segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O INVERNO DA LUZ VERMELHA









“Dr.Stockmann:...Eu que hoje sou o homem mais forte desta cidade!....
Sim, não tenho receio em afirmá-lo: Sou hoje um dos homens mais fortes do mundo...
....Ouçam com atenção o que vou lhes dizer: o homem mais forte que há no mundo é o que está mais só....” H.Ibsen do Inimigo do Povo


Coincidências....A primeira vez que fui a Amsterdã, cheguei via Berlim e estava com o cabelo descolorido. Havia passado pelo Itália; Grécia, onde achavam que eu era um distribuidor de drogas pelo meu visual. Em Berlim, nada.... E no trem , na fronteira da Alemanha com a Holanda quando solicitaram meus documentos e passaporte e viram minha identidade de médico sequer pediram para abrir minha mochila.
Cheguei em Amsterdã quase meia-noite e só tinha o endereço do Albergue da Juventude. Fui caminhando da estação , e quando dei por mim estava em pleno bairro vermelho, com suas vitrines e suas prostitutas. O albergue estava lotado ,mais deram-me um colchão e um lugar na sala, pois no dia seguinte teriam vaga. Eu lembrava do Felipe, um amigo, dizendo que de Amsterdã ele só lembrava de Flashes descontínuos e eu adormeci querendo que Amsterdã acontecesse em flashes ....No Albergue conheci um jovem alemão, enfermeiro que raspava o cabelo e uma jovem austríaca que estudava biologia e usava um percing no nariz e dizia que para os europeus Amsterdã significava : No Stress at all! Dos space cakes e etc aos moinhos e tudo mais comigo aconteceu junto com meus companheiros, até eu pegar um ônibus para Londres , meu próximo destino e ainda em Amsterdã , lembrá-lá só de flashes.... Que até hoje os lembro olhando minha foto com a cabelo parecido com o da Denise Stoklos.
Esta semana assisti a uma série de filme sueco:” Os homens que não amavam as mulheres “, seguido da segunda parte “A garota que brincava com fogo” cuja protagonista usa um percing no nariz. Muito bom, histórias, intrigas e solidão... Coincidências....
Terminei a semana no teatro FAAP assistindo a peça O Inverno da Luz vermelha, do americano Adam Rapp , dirigida pela Monique Gardenberg que para quem assistiu “Os Sete afluentes do Rio Ota” dispensam as palavras. Os atores: André Frateschi, Marjorie Estiano e Rafael Primot, jovens atores , com uma doação e abraçando os personagens com uma verdade que só no teatro. André e Marjorie também são músicos.
Adam Rapp é um jovem escritor americano de peças e romances , diretor de teatro e cinema e músico, artista múltiplo. A peça O Inverno da Luz vermelha foi escrita em 2005, o quê inicialmente parece que vai ser mais uma história bobinha de adolescentes perdidos, é conduzida com maestria pelo autor que com suas palavras disseca a emoção humana com uma escrita sensível e diálogos precisos, cortantes e atuais com metalinguagens e metáforas. A tradução de Eduardo Muniz e Ricardo Ventura é de tirar o chapéu,primorosa.
Assim, o herói romântico Matheus, formado em letras , amante de Machado, Rimbaud e Camus, dividido entre a escrita de roteiros para cinema e/ ou teatro, onde mistura a sua vida e nos conduz por uma teia intrigante com seu amigo Davi e a prostituta Cristine, que Davi arruma no bairro da Luz vermelha para tirar Matheus de um celibato depressivo.
A primeira parte se passa em Amsterdã. A segunda parte, talvez numa kitnete da praça Roosevelt, não importa. Onde Matheus nos mostra , como a experiência de uma noite transformou as suas vidas de maneiras diferentes.
O cenário é de Daniela Thomas, sem comentários, talvez inspirado em Dogville do Lars Von Tries ,isto é o de menos, funciona muito bem. A iluminação do Maneco Quinderé é uma aula de pintura e cores. O figurino do Cássio Brasil, um ponto a mais...Enfim, um grande time, uma família, que às vezes , acontece no teatro, e o resultado é uma Grande peça.
Ainda agora escrevendo, revivo quente a emoção que senti e lembranças que a peça despertou em mim .C’est genial e imperdível.
Coincidências , ou não, um de meus nomes é Matheus.

Foto1:André Gardenberg

Nenhum comentário:

Postar um comentário