sexta-feira, 17 de agosto de 2012

GLOBALIZAÇÃO SEM PERDER O ENCANTO




"A globalização encurtou as distâncias métricas, aumentando muito mais as distâncias afetivas."
Jaak Bosmans

Hoje, com a globalização exacerbada nos meios de comunicação, não carecemos mais de informação. O que nos falta, é opinião.
Pedro Menzio Cavalheiro

Referente a globalização e arte global. Das duas, uma... O despertamos ou nos consumimos a nós mesmo: ficando deste modo na linha da frente por nome: extinção.
Miguel Westerberg


No final de semana fui conhecer o Shopping Center JK Iguatemi, o novo centro de luxo de SP. Concorrente  ou parente do Iguatemi, visto que pelo jeito o Shopping  Cidade Jardim não deu muito certo.
Pelo menos, além dos assaltos a loja oficial da Rolex, sempre que o visitei  estava vazio.
Já no estacionamento do JK Iguatemi,, senti um estranhamento que se revelou quando adentrei no mesmo. Parecia que estava nos Estados Unidos, no mesmo shopping que visitei em Houston, The Galleria; a cor, os corredores, a disposição das lojas e todo o resto...
Queria comer um macarron pistache da La dureé, mas caminhando pelo shopping tão igual a outros , desisti. 
Na manhã, deste mesmo dia , havia lido a coluna da Danuza Leão , que falava sobre a difícil arte de viajar, e hoje cada vez mais. Como ela, adoro Paris, e ela escreve que estando em Paris não pode visitar a Champs Elysees, devido a horda de turistas na avenida que tornava impraticável flanar pela região. Assim, ela decidiu por uma pequena cidade italiana, pouco conhecida , onde manteve o encanto de apreciar a rotina local , além da comida , bebida, com um  pouco de paz e sentir-se realmente em férias.
Não quis perder o encanto e a memória que é comer um macarron pistache na La Dureé de Paris e ficar olhando a Madeleine, ou o Champs Elysees ,ou estar no quartier Latin perto de Saint Sulpice e do Boulevard Saint –German., certamente teria um outro gosto, por melhor que fosse e mesmo vindo diretamente de Paris.
Antes quando se atravessava o canal da mancha, já se estava em outro mundo. O que se achava em Paris, não se encontrava em Londres e vice-versa.
Meu primeiro  mal estar da civilização e percepção da globalização, foi saindo da Royal Academy of Arts em Londres e caminhando pela Burlington house, nos arredores do Picadilly Circus ,  foi me deparar com uma La dureé ; fiquei olhando a vitrine com aquelas pirâmides de macarrons e para não perder o encantamento , resisti a minha tentação.
Há que se cultivar os segredos,  a memória dos lugares, os sabores, os cheiros. Há que se ter um jardim secreto, onde tudo é mistério  e encanto.
A globalização, certamente trouxe e trará benefícios ao mundo, o mundo ficou mais veloz, as informações, chegam no mesmo instante em qualquer parte do mundo.
Outro dia, recordava na classe de fotografia , que quando retornei de minha primeira viagem a Europa , um fotografo da Caras, pediu-me que trouxesse uns rolos de filmes e fotos para um encarregado da Revista em São Paulo. No envelope, entre fotos de celebridades, havia inúmeras da Lady Di. Os rolos de filmes e fotos seriam publicados na próxima edição da revista no Brasil . No aeroporto de Guarulhos de boina francesa, vieram ao meu encontro, antes dos meus familiares , os repórteres , ou funcionários da revista, ávidos pelas fotos. Minha mãe não entendeu nada, até que lhe explicasse.
Hoje clicamos, e no mesmo instante, nossa foto esta nos quatro cantos do mundo, espalhadas pelas redes sociais da net,  apesar de sê-lo redondo.
Enfim, guardo em mim , meus encantos e segredos. Enquanto não retorno a Paris;  descubro lugares secretos, mesmo em meu bairro, Pinheiros.  Na minha rua ,há o La Folie, que fazem macarrons deliciosos, de milho-verde, abacate, açaí... e outros sabores brasileiros, além dos clássicos  e com a leveza e  maciez de um bom macarrom francês.
Passeando com meu cão Otto, descubro cada vez mais lugares interessantes, como na João Moura, uma loja de jardinagem chamada: - O Jardineiro Fiel, com canteiros de lavandas que exalam magnificos odores  como na Provence.
Tudo é uma questão de escolha e discernimento. Mas devemos nos preservar do tudo igual, do tudo tão parecido, da cópia da cópia da cópia...
Há uma clínica em São Paulo, com várias filiais, que trabalhei, que as vezes , no intervalo entre um exame e outro,  parava recostado , e não sabia qual era o local em que estava. Tinha que pensar, pois todos os corredores tinham a mesma cor, os mesmos quadros e etc...
Assim, aproveito as vantagens da Globalização, sem perder o mistério, o segredo e o encantamento que é a luz, ou a arte de se redescobrir e se descobrir a cada dia. 
Resumo da Ópera, não gostei do novo shopping, perdi meu carro por 15 minutos, pois o L, onde estacionei é subdividido em números, e só marquei a letra.
 Não perdi meu tempo, pois fiquei na livraria da Vila, que mesmo com o padrão Weinfeld , tem alguma coisa  de particular. E acho até o shopping Cidade Jardim mais interessante pelo seu canteiro de Jaboticabeiras, com vista para o Skyline paulista da marginal Pinheiros e a ponte estaiada.
Depois contaram-me que a construtora do novo shopping é americana responsável pela construção de shoppings semelhantes na Flórida e no Texas, foi quando entendi um pouco do meu mal-estar e vi que não estava ficando "crazy".
Assim como parte da Barra no Rio , lembra Miami, hoje o mais novo shopping de São Paulo, poderia ser ou estar, e te faz sentir  nos States.
Espero que o futuro do mundo não seja uma cidade como Las Vegas, fake, com uma paisagem desértica , árida e uma solidão de doer durante o dia, que se transforma num palco de maravilhas e sonhos, onde tudo pode acontecer até que amanheça...
Como dizia o poeta Manoel de Barros, temos que transver o mundo. Repetir , repetir, repetir... até ficar diferente... 


Fotos: Fabricio Matheus







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