“O mistério independe do tempo, porém a forma daquilo que
não depende do tempo é o “agora”e o “aqui”.”Thomas Mann
"O céu-da-boca de Krishna esconde todo o universo..."dp
"O céu-da-boca de Krishna esconde todo o universo..."dp
Isto aconteceu recentemente, entre 2012 e 2013. Num lapso de
segundo, fechei os olhos e sonhei...
Estava no umbigo do mundo, ali , onde se acredita, ter sido
o Éden ou Atlântida. É muito fundo o poço
do passado, ali algures no sul da Babilônia, onde a terra
se liga ao céu. No profundo, ligado às memórias que nossa alma conserva do
jardim da felicidade. Donde, saía uma corrente para regar este lugar, o jardim,
e daí se dividia em quatro águas universais. Eu escolhi deixar-me levar pelo
Gihon, o Nilo.
No entardecer, cortando o Egito, os templos, pirâmides ,
Esfinge de Gizé... O Saara de um lado, caminhei até a proa do barco que me
encontrava, ouvindo “Um bel di vedremo” e senti-me o rei do mundo. Minhas mãos
transformaram o que eu tocava em lápis-lazuli , pûs a coroa de Osiris e segurei
o cedro de Isis e no mesmo instante, o meu rio agora era o Pison; o Ganges, o
rio sagrado que contorna quase toda a Índia.
Estava num barquinho, depois de ter dormido ainda com os
sons do ritual do fogo, aguardando o nascer do sol que foi o mais lindo que
senti na vida.
De volta para casa, fui estudar psicanálise para entender o
sentido da vida e compreender o homem e eu.
Numa noite, ao estacionar o meu barco, ele foi invadido por
dois tigres de Bengala que queriam me roubar. Eu contava e ninguém acreditava,
então inventei que fui sequestrado por dois marginais. Estava ouvindo mantra,
quando fui abordado por um deles. Tudo foi muito rápido, como isso agora que
estou sonhando. Tentei fugir, lutei com eles, mas estava mais preocupado com
o óculos Gucci comprado na Big Apple e
com o Rolex. Até levar uma coronhada e ver meu sangue jorrar... e ver minha
morte...
Eles passearam pela cidade, tentavam saber quem eu era... nem eu mesmo sei...E comecei a falar de Deus. Agora, eu queria a minha vida e mais ainda viver... Eles saíram da cidade , e depois de
quilômetros, deixaram-me na escuridão do nada.
Sai correndo anestesiado pela estrada até ver um ponto de
luz...Até enxergar a luz.
Muitos me ajudaram,
com uma cordialidade infinita e eu só voltei a mim , depois da manifestação da
força de Shiva. Meditando nu defronte ao espelho, o velho eu se queimou como
uma fogueira e a fênix alçou voo.
Agora na Jordânia, numa noite no deserto de Wadi-rum, longe
e perto do Eufrates, saí descalço e quase nu. Depois de um pôr-do-sol, a lua
cheia, fez-se inteira, e minha sombra era maior que se houvesse sol, foi a lua
mais linda que senti. O céu com toda a claridade, não escondia as estrelas e
novamente senti o mistério. Entendi que
fazia parte de algo que era maior que eu mesmo e ao mesmo tempo era tão pequeno
como o grão de areia que pisava.
No Tigre, eu acreditei no amor. Na metáfora de Platão, que
acreditava ser o umbigo do mundo, o local de onde saíam quatro serpentes. Na
quarta , eu fui picada por todas elas. E
no amor que eu cri, fui por ele jogado numa queda vertiginosa de volta ao poço
escuro. Meus sonhos, ilusões , planos de ano-novo juntos em Sidney e um passado
construído, tudo foi se quebrando.Minha alegria esvaiu-se, com outros
sentimentos que me faziam forte e quanto
mais eu caía, mais triste e fraco eu ficava. O tigre foi-se , e cheguei a
pensar que fosse o fim. Tudo rodava como uma vertigem louca, como um soco
de uma onda de um Tsunami não esperado. E de repente, o fundo, a escuridão e a
luz.
Quando dei por mim, agora, não estava longe, estava mais
perto do que pensava; à beira do Rio
Paranaíba que banha minha cidade natal :- Itumbiara, que em tupi-guarani
significa o caminho da cachoeira. Tinha descido a minha rua com o meu
cachorro... Eu era o mesmo, e ao mesmo tempo outro, isto é próprio do tempo...
O Otto me mostrava como cão, que não importa o lugar , importa é estar junto do
seu dono, em outras palavras, importa é estar
junto daqueles que amamos. Sentei perto do rio, trouxe o Otto para perto e vi meu reflexo nas águas. No meio de tantas águas, na água
mais perto do umbigo, eu me vi só...
Minha solidão não tirava minha crença em outros amores, ou
minha esperança. Só revelava-me o quê de
certa forma eu já sabia, nascemos e morremos só. Todo o resto da história cabe
a nós escrevê-la, sonhá-la... realizá-la.
Quando abri os olhos,
os fogos de artifícios já coloriam e clareavam o céu. Uma lágrima caíu na taça
com champagne que segurava. Bebi, mas nem senti o gosto de sal, só o frescor do
espumante . Novamente compreendi o mistério e sorri com alegria, esperança ...a dor e a delícia de ser quem eu
sou.
PS:Se você não entendeu, nem eu!Assista “A história de Pi”
do diretor Ang Lee. Paz e Amor e Feliz 2013.
Foto: Fabricio Matheus
Arte: Fabricio Matheus
Foto: Fabricio Matheus
Arte: Fabricio Matheus
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