terça-feira, 3 de agosto de 2010

CLÁSSICO:CORINTHIAS X PALMEIRAS


Depois que terminei de passar o protetor solar fator 60 , olhei-me no espelho e estava “too much” para um estádio de futebol. Tirei o Cartier, a aliança de prata da Tiffany’s e fiquei somente com o boné D&G.
Somos vizinhos e moramos nos arredores da Capote e Alves Guimarães e marcamos de nos encontrar no mêtro Clínicas para irmos ao Pacaembú. Ele já estava lá e nos cumprimentamos como “manos” encostando primeiro o dorso da mão fechada e depois a mão aberta em palma.
E aí? De quanto vamos ganhar? Fui perguntando otimista e mal o deixando falar , já respondi:- 2 x0. Ele disse: 1 x0 .
Na fila do estádio, às três e pouco de uma tarde ensolarada , eu suava e exalava meu perfume francês.Às vezes , pensava comigo mesmo : O quê eu estava fazendo ali? Mas eu estava feliz. Dessa vez ele falou de sua mina , do curso de Administração. Falamos de cinema. Ele estava louco para assistir Salt com a Angelina Jolie.Eu estava mais interessado na animação japonesa Ponyo, ou no documentário” Uma noite em 67” e quase disse que adoro o Brad Pitt.
Sentamos na arquibancada com a torcida. No estádio parecia que tinha mais alviverdes, e realmente tinha. De vez em quando encostávamos nossas pernas nuas.Noutras, nossos ante-braços nus.
Têm dias que eu me sinto um merda. Depois de 12 horas de trabalho, rotinas... baixa um super-ego que reclama e me acha um fracasso. No momento seguinte; talvez , o último paciente , uma criança, e faço o diagnóstico de apendicite e isto me alivia a consciência de talvez estar no lugar e na hora certa.E de não ser tão fraco assim, ou tão sem coragem. Medos.... Um vazio , que naquele momento estava preenchido pela presença de meu novo amigo, por quem eu tinha uma queda abissal, e isso bastava . Este singelo momento de nada e um pouco de alegria, quebrava a mesmice do meu dia- a- dia.Além disso a pletora de alegria do estádio de futebol é contagiante.No mínimo esta experiência ,resultaria num estudo sociológico das torcidas num clássico de domingo e era muito melhor que ficar em casa lendo ou assistindo o Faustão.
Quando o timão entrou no estádio foi saudado com bexigas pretas pelos presentes no tobogã do estádio. A seguir, o Palmeiras entra com um linda festa dos torcedores, que fizeram um mosaico com a taça da Libertadores em verde.
Bola rolando no campo, tensão ou tesão: Lá e cá.... Às vezes nos olhávamos...o timão ía bem e logo aos 21 minutos numa jogada de Iarley para Bruno César que cruzou para o Jorge Henrique marcar e explodir a torcida . Pulei com os pulsos fechados, gritei e segurei firme nos ante-braços dele, quase nos abraçamos...
Aí meu eu racional, me diz rapidamente, que ele é mais jovem. Que estou perdendo o meu tempo. Que eu sou um puta de um carente . Carente prá dedéu e etc.. . E eu mando a razão à merda enquanto termino de gritar : -goooollll....
O Palmeiras reagiu e empatou aos 33 minutos com gol de Edinho, sufocando a nossa torcida e a nós mesmos. Nos olhamos decepcionados, novamente raspo de leve na sua perna. E não quero pensar em nada mais...Sinto uma felicidade quase infantil, boba mesmo, e isto basta.
As chances de gol do segundo tempo não se realizaram e o tempo passou rápido e terminou 1x1. Nem Adilson, nem Felipão. E ainda custou a liderança do timão, agora em segundo, atrás do Fluminense.
Subimos em direção a Dr. Arnaldo com o sabor agri-doce do empate. Mas não paramos de conversar. Será um bom sinal?Pelo menos temos papo.... Dividimos uma cerveja na esquina da Capote com a Teodoro, mas ele tinha que encontrar sua mina . Não marcamos nada, ficamos de nos ver na academia.
Eu terminei descendo o resto da Teodoro sozinho. Fiquei pensando se tinha perdido , ou empatado o jogo. Ria sozinho, cabaleante... Será efeito da cerveja? Mas eu quase não bebi nada!E a resposta vêm rápida de encontro ao meu sorriso só, como uma bola no gol. Foi a de que eu simplesmente vivi...

Arte:Fabricio Matheus

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