sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

RECORDAR É VIVER



"No início, os filhos amam os pais. Depois de um certo tempo, passam a julgá-los. Raramente ou quase nunca os perdoam."Oscar Wilde

"A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias e tristezas da família".Léon Tolstoi



“Toda arte forma de arte está na família” já dizia Lucchino Visconti.Desde a Grécia, o teatro grego, os conflitos e dramas estão na família. Do diretor italiano Rocco e seus irmãos , obra-prima do cinema , cujo grande conflito está no núcleo familiar. Quantos dramaturgos e escritores expurgaram seus demônios expondo seus dramas familiares. Escrever é machucar quem se ama.
Em temporada no Sesc Anchieta o drama “Recordar é Viver” de Hélio Sussekind com direção de Eduardo Tolentino com Suely Franco e o grande ator Sérgio Britto até 27 de fevereiro de 2011 é um grande espetáculo.
Não há como não se identificar com um dos personagens , ou com o drama apresentado da família carioca nos anos 90 , com seus conflitos, cotidianos.
Não há música. O cenário e cenografia de Lola Tolentino passam desapercebidos, é isso é elogio pois o palco é dos atores, a começar por Sérgio Britto, história do teatro. A magnífica entrega de Suely Franco, José Roberto Jardim como o filho trintão derpimido e desempregado,os irmãos Ana Jansen e Camilo Bevilacqua em excelente interpretação e Ana Cecília Junqueira a namorada de Henrique sua única conexão com o mundo externo.
Um ótimo texto , é como diz Sérgio Britto no programa, os personagens dizem ao público alguma coisa que crie interrogações
Apesar de nossos conflitos, nossa história bem ou mal é nossa história. Não podemos escolher nossa família, mas podemos aprender com ela . É o maior aprendizado, é o amor. É saber que fizemos nosso limite, sem culpas. Viver a vida afinal é provar o nosso amor eterno aos pais. Quem é o preferido da mamãe?Quem é o preferido do papai? Eih! Pais, olha quem eu me tornei!Satisfeitos?
Mas provar o amor aos pais, e merecer este amor no final das contas é a grande sabedoria para o nosso encontro, o nosso crescimento;talvez um dos caminhos que devamos escolher para nossa vida independente do que ver a acontecer,  para quê afinal possamos enterrar nossos pais sem culpas, sem remorsos, seja qual for nossa história.
Nos reconhecermos nos nossos genitores é o caminho para a convivência, o convívio pacífico e a expiação da culpa.
É tudo muito simples neste espetáculo, assim como têm sido nos últimos espetáculos dirigidos por Tolentino, ele têm se esmerado em deixar o palco para os atores.
Olhar o passado, é se reconhecer , é saber da sua história. Posso dizer que Recordar é Viver é um grande espetáculo, com atores magnânimos , com atores história, com atores que nos tocam a alma. Suely Franco, Sérgio Britto e todo o elenco nos enche a alma de vida, saímos um pouco mais humanos e tolerantes com nós mesmos, afinal , a vida nada mais é que a construção de um passado, que recordamos e recordamos...Ao recordar, vivemos e vamos vivendo. A vida é tempo...
Toda as vezes que volto ao lar , a casa de meus pais , procuro os álbuns envelhecidos para me reconhecer , e reconhecer a minha história.
Tudo se passa pelo núcleo da família. Estou lendo Omédico das Termas de Arthur Shnitzler, que volta a clinicar numa Terma após a morte, o suicídio da irmã que envelheceu honradamente. Esta semana estreiou O Vencedor, baseado em uma história real dirigido por David Russel, com o Christian Bale que é outro ajuste de contas familiares. Reescrevo este post, pois depois de escrevê-lo, sonhei com minha avó Ana, mãe de meu pai, com o mesmo nome da personagem da Suely Franco, que morreu comigo e que até hoje vive em cada um da família, com a mesma dedicação férrea  e amor que se empenhou para que fossemos alguém de respeito nesta vida. 

PS:”O teatro e eu” de Sérgio Britto, nos ensina não só sobre a arte do ator, mas a arte de ser.Ser talvez nada mais seja que uma construção e crescimento familiar.Um encontro sereno em que o quê queríamos transformar nossos pais, e o quê nossos pais queriam nos transformar, torna-se: - recordar, com a nossa própria construção do nosso eu e a aceitação de nosso eu e nossa família assim como ela é.

Arte :Fabricio Matheus

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