distante do meu país , sem saber quem ainda eu era, numa praia na Grécia, onde se tocava música americana e Madonna, de repente escuto a voz de Maria Bethânia cantando: “Foram me chamar, eu estou aqui o quê que há...” Foi um outro deslumbramento, a pátria e minha língua, ali eu vi que  era brasileiro e falava português.
 Ali onde nasceu a filosofia ,  vi-me de novo na minha terra vermelha, no sul de Goiás , em Itumbiara, onde nasci, cresci e aprendi a começar a me ser, a ser o eu de então.
Ainda não sei quem eu sou , e não saberia me definir, mas já sei parte de mim. Sou um  ser livre, que busca a liberdade de ser, as vezes , pagando-se  com a solidão de existir.
Com os anos, as viagens, amores , desamores, trabalho, suor, vinho, arte... muita arte. Sei que meu caminho ,  e  o que  eu sou de fato é aquilo que eu quis ser quando vi o Caetano cantar na fumaça do gelo seco e coberto com a seda azul.  “Na franja da encosta, côr de laranja, capim rosa-chá..., “Na luz do sol , que a terra traga e traduz” , no “Dom de iludir”, ” nos quereres e estares sempre afim”, na “fonte de mel” , "por mais distante, um errante navegante", "esse papo meu já tá de manhã"... e tantas outras... Com o tempo, tempo, tempo , tempo ...aquele rapaz latino americano , vindo do interior ,  aquele eu hoje, é nada mais , nada menos que um azul menino deus dourado...   

http://youtu.be/A30OX8oYERY

Foto:Fabricio Matheus

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