"Um homem sério tem poucas ideias. Um homem de ideias nunca é sério"Paul Valery
Acabo de assistir Arte no teatro Renassaince , texto de
Yasmina Reza, tradução e direção de Emilio de Mello, com os excelentes atores
Vladimir Brichta, Marcelo Flores e Claudio Gabriel.
Felizmente, assisti a primeira montagem do texto dirigida
por Mauro Rasi no Teatro Alfa com Paulo Goulart, Paulo Gorgulho e Pedro Paulo
Rangel, nesta época já fiquei encantando com a dramaturgia inteligente e
instigante da autora francesa, também
atriz.
Tive a felicidade de assistir L’homme du Hazard em Paris com
o Philipe Noiret, ator que admiro
devotamente, das comedias francesas e italianas ao magnifico Cinema Paradiso.
Num teatrinho perto da Sacré Coeur sai conversando com ele até o metro e cada
um seguir seu caminho, mas esta é uma outra história . Depois esta peça foi
dirigida pelo Emilio com o Paulo Goulart e a Nicete Bruno, com talvez melhor
competência , comparada no sentido geral , com a que havia visto em Paris,
infelizmente não sai para o metro com o Paulo Goulart, mas depois de uma sessão
de In on it , fiquei horas conversando com o Emilio, talvez da mesma forma com
que conversei com o Philipe Noiret.
Outras peças de Yasmina foram encenadas no país como “Três
versões da vida” com a Denise Fraga , Marcos Ricca, Ylana Klapan e Mario
Shoemberg dirigida por Elias Andreato, que assisti no mesmo Renassaince.
Recentemente, “Deus da Carnificina” com Debora Evelyn, Julia Lemmertz, Orã Figueiredo e Paulo Betti, dirigida também pelo Emilio de Mello. Peça que consagrou definitivamente a autora pelos quatro cantos do mundo, sendo filmada por Roman Polansky.
Mas "Arte", continua atual e continuará sempre, por que fala do humano e do homem, principal tema do teatro. O texto, assim como os atores e toda a equipe da recente montagem em cartaz fazem um espetáculo vibrante. Há momentos tão intensos que se fosse uma terapia Lacaniana poder-se -ia terminar ali e ponto.
Enfim estou ardendo a alma de alegria de ter assistido... Recomendo, recomendo e recomendo...poderia escrever mais, repetir o já escrito, como a brilhante cena em que o Ivan , personagem do Vladimir Brichta conta seus problemas com as mulheres que o rodeiam, mas paro por aqui e prefiro que vocês eliam a crítica de alguém com mais autoridade , que muito me ensinou e continua a ensinar-me sobre a paixão pelo teatro; claro que com suor , dedicação, trabalho e muito humor.
E talvez quem sabe também sobre a batuta do Emilio, possamos assistir no país as outras peças de Yasmina, como "Discussões depois de um Funeral"de 1987, "A passagem do Inverno"de 1989, "Uma peça Espanhola"de 2004 ou a tão aguardada próxima...
“Tratado sobre amizade
Em
cartaz , “Arte”, o texto que revelou a dramaturga francesa Yasmina Reza, tem uma
nova e brilhante montagem, em tudo e por tudo de tão alta qualidade quanto a
primeira, vista há alguns anos. O texto de Reza, muito bem traduzido por Emilio
de Mello, em delicioso tom de comédia, mostra os abalos que opiniões diversas
sobre um quadro (é bem verdade que um quadro muito especial) podem provocar em
uma amizade que há anos une três homens. O que começa parecendo que provocará
um debate sobre arte contemporânea acaba transformado em briga verbal, e até
física, em torno do que cada um espera do outro como prova de respeito e
amizade.
Falas envolvem a plateia
O problema é que posições estéticas são
muito pessoais, e é com grande habilidade que o conflito vai passando do
racional para o emocional, do quadro para o ego de cada um, das ofensas intelectuais
até para as morais, tudo levando os participantes a comportamentos quase
infantis, de acusações e argumentos primários e tolos. A autora manipula com
brilho a situação, inclusive na superação dos estragos causados pelo conflito,
construindo um texto que diverte mas também agrada à inteligência da
plateia.
A encenação é ótima. O cenário de Aurora dos Campos, com grandes
trainéis brancos por paredes e móveis, que o próprio elenco usa para compor
diferentes ambientes, fica em perfeita harmonia com o tom do texto. Os
figurinos de Marcelo Olinto servem bem os personagens. A luz de Tomás Ribas é
muito boa, tanto em grau de luminosidade quanto na criação de focos
individuais, e a “criação musical” de Marcelo Alonso Neves também tem o tom
justo. A direção de Emilio de Mello é ótima, com o tom dado às falas dirigidas
à plateia convidando-a a fazer parte do que ouve e vê fazer aqueles amigos que
estão ali no palco. Assim envolvida, a plateia entra em total sintonia com o
espetáculo, cuja aparente informalidade completa a criação da famosa “privação
de descrença”, que envolve o espectador em sua “verdade” enquanto dura a
ação.
Vladimir Brichta, Marcelo Flores e Claudio Gabriel formam um elenco
exemplarmente equilibrado, beneficiados que são, para além de seus talentos e
técnicas, pela amizade e companheirismo de que desfrutam na vida real. Com
biotipos diversos e adequados a cada um desses três amigos cuja amizade
repentinamente é posta à prova, os três jovens atores mais o jovem diretor nos
garantem que o teatro brasileiro tem matéria para bom presente e bom
futuro.
”Barbara Heliodora
Arte:
Fabricio Matheus
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