Para Conor O'Byrne, Fauzi Arap, Mario Bortolotto,Bete Dorgam,
Rubens Caribé, Marta Martins, Klecius Borges, João Hannuch, Andre Maldonado e todos os meus amigos e minha familia.
“Se as portas da
percepção estivessem limpas, tudo se mostraria ao homem tal como é: - infinito
...”
Ouvi do Rabino Nilton Bonder a seguinte história Zen:
Duas ondas corriam para a areia, uma grande e outra pequena.
A onda pequena se divertia, sorria, achava –se transparente e gozava do brilho
do sol em suas espumas efêmeras. A onda grande olhava com desdém a pequena e
não entendia a graça da companheira, e ficou tão incomodada que perguntou:-
Qual é a graça , se você vai se acabar na areia?
A onda pequena, sem se abalar e continuando seu caminho rumo
a areia, disse:
Talvez não haja graça alguma, mas você saberá quando
perceber que você não é onda , e que somos somente água...
Como já escrevi antes, talvez tenha feito medicina por não
se conformar com a morte, que é o mais certo da vida. Por não se conformar com
um Deus que cria e destroí. Ou , uma força que cria e destrói, é que desta
força, exista ela ou não, eu sou refém... Eu não pedi para nascer, eu nasci. Eu
não quero morrer, e vou morrer.... Seria cômico se não fosse trágico, é trágico
e cômico.
Enfim, eu nasci, eu sou , eu fiz , eu construí , eu, eu,
eu.... e me tornei especial...
Com uma criação ocidental, em que duas partes se encontram
em amor e mutualidade se elas estão separadas.
Em que nossa individualidade se torna a fonte de nossa dignidade. Mais
ainda, é em nossa individualidade que possibilitamos nossa habilidade de amar,
de agirmos com compaixão e assumirmos responsabilidade por nosso destino.
Também descobri a ilusão da separação, responsável pelos
efeitos do Medo, Morte e Sofrimento.
Assim, uma tristeza, uma angústia,
o medo se abateu sobre mim, e talvez a morte seria a melhor solução para
o fim destes tormentos.
Foi quando eu- onda,
vislumbrei que era mais que onda, ou nem onda era , eu era água....
Como dizem os budistas , eu resolvi procurar o caminho que
leva à cessação do sofrimento.
Eu li e fui em busca de mestres nas diversas religiões, no
budismo , xamanismo, espiritismo, judaísmo, catolicismo, umbanda, drogas lisérgicas, Daime, no teatro e nas artes...
Fui ler e ouvir os mestres.
Para ser água , eu tive de deixar de ser eu. A coisa mais material é o eu mesmo. Na
verdade eu não sou especial, ninguém o é. Percebi que o meu mundo é a minha
mente. O mundo do ser humano é a mente,
se você transa e pensa na conta bancária , você está no banco e não na cama.
E cada vez que eu deixava de ser eu ,deixava de me sentir
especial , comecei uma conexão entre a
consciência do meu eu e o todo. Eu percebi que sou único, e isso me deu uma qualidade de grandeza
imensamente maior que ser especial, isso me deu um impulso, uma chama de vida,
uma força criativa da vida que me curou
e me transformou e está em todo ser humano. O impulso evolutivo vive em você,
por você e através de você.
Eu que estava protegido e aprisionado num aquário à beira-mar , pulei no oceano com todos os
seus perigos, com outros peixes mais velozes, mais bonitos e uma infinidade de
adversidades , mas que me libertaram, quando passei a fazer parte do todo . E
deixando o aquário , na vastidão do oceano em que me encontro começo aos poucos
a contar a minha história.
O rabino contou uma outra história :
Um rabino observava duas crianças construindo um lindo
castelo na areia. Ele se maravilhava com a perfeição de tal construção e nunca
virá antes crianças na areia construindo castelo tão belo. De repente , uma
onda , do nada reduz o castelo primoroso a condição de areia. .. O rabino
lamenta a sorte das pobres crianças que não mereciam tamanha desgraça quando se
apercebe que as crianças estão de mãos dadas e morrendo de rir... Sem se abalar
com a bagunça que a súbita onda causou, elas começaram a construir um novo
castelo...
Assim, o sentido da vida é o vínculo, a GRAÇA, a capacidade de engajar-se com a vida como
ela é, sem querer que ela seja diferente do que é.
Comecei o vínculo com meu cachorro, o Otto, e estou
progredindo. Eu que queria morrer no ano passado, neste final de semana quase chorei de ver meu
sobrinho correr e chutar a bola , de começar a falar gol. De cantar parabéns para você para a
filha do meu primo , cercado de minha
família.
Estou tentando cada vez mais servir, e me enchendo de graça,
como Maria a mais cheia de graça, a mãe judia que viu seu filho ser morto e
permaneceu serena.
Estou sendo cada vez menos eu , cada vez mais único e
precisando de menos, cada vez menos onda e mais água. Cada vez mais gota e cada vez mais oceano...
Termino como o Rabino Nilton Bonder com uma poesia de
Clarice Lispector que deve ser lida de cima para baixo e de baixo para cima e
cheia de graça.
Não te amo mais
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como
sempre te quis
Tenho certeza que
Nada foi em vão
Sinto dentro de mim que
Você não significa
nada
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor
Sinto cada vez mais
que
Já te esqueci
E jamais usarei a frase
EU TE AMO
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais
Leituras:
Mare Nostrum Fauzi Arap
As portas da percepção Aldous Huxley
Luz no Caminho Mabel Collins
Coragem para seguir em frente Lama Michel Rinponche
Memórias , Sonhos , Reflexões C.G. Jung
www.materialistasanonimos.org
Que onda! Esqueça a aspereza da areia e mire no brilho do sol!
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