“ Eu sou apenas um
rapaz , latino americano sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e
vindo do interior” e assim chegado do interior fui assistir um show do Caetano
Veloso:- Uns no Anhembi. O autor da letra que inicio a história estava na
plateia e acho que já contei isto por aqui.... As vezes, com a idade a gente
repete as histórias ou as escreve e conta de outra maneira.
Mas surgiu no centro do palco uma pequena fumaça, e o silêncio... de repente uma luz azul e
surge o Caetano com o peito nu, de batom
,um colar azul de Oxóssi e coberto por uma seda azul transparente, mas clara
que a seda azul do papel que envolve a maçã. Do azul e da fumaça, coberto de
seda blue, começa a cantar “Menino
Deus”:- “Menino Deus , um corpo azul dourado....”e aquilo foi tudo para mim...
uma revelação; eu queria ser aquilo, só aquilo , luz azul, corpo nu e menino
Deus...
Dali passaram-se anos, mas o que eu sempre quis ser e acho que hoje sou é aquela visão que vislumbrei ali... um nada
azul , dourado.
Fiz medicina , teatro, escrevo, hoje faço fotografia e digo
que não sei o que quero ser quando crescer... Mas a verdade é que eu sou aquilo que eu quis ser: - Um menino deus.
A música do Caetano é
a trilha sonora de minha vida, principalmente quando cantada pela Maria
Bethânia que a voz da minha alma.
Caetano que agora faz 70, foi um ídolo, daqueles que
inspiram e protege o seu ser... A música foi minha guia e minha mestra.
Uma vez, no fim do mundo, distante do meu país , sem saber
quem ainda eu era, numa praia na Grécia, onde se tocava música americana e
Madonna, de repente escuto a voz de Maria Bethânia cantando: “Foram me chamar,
eu estou aqui o quê que há...” Foi um outro deslumbramento, a pátria e minha
língua, ali eu vi que era brasileiro e falava português.
Ali onde nasceu a filosofia , vi-me de novo na minha terra vermelha, no sul de Goiás , em Itumbiara, onde nasci, cresci e aprendi a começar a me ser, a ser o eu de então.
Ali onde nasceu a filosofia , vi-me de novo na minha terra vermelha, no sul de Goiás , em Itumbiara, onde nasci, cresci e aprendi a começar a me ser, a ser o eu de então.
Ainda não sei quem eu sou , e não saberia me definir, mas já
sei parte de mim. Sou um ser livre, que
busca a liberdade de ser, as vezes , pagando-se com a solidão de existir.
Com os anos, as viagens, amores , desamores, trabalho, suor,
vinho, arte... muita arte. Sei que meu caminho , e o que eu sou
de fato é aquilo que eu quis ser quando vi o Caetano cantar na fumaça do gelo
seco e coberto com a seda azul. “Na
franja da encosta, côr de laranja, capim rosa-chá..., “Na luz do sol , que a
terra traga e traduz” , no “Dom de iludir”, ” nos quereres e estares sempre
afim”, na “fonte de mel” , "por mais distante, um errante navegante", "esse papo meu já tá de manhã"... e tantas outras... Com o tempo, tempo, tempo , tempo ...aquele rapaz latino americano , vindo do
interior , aquele eu hoje, é nada mais ,
nada menos que um azul menino deus dourado...
http://youtu.be/A30OX8oYERY
Foto:Fabricio Matheus
Isso dava uma peça. Legal!
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