terça-feira, 15 de março de 2011

OS CREDORES



"No fundo, é isso, a solidão: envolvermo-nos no casulo da nossa alma, fazermo-nos crisálida e aguardarmos a metamorfose, porque ela acaba sempre por chegar".August Strindberg

"Ergueu as sombracelhas como se seus olhos perseguissem imagens fugidias do passado..."Arthr Schnitzler

Os Credores , uma tragicomédia naturalista de August Strindberg(1849-1912), escrita em 1888, continua um texto atual. Com uma nova encenação pelo Tapa, com direção de Eduardo Tolentino, têm no elenco afiado e maduro: - Chris Couto que vive a escritora Tekla, mulher moderna e independente que se separou de Gustav , personagem de Sérgio Mastropasqua e se casou com Adolf vivido por José Roberto Jardim. Com cenografia e figurino de Lola Tolentino. Luz e som de Jorge Leal.
O assunto da peça, os relacionamentos e a libertação da mulher, era o assunto da época. Contemporâneo de Strindberg, Ibsen escreveu A Casa de Bonecas em 1897. Inclusive o próprio Strindberg acusou Ibsen de plagiá-lo em sua peça Hedda Gabler de 1890, outra mulher independente.
Dizem que o dramaturgo inspirou-se em sua própria experiência ao escrever a história, ambientada em um hotel em Estocolmo. Strindberg era casado com a atriz filandesa Siri Von Essen, divorciada do barão Carl Gustav Von Wrangel. E como o personagem de Adolf , temia que a esposa votasse a amá-lo. Alguns críticos ressaltam que toda a obra de Srindberg é inspirada em suas vivências. Aliás o autor era plural, escreveu mais de 60 peças e mais de 30 obras de ficcção, viajou bastante, foi telegrafista, jornalista, teosofista, a doutrina que mistura a filosofia da religião com o misticismo, pintor, fotográfo e até alquimista. É por muitos considerado o pai da moderna literatura sueca. E influenciou uma geração de dramaturgos como Tennessee Williams, Edward Albee, Maxim Gorky, John Osborne , Ingmar Bergman e Eugene O’Neal e muitos outros.
Strindberg coloca em cena o homem moderno em conflito com seus valores, ele dizia e sentia que o verdadeiro naturalismo era uma psicológica batalha mental: duas pessoas que se odeiam de imediato e fazem um enorme esforço para dominar o mal que emerge como uma hostilidade quase mental e doentia e o que ele tenta descrever de forma imparcial e objetiva com o desejo de fazer da literatura algo similar a ciência.
As feridas de amor cicatrizam? Você já cobrou de alguém o que de bom e de bem você fez a esse alguém por amá-lo? Alguém já te cobrou por algo que te deu enquanto te amou?É impossível passar pela vida sem esses questionamentos... Ou pelo menos uma vez pensar se este alguém que esta ao seu lado ainda lembra ou pensa em outro?
Os segredos sabidos de outrem tornam mais fácil a conquista. Quantos amigos já trocaram confidências e histórias de amantes, e num outro momento o amigo está com a ex- amante do amigo. Ela por sinal feliz por estar com o homem certo que realiza seus segredos secretos.
 Parece banal assistir hoje a estas discussões , mas Strindberg escreveu e encenou. Até Woody Allen no filme Todos Dizem eu te amo com Julia Roberts usa uma história parecida, créditos de  Strindberg e Bergman.
Quantos amigos influenciaram o outro a deixar o amor de sua vida, pois este era o seu amor. Enfim , é do ser humano a Dúvida, a cobiça de amores, cíúmes  e outros sentimentos. E é exatamente isto que a peça trata, por isso atual.
A peça terá em breve uma nova montagem com um elenco global. Os Credores estão na moda. A encenação no Viga Espaço Cênico, vale a pena não só pelo texto, mas pelo jogo e a entrega do elenco. Tudo é muito simples, quase tudo passa desapercebido: da musica , a luz , figurino e cenário. São os atores em cena que fazem o brilho e a luz das palavras vibrarem em nossa alma.
Quando visitei a Suécia pela primeira vez. Estocolmo , estava em luto pela morte de Bergmann. Sua despedida se fazia no Teatro de Drama. Saí de lá e subi a alameda que conduzia a casa-museu de Strindberg. Fui conhecendo um pouco mais do cotidiano e do mundo deste autor. A sua escrivaninha, com as canetas tinteiro, seu quarto entre outros cômodos.A sala , alguns de seus desenhos e fotos de suas viagens, de algumas montagens, da família e etc... Eu via tudo lentamente, procurando apreender um pouco... . Mas a tristeza da perda daquele que com seus filmes e peças me fez enxergar o mundo de uma outra forma .Assim como, as peças de Strindberg, Ibsen, Shakespeare e tantos grandes...tinha algo de tragi-cômico ou surreal, talvez como a própria vida inexorável à  morte. Explico: parecia surreal , eu nascido no centro do Brasil, ter conhecido tanto Strindberg e Bergman.Mas era o nosso humano mais que humano que nos assemelhava, independente do lugar.Algo que é do homem, da arte e do universo.
Eu ,que quando assistia os filmes de Bergman , tudo me parecia e me era tão distante e tão próximo, que tinha a sensação de que jamais conheceria a Suécia. A Suécia era tão distante ... que hoje no mundo virtual que vivemos é difícil explicar esta sensação.
Mas enfim, Suécia à parte; particularmente, também já tive amigos, que de posse de minhas histórias se aproximaram de meus ex-amores. Com o tempo,  aprendi a doar e não cobrar pelo o quê através do amor eu doei .
Também posso dizer, que quem mais me cobrou, foram os que de certa forma menos me amaram.Pelo menos da forma que eu esperava, apesar de dizerem que eu nunca encontrarei alguém que me amará tanto quanto eles me amaram. Será?

Arte:Fabricio Matheus

Um comentário:

  1. Pena q não vou ver a peça. Texto mto bonito. Eu já fui mais cobradora, hj qse nada, mas ainda tenho um caminho.

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